O mandato de à frente da PGR (Procuradoria-Geral da República) termina só em setembro, mas a disputa por sua sucessão já começa a se acentuar no MPF (Ministério Público Federal). Ao menos três membros já se dispuseram a ocupar o cargo pelo próximo biênio, entre eles, um procurador regional com vasta experiência na PRMS (Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul).

Blal Dalloul atuou em de março de 1997 a dezembro de 2010 e foi Procurador-Chefe por sucessivos mandatos, distribuídos de 1997 a 2003 e, depois, de 2005 a 2010. Secretário-Geral durante a gestão do ex-PGR Rodrigo Janot – que antecedeu Raquel Dodge –, ele atuou em diversos processos envolvendo organizações criminosas no Estado, com ramificações internacionais.

Com experiência na área criminal, sua passagem por MS também é marcada pela atuação em casos envolvendo questões relativas a Penitenciária Federal de Campo Grande, inaugurada em 2006, e casos de grande repercussão que resultaram na prisão de alguns líderes de organizações criminosas, como João Arcanjo Ribeiro, Fernandinho Beira-Mar, além do mega-traficante colombiano Juan Carlos Abadía.

Procurador Regional Eleitoral de 2003 a 2005, Blal Dalloul também acumula trabalhos na área de Direitos Humanos, relacionados aos direitos da pessoa com deficiência.

Em 2010, depois de 34 anos de carreira em Mato Grosso do Sul – sendo 11 divididos entre as funções de assessor jurídico e coordenador jurídico e 23 como membro –, ele foi promovido a Procurador Regional da República da 1ª Região, em Brasília (DF), onde permaneceu até 2013, quando assumiu a função de Secretário-Geral do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) pelo triênio 2013/2016.

De junho de 2016 a setembro de 2017, ele assumiu a Secretaria-Geral do MPU (Ministério Público da União) – que engloba os Ministérios Públicos Federal, Militar, do Trabalho e do Distrito Federal e Territórios. Após 15 meses, foi removido a Procuradoria Regional da República no , onde atua em Turmas Especializadas do TFR2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) em casos envolvendo organizações criminosas.

Mais transparência e respeito na PGR

Em entrevista exclusiva ao Jornal Midiamax, Blal Dalloul – que agora atua em processos da Operação Lava Jato com destaque ao caso do ex-governador Antony Garotinho e em questões relativas à Segurança Pública do Rio de Janeiro – fez uma avaliação do mandato de Raquel Dodge, e elencou algumas ressalvas.

“Doutora Raquel é uma pessoa brilhante tecnicamente, temos uma gestão difícil em relação à situação orçamentária, porque o próprio país está numa situação difícil, mas estou pregando na minha campanha diálogo e transparência, respeito, coisas que na atual gestão, creio que poderiam ser mais efetivos”, pontua.

Sem prejuízo à figura de Raquel Dodge, garante, ele crê que a cúpula da PGR ainda falharia um pouco no que tange ao respeito. “A gestão poderia ser muito melhor. O que eu avalio é que precisamos melhorar e tenho certeza que podemos. Nosso trabalho deve ser feito de forma profissional, técnica, mas humanista também. Acho que falta isso um pouco, está muito disperso e tem a ver com o modelo de gestão”, avalia.

Para Blal, a cúpula da PGR deve ser mais humanitária para que o MPF se fortaleça, e desta forma, a sociedade sinta a diferença. “As pessoas que estão na dita cúpula, PGR e suas equipes, precisam realmente humanizar para que o MPF fique mais agrupado, e agrupado fique forte, e forte fique estável, o que certamente vai trazer benefícios para a sociedade”, pontua.

Procurador de MS disputa sucessão de Raquel Dodge na PGR
Procurador Regional quer MPF mais transparente e humanizado (Foto: Divulgação)

Ele também frisou as peculiaridades de Mato Grosso do Sul e como drogas e armas que entram no país por nossas fronteiras acabam entranhando-se por outros estados. “Mato Grosso do Sul ainda é a porta de entrada de substâncias entorpecentes e tráfico de armas. Quando atuei na área criminal, MS era responsável pela apreensão de 60% das drogas que eram importadas ao Brasil”.

Blal também destaca a integração com outras instituições para ‘sufocar’ o crime organizado em Mato Grosso do Sul e o que lhe fez candidatar-se à sucessão de Dodge. “A Polícia Federal faz um trabalho espetacular no Estado, sempre integrada com MPF, essa é uma das bandeiras que eu defendo. O MPF além de ser atuante, tem que ter sentido de colaboração. Temos que colaborar com outras instituições e precisamos disso para fazer o melhor que nós podemos. O combate ao crime organizado é fundamental, corrupção, defesa dos direitos fundamentais, MPF tem uma série de atribuições que, inclusive, me fazem ser candidato a PGR”, pontua

Lista tríplice

Qualquer procurador do MPF, atue ele na primeira, segunda ou instância especial, pode candidatar-se ao cargo de Procurador-Geral da República. A eleição fica a cargo da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) e cerca de 1,3 mil membros estão aptos a votar.

A lista tríplice que é enviada ao Presidente da República é elaborada a partir daí e engloba os três candidatos mais votados nessa eleição. Com a lista em mãos, caberá ao presidente (PSL) indicar um nome ao cargo. No entanto, Bolsonaro não precisa, necessariamente, aderir à lista, mas essa tem sido a tradição desde 2003.

O escolhido por ele ocupará o cargo por dois anos, mas, antes de ocupar a cadeira de PGR, passará por sabatina no Senado Federal. Além de Blal, já oficializaram candidatura os subprocuradores-gerais Luiza Cristina Frischeinsten e Mário Bonsaglia. A candidatura de Raquel Dodge, no entanto, não é descartada.

A atual PGR tem direito a concorrer a mais um mandato, mas depois de denunciar Jair Bolsonaro pelo crime de racismo, que acabou arquivado, perdeu fôlego – apesar de alas do Centrão serem simpáticos à sua reeleição pela discrição de sua gestão.