Em Porto Murtinho, estrada só é boa perto da fazenda da família de João Amorim

Nas viagens por várias estradas precárias de Porto Murtinho, usadas para escoamento de gado ou para o transporte de estudantes, a reportagem do Midiamax não encontrou, nem tomou conhecimento, de nenhum tipo de obra de recuperação, inclusive de pontes. Ao contrário, só reclamação.

Coincidentemente, a exceção só ocorreu no último dia 25, quando a reportagem foi informada da presença de caminhões basculantes estacionados próximos à junção da antiga estrada Porto Murtinho – Bonito e a antiga Estrada do Trecho, ambas de terra.

Segundo as denúncias de produtores locais, os caminhões com placas do governo do Estado estavam cedidos para uma empreiteira de Bela Vista, cujo proprietário é conhecido na região como “Gão”. Eles aguardavam a chegada de máquinas pesadas para dar continuidade à restauração da estrada.

Voltando ao lugar no dia 27 pela manhã, a reportagem encontrou as máquinas trabalhando num trecho acima, restaurando a velha estrada de terra que é usada para escoamento de gado das fazendas locais.

Uma das grandes fazendas beneficiadas diretamente pela obra é a Areias, que pertence a um consórcio formado, na maioria, por parentes de João Krampe Amorim dos Santos.

Nas obras trabalhavam duas máquinas pesadas e cinco caminhões basculantes, alguns com chapa oficial do Governo do Estado e adesivo colado nas portas onde se lê “Pro-Vias”. Esse programa é destinado à restauração permanente de estradas do MS. Em trechos da obra, não se trata, apenas, de nivelamento da pista. A estrada está sendo aterrada, aplainada e depois compactada.

Informações recolhidas junto aos pecuaristas afirmam que o lado posterior à entrada da fazenda Areias, em direção a Bonito, já passou por obras. Na mesma situação está outra fazenda que, segundo os mesmos produtores rurais, também seria da família Amorim. É a fazenda Jacaré de Chifre, que fica na atual estrada estadual Murtinho – Bonito. De fato, a reportagem constatou algumas pontes de madeira recém reformadas depois de cruzar a entrada da “Jacaré de Chifre”.

Empreiteiro já foi investigado como caixa de campanha

Conhecido empreiteiro de Campo Grande, dono da Proteco, Amorim foi investigado pelo Ministério Público Estadual e a Polícia Federal como caixa de campanha de , em duas ocasiões diferentes, uma na eleição para o segundo mandato à prefeitura de Campo Grande, e outra para na reeleição do governador.

Na prefeitura, a investigação se centrou em empresas que supostamente faziam um “caixa dois” com a finalidade de alavancar recursos para cobrir gastos eleitorais de Puccinelli.

Uma delas, chamada MBM, em nome da ex-mulher Marinês Bertagnolli e parentes, segundo as denúcnias, vencia licitações depois denunciadas como direcionadas. Quem revelou os bastidores da trama foi a prórpia ex-mulher de Amorim, em carta registrada em cartório de São Paulo.

Com essa empresa, atuavam mais duas: a AS e a Engecap. O caso teve grande repercussão porque a Engecap usou nomes de garis que, como laranjas, desconheciam a manipulação.

Na denúncia do MPE, por fraudes em licitação, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa figuravam os nomes de André Puccinelli, Edson Girotto (então secretário de Obras de Campo Grande) e um sócio italiano de nome Eolo Ferrari.

Contra Amorim, houve denúncia de sonegação fiscal e falsificação de contrato social. Mauro Cavalli, hoje um dos maiores pecuaristas do MS, à época chefe do setor de licitações da prefeitura, também foi denunciado.

Ministério Público Federal e Procuradoria da República deram andamento às denúncias

Até hoje, o governador responde dois processos no STJ sobre as denúncias, a APn 664 e 665. Os processos estão com a ministra do STJ Nanci Andrighi, depois de serem transformados em ações penais, no começo do ano. O prazo de prescrição das acusações contra o governador está suspenso até que o governador deixe o cargo porque, por enquanto, O STJ encontra-se impedido de dar continuidade ao processo, sem autorização formal da Assembléia Legislativa.

Mesma denúncia apareceu na Operação Uragano

No meio da tramitação desse primeiro caso, surgiu uma segunda investigação envolvendo o empreiteiro, depois das gravações da Operação Uragano, feitas pelo jornalista Eleandro Passaia. Um trecho revelou que o empreiteiro continuava como caixa de Puccinelli, fazendo pagamentos no escritório da Proteco, no Edifício Quinta Avenida, em Campo Grande, o mesmo da antiga MBM.

Na gravação, Passaia reproduziu uma fala do ex-secretário adjunto da prefeitura de Dourados, Dilson Deguti:

“Rapaz, quando eu precisei de dinheiro do André Puccinelli, ele mandou falar com esse João Amorim, que ele disse que fica no nono andar”.

Pecuaristas indignados com a não aplicação do Fundersul para toda a região

Segundo cálculos do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Porto Murtinho, Italício Coelho, o município movimenta cerca de 500 mil cabeças de gado por ano, o que resulta na média de R$ 2.8 milhões pagos ao Fundersul. “Mas em como as estradas estão muito precárias, nós deixamos essa pergunta no ar: para onde está indo o dinheiro? A gente não sabe, não há transparência”, afirma ele.

De motoristas ouvidos pela reportagem, que conhecem as estradas como a palma da mão, só queixas. “Pontes caindo”, “eixo cardam quebrado”, “bois machucados de tanto bater na lataria do caminhão”, “gado que morre no caminho”ou ” tá tudo esburacado” foram as expressões corriqueiras.

Além disso, a reportagem de ontem mostrou a situação dos estudantes de uma comunidade rural, que diariamente viajam quase seis horas para ir e voltar da escola, no centro da cidade. A estrada estadual que percorrem não ajudam muito.