Eleições estaduais pesam na escolha dos partidos por neutralidade

Com a eleição para os governos estaduais indefinida em 14 unidades da Federação, as diferenças regionais foi um dos fatores que influenciou a maioria das siglas a decidir pela neutralidade quanto à disputa presidencial no segundo turno. Até o momento, pelo menos 13 legendas decidiram liberar os filiados para pedir votos tanto para o candidato […]

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Com a eleição para os governos estaduais indefinida em 14 unidades da Federação, as diferenças regionais foi um dos fatores que influenciou a maioria das siglas a decidir pela neutralidade quanto à disputa presidencial no segundo turno. Até o momento, pelo menos 13 legendas decidiram liberar os filiados para pedir votos tanto para o candidato Jair Bolsonaro (PSL) quanto para Fernando Haddad (PT).  A falta de clareza sobre o cenário político do país após o segundo turno tem feito com que as legendas decidam pela posição “cômoda” de liberar seus filiados, na opinião de cientistas políticos ouvidos pela Agência Brasil.

Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o cientista político Joviniano Neto avalia que a diversidade pesou para a indefinição das agremiações partidárias entre um ou outro polo. “O Brasil é uma Federação e estado é uma realidade diferente. Existem estados onde a diferença local é mais nítida, como MDB e PSDB, e em outros onde a diferença é menos nítida e há uma unidade nacional maior, como PSOL”, avalia Joviniano.

A onda bolsonarista, que tem favorecido candidatos a governador, tem ajudado a definir as alianças de acordo com o contexto em cada estado. Esse é o motivo apontado por ele para a neutralidade anunciada por partidos como o PSDB, em que o candidato a presidente derrotado Geraldo Alckmin concordou em liberar os filiados mesmo após pedidos de integrantes da sigla para um posicionamento mais incisivo contra o PT, como o de de João Doria, que concorre ao governo paulista.

“Onde houve decisão já no primeiro turno para os governos locais, a questão para os vencedores é como fazer com que os candidatos e cabos eleitorais continuem fazendo campanha apenas para a Presidência. Nos outros casos, a dúvida é: como sintonizar o apoio nacional com o eleitorado”, diz.

É o caso de Santa Catarina, onde os dois candidatos Comandante Moisés (PSL) e Gelson Merisio (PSD) apoiam Bolsonaro. Em Rondônia, por exemplo, Expedito Júnior (PSDB) vai concorrer ao governo estadual contra um candidato do PSL, Coronel Marcos Rocha, mas mesmo assim declarou voto no candidato do PSL.

Para a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), a neutralidade acaba facilitando o trânsito entre os candidatos à disputa local. “No caso do PSDB, como são seis candidatos, penso que o segundo turno terá muito peso, afinal de contas a bancada na Câmara do partido perdeu muitos deputados. Então, ele vai precisar garantir outros flancos de poder”, analisa.

Outro partido influenciado pelas eleições estaduais foi o PSB. A legenda se posicionou favorável à candidatura de Haddad, mas liberou as lideranças no Distrito Federal e em São Paulo – onde disputam o segundo turno- para se posicionarem neutras. Isso porque o apoio aos petistas poderia prejudicar Rodrigo Rollemberg e Márcio França, respectivamente.

O Novo adotou uma posição nacional de não apoiar nem um dos candidatos, porém os filiados têm se posicionado de forma diferente. A legenda, que lançou João Amoêdo à Presidência, preferiu ficar neutra, embora tenha postado uma mensagem dizendo que os “integrantes da sigla são ‘absolutamente contrários ao PT’”. Em Minas Gerais, o candidato Romeu Zema, declarou apoio ao candidato do PSL, na tentativa de se manter à frente na disputa contra Antonio Anastasia (PSDB).

Para Carlos Ranulfo, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a postura do Novo não é completamente neutra, mas faz sentido com os temores do partido. Segundo ele, devido às incertezas econômicas de Bolsonaro, a legenda evita se comprometer com o polo contrário ao PT. “O Novo é um partido ultraliberal, o mais liberal no sentido da economia que o Brasil tem. E o Bolsonaro é muito ambíguo em relação a isso. Tanto a trajetória dele como a de várias pessoas que o PSL elegeu. Então o partido tem razões para não querer embarcar nessa canoa”, avalia.

Já o PDT, do presidenciável Ciro Gomes, que ficou em terceiro lugar, declarou apoio “crítico” ao PT e, segundo o presidente Carlos Lupi “não tem ninguém liberado” para deliberar de modo diferente.

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