De CPI a vans populares, Câmara avalia medidas para pressionar Consórcio a melhorar serviço
Vereadores também prometem revogar isenção milionária se o Consórcio Guaicurus não melhorar os serviços
Anna Gomes –
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Após série de reportagens do Jornal Midiamax denunciar que as empresas que atuam no transporte coletivo de Campo Grande vão receber mais de R$ 32 milhões em verbas municipais este ano, apesar de estar com frota sucateada e tirar 140 ônibus de circulação nos últimos 3 anos, vereadores da Câmara Municipal reforçam que vão intensificar cobrança para melhorias no serviço de concessão pública.
Conforme já adiantado pela reportagem, o Consórcio Guaicurus prometeu aos vereadores que iria colocar ônibus novos para circular ainda este ano. Essa seria a condição para que a Casa de Leis aprovasse a isenção milionária do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza).
Inclusive, os vereadores deram o prazo até julho para que os novos veículos comecem a circular. Entre os questionamentos sobre o que pode ser feito para que Consórcio cumpra as promessas, os parlamentares sugerem desde a abertura de uma CPI até a revogação da lei do ISSQN, aprovada pela Casa no último dia 14 de fevereiro.
Um dos membros da Comissão Permanente de Transporte e Trânsito da Câmara Municipal, Paulo Lands (Patriota), disse que vai se reunir para debater o assunto com os outros integrantes do colegiado.
“O Consórcio Guaicurus precisa se posicionar sobre as melhorias. Já temos uma reunião com a comissão para sentar com a prefeitura e buscar uma solução. Quem sempre sai perdendo é a população. Na minha opinião acho que deveria abrir uma nova licitação para que novas empresas consigam concorrer, mas o meu jurídico foi procurar e disse que não tem uma brecha de algo que a empresa está fazendo errado”, disse.
Alternativas ao Consórcio Guaicurus
O Vereador Junior Coringa (PSD) diz que Campo Grande precisa de alternativas e adianta que vai propor um novo projeto de transportes na Câmara Municipal.
“Agora é a hora da gente emplacar as vans populares. O Consórcio Guaicurus não vai conseguir voltar com as linhas que estão retirando. A empresa não quer levar prejuízo, por isso sou a favor das vans populares. Já estou elaborando um projeto. Agora não é hora de bater de frente e sim de buscar alternativas”.
Com um Projeto de Lei de tarifa zero no transporte coletivo que está tramitando na Câmara, Ayrton Araújo do PT diz que é a favor da Casa revogar a Lei do ISS.
“É um momento muito ruim, um dos piores no transporte coletivo. Tiraram muitas coisas e continuam com o contrato. Estamos trabalhando para ver o que podemos fazer e já conversei com o Presidente da Casa para revogar a lei. Nós temos que dar uma nova vida ao transporte coletivo”, destacou.
Zé da Farmácia (Podemos) acredita que o Consórcio não está cumprindo com o que prometeu e também é favorável à revogação do ISSQN se acaso a empresa não melhorar a situação no transporte.
“A gente vê a dificuldade da população com os ônibus lotados, nós recebemos reclamações da demora no transporte. Os horários não estão sendo respeitados. Trato é trato, prometeram melhorar. Sou favorável à Casa revogar a lei se não cumprirem”.
Edu Miranda (Patriota) explica que é a favor da Câmara abrir uma CPI para investigar o Consórcio. “Tiraram várias linhas de circulação. É uma discussão que temos há muito tempo. Acredito que a única alternativa é abrir uma CPI. A prefeitura, Governo do Estado e Federal estão cumprindo com o que prometeram. Do jeito que está não pode ficar, estão brincando com a gente”.
Vitor Rocha (PP) também vai pedir para revogar a Lei e ressalta a importância de a prefeitura oferecer suporte à população com os pontos de ônibus e melhorias nos terminais.
“A gente aprovou a isenção do ISS, mas tinha uma contrapartida para a população. Tem que melhorar a qualidade dos ônibus, dos terminais e diminuir a espera dos ônibus, principalmente nos horários de pico para evitar a lotação. Estamos fazendo a nossa parte e precisamos cobrar”.
O presidente da Câmara de Campo Grande, vereador Carlão (PSB), garantiu novamente que caso o Consórcio Guaicurus não cumpra o acordo que fez com a Casa de colocar ônibus novos nas ruas, a isenção do ISSQN será revogada.
