André embrulhava caixas de dinheiro e recebia sozinho em casa, diz delator
Puccinelli receberia propina em casa, sempre às 6h
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Puccinelli receberia propina em casa, sempre às 6h
A liberação do sigilo da delação premiada do pecuarista Ivanildo da Cunha Miranda pelo juiz substituto Fábio Luparelli Magajewski, da 3ª Vara Federal de Campo Grande, revela que o ex-governador André Puccinelli receberia em 90% das vezes em seu apartamento caixas e sacolas de dinheiro, sempre às 6h, de acordo com o empresário.
Ivanildo afirmou que Piccinelli tinha mania de enrolar as caixas arquivo de papelão em fita crepe e anotava em cima a quantia a ser distribuída nas campanhas eleitorais. O pecuarista teria feito a ponte entre o ex-governador e os empresários donos do Grupo JBS em 2007, via um funcionário que há 40 anos trabalhava no setor financeiro, Demilton Antônio de Castro. Florisvaldo Caetano de Oliveira, ex-conselheiro fiscal da JBS, que repassava o dinheiro a Mato Grosso do Sul.
O pecuarista disse que no início a empresa tinha dificuldades em repassar os pagamentos de propina em espécie, como exigido por Puccinelli. A primeira remessa de dinheiro chegou em 2007, R$ 500 mil via avião. E as doações cresceram tanto que em 2012, o grupo encaminhou R$ 20 milhões, sendo R$ 10 milhões ‘por fora’ e R$ 10 milhões em doações oficiais.
“(…) esse dinheiro eu peguei de avião (…) eu esperei completar os R$ 10 milhões e trouxe. Esse dinheiro foi entregue pro governador, por sinal deu um trabalho terrível, porque era muito pesado. Foi num isopor que eu levei. Entreguei na casa dele…”, relatou Ivanildo.
Ivanildo ainda afirmou à Polícia Federal que a propina em questão foi chamada de ‘peixe’, por conta do isopor. No início, os quatro frigoríficos repassariam R$ 400 mil em propinas a André. Depois da compra de outras unidades pelo Grupo JBS, o valor teria saltado para até R$ 2 milhões mensais.
Deste dinheiro, o pecuarista receberia de 60 a 80 mil reais por mês. Após 2013, o valor foi de R$ 200 mil a R$ 250 mil. Ivanildo relata que Puccinelli teria uma dívida de R$ 1 milhão com ele, que seria quitada por meio desses pagamentos.
Com o suposto crescimento das arrecadações ilegais, uma parte do dinheiro ficava como ‘diferença’, que o pecuarista explica que eram os Tares (Termos de Acordo de Regime Especial). O delator reclamou ainda que teria sido cobrado por uma falta de R$ 500 reais em um repasse de R$ 100 mil em época de campanha.
Para ‘pagar’ pelos serviços do pecuarista, André usaria a própria conta de Ivanildo, em depósitos que teriam sido feitos via doleiro, dificultando a descoberta da fraude pela Receita Federal, Polícia Federal e Controladoria-Geral da União.
Papiros de Lama
O Termo de Acordo de Delação Premiada foi assinado por Ivanildo em 24 de julho deste ano. Nesta terça-feira (14), quase três meses após as declarações, a Polícia Federal, a Receita Federal e a Controladoria-Geral da União deflagraram a quinta fase da Operação Lama Asfáltica, denominada Papiros de Lama.
A operação resultou na prisão de quatro pessoas, além da condução coercitiva de outras seis, incluindo políticos e empresários. Também foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão. Inicialmente o pedido foi de prisão preventiva para os 10 implicados, porém a Justiça Federal negou, somente impôs condições. Confira a lista de nomes dos implicados:
– André Puccinelli e André Puccinelli Júnior: ex-governador do Estado e seu filho advogado, presos preventivamente, ou seja, sem data para expirar a prisão.
– João Paulo Calves e Jodascil Gonçalves Lopes: ambos advogados do Instituto Ícone, presos temporariamente, ou seja, por até cinco dias, podendo ser renovada por mais cinco.
– André Luiz Cance ex-secretário de Estado de Fazenda, os empresários João Amorim e João Baird, o dono da gráfica Alvorada Mirched Jafar Júnior, dono da PSG Antônio Cortez e o engenheiro João Maurício Cance: todos foram conduzidos coercitivamente à sede da Polícia Federal para prestar depoimento.
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