Impactos de uma eventual delação premiada do ex-ministro Antônio Palocci
Ele disse que houve caixa 2 em todas as campanhas políticas
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Ele disse que houve caixa 2 em todas as campanhas políticas
A sinalização do ex-ministro Antonio Palocci de que está disposto a fechar um acordo de delação premiada, feita ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato em Curitiba, em audiência na última quinta-feira, aumentou o temor daqueles que podem ser incriminados por um eventual depoimento. Como ministro dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ele angariou recursos para campanhas eleitorais e, à frente das pastas da Fazenda e da Casa Civil, editou medidas de governo que podem ter beneficiado empresas em troca de apoio partidário.
Mas, as teias de Palocci vão muito além. Como consultor financeiro, o ex-ministro atendeu a bancos e outras companhias privadas, que, mencionadas em uma eventual delação premiada, podem abrir um novo leque de investigação na Lava-Jato.
Em audiência na 13ª Vara Federal, em Curitiba, Palocci pediu a palavra para garantir a Moro que, caso o juiz queira, ele pode revelar informações que sustentam pelo menos mais um ano de investigação. “Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição o dia que o senhor quiser”, disse. “Apresento todos os fatos com nomes, endereços e operações realizadas. Posso lhe dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, que faz bem ao Brasil”, garantiu.
Palocci afirmou que houve caixa dois em todas as campanhas eleitorais do país. Mas negou ter usado contratos da Petrobras e do BNDES e medidas no Congresso para beneficiar a Odebrecht. Disse, porém, que pedia contribuições. Para além disso, enquanto esteve fora dos governos do PT – ele foi ministro da Fazenda de Lula de 2003 a 2005 e titular da Casa Civil de Dilma, por seis meses, em 2011 -, Palocci operou no setor privado. De acordo com a Receita Federal, a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira recebeu mais de R$ 80 milhões de 47 empresas diferentes. Entre os principais clientes, são apontados grandes bancos do país, como o Bradesco, a montadora Caoa e a seguradora Amil, por exemplo.
Integrantes do PT estão aflitos com o potencial devastador de uma delação de Palocci. Como ministro da Fazenda de Lula, deu incentivos e desonerações fiscais, e beneficiou a indústria automotiva, por exemplo. O que traz um alento aos petistas é que, por ora, nenhum cacique do partido aceitou fazer o acordo.
Cofundador do PT, Palocci teve uma ascensão meteórica na legenda. Em 1988, com apenas 28 anos, elegeu-se vereador de Ribeirão Preto e, dois anos mais tarde, tornou-se deputado estadual. Em 1992, foi eleito prefeito da cidade no interior paulista. Com bons resultados à frente do município, em 1998 conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados e, em 2000, voltou ao comando do Executivo de Ribeirão. Assim, conquistou seu espaço como um dos principais expoentes petistas, a ponto de se licenciar da prefeitura para coordenar a campanha à Presidência da República de Lula.
O cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) de São Paulo, avalia como altíssimo o potencial de alcance de uma delação premiada de Palocci. “O que o Palocci vai dizer, talvez nem o advogado dele saiba. O que se imagina é que ele tenha, pelas conexões, questões de importância. Ele era um homem de muitas conexões dentro do governo e fora dele. Depois do governo, se transformou num consultor muito requisitado. Ele reconhece toda essa visibilidade”, disse.
O líder do PT na Câmara, o deputado Carlos Zarattini (SP) diz que um depoimento de Palocci pode ir muito além do esquema que existia entre o PT, a Odebrecht e outros agentes públicos. “O Palocci tem relação muito grande com todos os principais capitalistas brasileiros, inclusive os bancos. Não sabemos o que ele pode dizer do PT, mas também pode dizer muito de empresas nacionais, dos setores produtivos grandes e improdutivo, os especuladores”, disse.
“O que o Palocci vai dizer, talvez nem o advogado dele saiba. Ele era um homem de muitas conexões dentro do governo e fora dele”
Carlos Melo, cientista político
Troca no TSE
O presidente Michel Temer antecipou a nomeação de outro ministro do Tribunal Superior Eleitoral. O advogado Tarcisio Vieira, que figuava em lista tríplice enviada pelo Supremo, foi nomeado para ocupar o cargo de ministro do TSE a partir de 6 de maio, no lugar de Luciana Lossio. A confirmação da indicação foi publicada no Diário Oficial da União de quinta-feira. O jurista participará do julgamento da ação que pede a impugnação da chapa da presidente cassada Dilma Rousseff e do presidente Michel Temer. Em março, Temer também antecipou a nomeação de outro ministro, Admar Gonzaga, para o lugar de Henrique Neves, que deixou a Corte no último dia 16.
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