“Os ônibus estão em péssima qualidade. Foi feito um compromisso com a Câmara de melhorias. Caso não comprem ônibus novos, não melhorem as linhas arrumando os buracos, coloquem cobertura nos pontos e reformem os terminais, a Câmara vai revogar a isenção do ISSQN”, afirmou.
De acordo com Carlão, a transferência de recursos e isenções é entre a Prefeitura de Campo Grande e o Consórcio. “Isso é um problema deles, mas o compromisso feito com a Câmara nós vamos cobrar”. O prazo, segundo o presidente, é de 90 dias após o recebimento da primeira parcela dos repasses a serem realizados.
Nesta semana, a Casa recebeu um ofício do Consórcio informando que, como está negativada no Cauc, a Prefeitura ainda não realizou os repasses, nem os de fevereiro.
‘Cortaram mesmo?’
O diretor-presidente da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), Odilon Júnior, questionou na quarta-feira (22) a veracidade de dados passados pela própria Prefeitura de Campo Grande sobre a denúncia de 140 ônibus a menos nas ruas nos últimos três anos.
O presidente manteve a postura do órgão de questionar dados trazidos pelas reportagens, pela Câmara Municipal de Campo Grande e pela população sobre a qualidade do serviço do Consórcio Guaicurus durante seminário que trata sobre a possibilidade de Tarifa Zero no transporte coletivo, na Casa de Leis municipal.
Questionado também sobre a diminuição de linhas no transporte público, Odilon continuou. “Por falta de uso da população ou por querer? É isso que nós temos que levantar. População tem que procurar a gente através das redes sociais. A gente abre um processo e verifica a questão”, minimizou.
Vale lembrar que são atribuições da Agereg, entre outros, a qualidade, regularidade e continuidade compatíveis com a sua natureza e com a exigência dos usuários; a razoabilidade e a modicidade tarifária; a expansão das redes e sistemas e sua eficácia; o justo retorno dos investimentos públicos e privados e a estabilidade nas relações entre o poder concedente, entes regulados e usuários, de acordo com a lei que institui o órgão municipal.
Sem promessas
Sobre a Câmara cobrar ônibus novos para a população após exigência do reajuste da tarifa de ônibus, que saltou de R$ 4,40 para R$ 4,65 no início de março, Odilon Júnior disse não saber.
“O que constou na reunião foi um pleito da Câmara nesse sentido. Naquela reunião a Câmara, o Consórcio e a Prefeitura não assinaram nenhum documento nesse sentido. Eu não posso falar que não fizeram promessas porque podem ter feito em outro lugar, mas eu não vi nenhum documento nesse sentido. Em razão do aumento da passagem não teve documento assinado prometendo melhorias. O que foi feito foi um reajuste contratual”.
Menos 140 ônibus
A denúncia revelada pelo Jornal Midiamax após relatos sobre os ônibus fantasmas, que deixam passageiros esperando horas por veículos que não passam, expõe outro problema no transporte coletivo de Campo Grande: a falta de ônibus. Conforme apurado pela reportagem, o Consórcio Guaicurus tirou de circulação 140 ônibus nos últimos três anos, passando de 552 em 2019 para 412 em 2022.
Em contrapartida, Campo Grande ganhou 36 mil novos moradores, saltando de cerca de 906 mil em 2019 para 942 mil no ano passado, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O número está abaixo do mínimo estipulado em contrato, que é de 575 ônibus em circulação. Enquanto isso, passageiros precisam aguardar mais de 1 hora para conseguir um ônibus, dependendo do horário e da linha.
Reportagens do Midiamax mostraram que o Consórcio Guaicurus opera com frota sucateada, com idade média dos ônibus acima dos 5 anos estipulados em contrato de concessão. Então, além de enfrentar veículos velhos, passageiros também encaram superlotação e falta de informações corretas.
Apesar de denúncias sobre o serviço prestado em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus vai embolsar R$ 32 milhões em verbas públicas somente este ano, além dos R$ 31 milhões que recebeu no ano passado. E, diferente do alegado pela diretoria da concessionária, as empresas de ônibus tiveram lucro líquido de R$ 68 milhões somente nos primeiros sete anos de concessão – entre 2012 e 2019.
Então, passageiros denunciam verdadeira ‘maratona’ para enfrentar o serviço precário do transporte coletivo de Campo Grande para trabalhar.
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