As primeiras eleitas: o pioneirismo de quem abriu caminho para as mulheres na política em MS

Levantamento de eleições do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral) mostram as primeiras representantes femininas eleitas na política institucional em MS

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(Madu Livramento, Midiamax)

Protagonistas em diversas esferas da sociedade, as mulheres seguem há anos lutando para conquistar o seu espaço na política predominantemente masculina historicamente. A participação delas na política tem crescido a cada ano e isso tem se refletido nas urnas nas últimas eleições não só em Mato Grosso do Sul, mas em todo país. 

Recente levantamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostrou que o número de candidatas a cargos públicos cresceu no Brasil, com destaque aos cargos de vice-prefeitas — com 10 nos cargos ocupados em MS.

Hoje, as mulheres são 52% do eleitorado em Mato Grosso do Sul, mas ainda ocupam poucos cargos, comparados aos políticos homens. Atualmente, MS conta com sete prefeitas comandando municípios, três deputadas estaduais, uma deputada federal e duas senadoras. O caminho percorrido até aqui não foi apenas de flores, mas de duros e longos passos desde as primeiras eleições diretas em 1982, até o último pleito, de 2022.

Esta é a 6ª reportagem especial de uma série de matérias em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira (8). Quem foram as primeiras mulheres eleitas em Mato Grosso do Sul?

As primeiras prefeitas

Neuza Paulino Maia foi uma das 2 primeiras prefeitas de MS | (divulgação)

Nas eleições diretas de 1982 culminaram em eleger as primeiras eleitas em Mato Grosso do Sul. Em um total de 4.103 municípios no Brasil naquele ano, foram eleitas 60 mulheres como prefeitas, duas delas em MS: Neuza Paulino Maia e Marieta Pereira de Souza abriam caminho para que mais mulheres almejassem concorrer para ocupar um cargo na política institucional.

Em Brasilândia, cidade distante a 297 km de Campo Grande, Neuza Paulino Maia foi eleita prefeita no pleito geral de 1982 com 1.740 votos, deixando para trás nas urnas o adversário Domingos Cristovão Ribeiro, que somou 1.025 votos.

Em 1992, conforme informações do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral), Neuza foi eleita novamente com 2.722 votos enquanto a adversária na urnas, também mulher, Sandra Aparecida Louzada da Costa — eleita vereadora em eleição anterior — teve 1.982 votos.

Na cidade de Angélica, a 273 km da Capital, Marieta Pereira de Souza derrotava três homens nas urnas e se sagrava a primeira prefeita de Angélica e uma das 60 prefeitas eleitas no país nas eleições diretas de 1982. Ela somou 2.111 votos, enquanto Antenor Vargas, segundo colocado, 824 votos.

No parlamento estadual

Criado em 1977 e implantado em 1979, Mato Grosso do Sul teve a primeira legislatura na Assembleia Legislativa em 1978 com 18 deputados homens. Somente oito anos depois da assembleia constituinte as primeiras mulheres seriam eleitas para ocupar cadeira na 3ª Legislatura da Casa de Leis.

Em 1986, Marilene Coimbra e Marilu Guimarães,que já foi tema de reportagem do Midiamax – foram eleitas deputadas. Marilene somou 6.434 votos e Marilu, 11.850 votos. Marilu seguiu seu mandato até 1989 e chegou a ser vice-prefeita de Campo Grande entre 1989 e 1991.

Marilene disputou as eleições de 1988, tendo a preferência de 6.360 votos, não se elegendo naquele momento, mas ficando como suplente. Posteriormente, ela retornaria ao parlamento para ocupar cadeira durante a 4ª legislatura.

O caminho até Brasília

Hoje ministra de Lula, Cida concorreu como deputada em MS | (divulgação)

As candidatas mulheres de Mato Grosso do Sul começavam a percorrer o caminho para chegar à Brasília desde as eleições diretas de 1982, última realizada durante o Regime Militar. Naquelas eleições, dentre os 31 candidatos que buscavam ocupar cadeira em Brasília, apenas uma mulher integrava concorrentes: Maria Stela Leme Brandão.

Naquelas eleições, Maria Stela teve 345 votos, enquanto o deputado federal mais votado e eleito, Levi Dias, somou 65.122 votos.

Nas eleições de 1986, duas mulheres já concorriam como deputadas constituintes: Clara Duran Leite e Aparecida Gonçalves — a Cida Gonçalves, que atualmente comanda o Ministério da Mulher no Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Clara e Cida tiveram, respectivamente, 133 e 1.156 votos.

Somente nas eleições de 1990 uma mulher consagraria sua primeira vaga em Brasília. A responsável por conquistar 52.463 votos — candidata com segundo maior número de votos — Marilu Guimarães, ex-deputada estadual, seria então uma das representantes de Mato Grosso do Sul na Câmara dos Deputados.

Marilu Guimarães, quando disputou a Prefeitura de Campo Grande (Arquivo pessoal)

Em 1992, Marilu Segatto Guimarães concorreu à prefeitura de Campo Grande e foi ao segundo turno contra Juvêncio Cesar da Fonseca. Juvêncio se elegeu prefeito da Capital com mais de 115 mil votos, enquanto Marilu registrou nas urnas 100 mil votos.

