Temos que trabalhar o dobro e nos impormos na política, dizem ‘as’ vices
Vices rejeitam rótulo de composição
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Vices rejeitam rótulo de composição
A chapa eleita para comandar o executivo municipal de Campo Grande tem uma semelhança com a do executivo estadual de Mato Grosso do Sul: ambas são compostas por vices mulheres. Rose Modesto e Adriane Lopes, no entanto, rejeitam com unhas e dentes o título de ‘compositoras de chapa’ e dizem precisar trabalhar em dobro para conseguirem comprovar capacidade.
“A mulher tem que sempre estar provando. Só pelo fato de ser mulher já existe preconceito. Será que dá conta? Na campanha, eu ouvi na rua que não queriam uma prefeita para fazer com a Capital o que a Dilma fez com o país por ser mulher”, relata a vice-governadora Rose Modesto.
A tucana nos recebeu entre uma agenda e outra na diretoria de uma escola estadual, onde faria uma palestra em uma terça-feira. Mais cedo, havia concedido entrevista a uma rádio e na semana anterior, ido à Brasília discutir junto ao presidente Michel Temer a questão da segurança pública na fronteira.
“A mulher acaba não sendo protagonista da história em todas as áreas, infelizmente a gente vive culturalmente essa dificuldade. A participação da mulher na política é recente, então é natural que os espaços ocupados ainda não sejam os majoritários. Mas tem uma forma da gente quebrar isso, com as nossas ações e participação efetiva. Procuro trabalhar de uma forma a incentivar outras mulheres e a mostrar que vale a pena”, diz.
E a ‘receita’ da antiga professora que conseguiu se eleger vereadora e chegar ao Parque dos Poderes ao lado do governador ela dá. “Mesmo que as vezes você precise falar um pouquinho mais alto para ser ouvida e enxergada vale a pena fazer, porque é assim que a gente está conseguindo chegar a alguns lugares”.
Adriane Lopes nos recebeu no fim da manhã em seu gabinete, de onde despachava, no Paço Municipal, único horário que conseguiu encaixar na semana. “Sempre temos atividades aqui no gabinete, seja fazendo pontes com as secretarias, uma integração que antes não existia e que hoje é feita, ou visitando Ceinfs e projetos sociais. Hoje nós fizemos uma ronda pelos projetos”, avisou.
Nova em um cargo político, Adriane nega, entretanto, não ter experiência no meio. “Desde que meus filhos são pequenos eu participo de projetos sociais. Ia às reuniões políticas com eles no bebê conforto, sempre comigo, carregando. Acredito que por isso para o homem talvez seja mais fácil. A mulher fica com o coração mais doído de deixar o filho, o que dá menos mobilidade a ela. Mas mesmo assim a gente dá um jeito”, brinca.
Quando recebeu o convite para integrar a chapa, Adriane diz que a família precisou se adaptar à nova rotina. “Meu marido é do Legislativo [o deputado estadual Lídio Lopes], então eu ficava mais tempo em casa com os meus filhos. Todos tiveram que aprender a dividir mais as tarefas e se acostumarem que eu também ficaria mais afastada. No início foi mais difícil, mas hoje todos estão acostumados. Sempre todo mundo entendeu e respeitou muito a minha decisão”, comenta.
A vice-prefeita destaca que muitos têm a imagem de que o vice só aguarda a ausência do titular para trabalhar. “Eu trabalho todos os dias. Fazemos um serviço de integração com as secretarias, decidimos muita coisa juntos”, destaca a bacharel em Direito, que tem pós graduação em administração pública e gerência de cidades.
“Os homens mais velhos ainda não entendem a mulher na política. Mas os mais jovens nos respeitam e percebem que a capacidade é a mesma. É cultural, são anos no mesmo modelo, só os homens despachando e atuando. Então eu acredito que nós já estamos escrevendo uma nova história. Eu sei que faço isso para os meus filhos, para o futuro”, diz Adriane.
Só composição?
Rose acredita que a elite ruralista do Estado ainda intimide a mulher a entrar na política, dificultando um espaço majoritário para o gênero ser representante de uma chapa nas eleições. “A gente sabe que o Mato Grosso do Sul tem barreiras. No meu próprio partido em 2016 tivemos vários homens disputando para serem os candidatos nas eleições, mas eu consegui internamente que o meu nome fosse o indicado. Fomos para o segundo turno e não vencemos, mas demos um passo muito importante”, destacou.
“Não foi só para preencher, não foi só para a gente ter um nome. A gente veio para uma disputa, valendo. Isso tudo precisa ser comemorado. E de certa forma não deixar também a gente acomodado com isso. A gente quer mais mulheres prefeitas, mulheres governadoras, mais mulheres no Senado, na Câmara Federal.
Presidente estadual do PEN Mulher, Adriane diz enfrentar muita dificuldade para encontrar candidatas para a cota parlamentar, já que cada partido ou coligação deve ter no mínimo 30% para candidaturas de cada sexo.
“Acredito que existem muitas mulheres líderes, preparadas em seus bairros. Mais que os homens. Mas muitas têm receio do ambiente político. Medo da candidatura expor sua vida, sua família. Quando eu converso pelo interior do Estado com elas, é o que mais percebo. E isso dificulta muito”, diz.
Rose acredita que as mulheres ainda enxergam na política um ambiente majoritariamente masculino e isso causa receio. “A mulher precisa se colocar mais. Perder um pouco o medo, né? Exatamente para quebrar essas barreiras. Ouvi esses dias de uma pré-candidata a deputada estadual ‘estou indo porque o pessoal do partido falou que precisa, que quase não tem mulher’. Aí eu falei ‘olha, você é uma mulher extremamente capacitada, simpática, respeitada, tem inúmeras qualidades e tem eleitores. Não deveria ir com esse pensamento não. Chama sua categoria. E dá um toque para o partido”.
“Imagina se eu tivesse ido com essa imagem de eu estou indo só para contribuir com a cota? Talvez eu não teria ganhado a eleição. Mas eu fui acreditando que eu era capaz. De enfrentar pessoas com mais dinheiro, homens reconhecidos. A gente precisa acreditar na gente primeiro. Se não quem vai acreditar?”, finaliza.
Candidatas fantasmas
Nas eleições de 2016 em Mato Grosso do Sul, o MP-MS (Ministério Público Estadual) instaurou inquéritos para investigar se os partidos se utilizaram de ‘candidatas fantasmas’ para as eleições.
Segundo o órgão, dez mulheres teriam se candidatado apenas ficticiamente. De acordo com as investigações, não havia material de campanha, foto de caminhadas e reuniões realizadas, agenda das atividades contendo os bairros percorridos, print de publicações em redes sociais que comprovassem atos de pedidos de votos.
Dessas, duas não tiveram nenhum voto. O restante obtive desempenho eleitoral fraco, com número de votos que oscilou entre 4 e 40 votos. Ao todo, 26 concorrentes à cadeira de vereador em Campo Grande em 2016 não conquistaram voto algum.
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