A 1ª mulher de MS no Senado

Se o trajeto até a Câmara dos Deputados precisou ser garimpado pelas mulheres, o percurso até o Senado Federal não seria diferente. Após seis eleições que definiram senadores que representariam Mato Grosso do Sul em Brasília, somente na sétima a população elegeria uma mulher.

Foi a vez de Marisa Serrano ser eleita a primeira mulher senadora por MS, sendo a mais votada nas eleições de 2006 e conquistando 607.584 votos. O segundo concorrente à vaga, Egon Krakhecke, teve 456.363 votos.

Oito anos depois, a segunda mulher senadora por MS assumia vaga. Simone Tebet, hoje também ministra do Governo Lula, vencia as eleições de 2014 com 640.336 votos.

Confira a linha do tempo das primeiras mulheres eleitas em MS:

Fonte: CNM/TRE-MS/Alems/Câmara dos Deputados/Senado Federal (Arte: Mariane Chianezi)

Cai número de deputadas eleitas

Quando o assunto são as mulheres candidatas para a câmara dos deputados, houve um crescimento de 1,6% em nove anos, porém uma queda de quinze posições no ranking entre as UFs. No ano de 2014, a proporção de mulheres candidatas a câmara dos deputados era de 33,8%, e em 2022 foi de 35,4%. Em 2014, MS ocupava a 5ª posição, mas em 2022 caiu para a 20ª posição entre os estados.

Dados do IBGE mostraram que nas últimas eleições, de 2022, as três melhores posições ficaram com o Piauí (41,8%), Roraima (40,0%) e Amapá (39,6%). Os estados da Bahia (32,6%), de São Paulo (32,5%) e do Rio de Janeiro (32,4%) ficaram nas últimas posições.

Na mesma linha, tem-se a proporção de mulheres por classes de receita da candidata. O estado de MS caiu da décima posição (2018) para a última posição em 2022 quando considerada a receita de um milhão ou mais. Em 2018, a proporção era de 28,6% de candidatas com receita de um milhão ou mais, enquanto em 2022 essa proporção caiu para 13,3%.

No ranking entre as UFs, em 2022, as três maiores proporções ficaram com o Acre (44,4%), o Tocantins (44,4%) e Sergipe (42,9%). As três últimas posições figuraram o Maranhão (17,6%), o Rio Grande do Sul (15,9%) e, como dito anteriormente, o Mato Grosso do Sul (13,3%).

MS mantém média de mulheres nas prefeituras

A participação das mulheres na política tem crescido a cada ano e isso tem se refletido nas urnas nas últimas eleições no país. Recente levantamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostrou que o número de candidatas a cargos públicos cresceu no Brasil, com destaque aos cargos de vice-prefeitas.

Conforme o levantamento, o número de eleitas para o posto também aumentou no país. A quantidade de mulheres que se tornaram vice-prefeitas chegou a 834 em 2016. Em 2020, saltou para 927, um aumento de 11%. Mato Grosso do Sul, no entanto, foi na contramão das estatísticas e manteve a média de vice-prefeitas eleitas nas Eleições de 2016 e 2020: 14 no total.

Comparando as Eleições Municipais de 2016 e 2020, a participação das mulheres em chapas eleitas teve pouca diferença. Em 2016, foram 21 chapas eleitas, com mulheres se elegendo prefeitas ou vice-prefeitas. Em 2020, foram 19 chapas que tiveram mulheres ocupantes nos cargos de chefe do Executivo ou na cadeira de vice.

MS cai em ranking de prefeitas

Por outro lado, dados do IBGE mostram que em cinco anos, MS caiu quatro posições quanto ao número de mulheres eleitas prefeitas.

No ano de 2016, a proporção chegava a 8,9%, porém em 2020 caiu para 6,7%. Os estados com maior proporção de prefeitas são: Roraima (26,7%), Rio Grande do Norte (22,4%) e Alagoas (21,8%). Nas três últimas posições estão o Mato Grosso do Sul (6,7%), o Amapá (6,3%) e o Espírito Santo (1,3%).

Em Campo Grande, por exemplo, a então prefeita Adriane Lopes (PP) iniciou no paço municipal em 2016, se reelegendo vice-prefeita em 2020. Em 2022, a progressista assumiu o cargo de prefeita após renúncia do então prefeito Marquinhos Trad (PSD).

Já em Sidrolândia, nas eleições de 2016 e 2020, nenhuma chapa composta por mulheres se elegeu, porém, em 2021, em uma eleição suplementar, Vanda Camilo (PP), foi eleita prefeita após o então eleito, Daltro Fiuza, ter mandato impugnado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Zenaide Espíndola (MDB) assumiu o mandato de prefeita em Laguna Carapã em dezembro de 2023 após a morte do prefeito Ademar Dalbosco (PSDB). No ano de 2016, inclusive, uma cidade de Mato Grosso do Sul elegeu chapa composta por mulheres para prefeita e vice-prefeita.

Confira as cidades onde mulheres foram eleitas prefeitas ou vice-prefeitas nas eleições de 2016 e 2020:

(Arte: Mariane Chianezi)
1 – Assumiu como prefeita em 2022
2 – Assumiu como prefeita em 2023
3 – Mandato substituído por indeferimento de partido ou coligação
4 – Falecida em 2023
| (Arte: Mariane Chianezi)

Confira as reportagens anteriores desta série:

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