Vereadores disseram desconhecer ‘manobra’

Parlamentares da Câmara de Campo Grande, uns com mais de dez anos de mandato, disseram nesta quarta-feira (27) que nunca viram e sequer ouviram falar dos ofícios encaminhados à SAS (Secretaria de Assistência Social) pedindo empregos para parentes, amigos ou cabos eleitorais na Seleta, conforme denunciou a própria entidade ao Ministério Público Estadual nesta semana.

Alexo do PT, que está há 15 anos na Casa, disse ter tido conhecimento do fato pela mídia. “Vejo como imposição dos vereadores que praticaram o ato, já definindo o cargo no ofício. As atividades desenvolvidas pela Seleta nem são essenciais. É possível romper o contrato e fazer concurso para colocar profissionais qualificados no lugar deles”, opinou.

Paulo Siufi (PMDB), que foi presidente da Câmara antes de Mario Cesar (PMDB) e João Rocha (PSDB), disse que se algum ofício assinado por ele for encontrado, que pedirá renúncia na mesma hora. “Esse papo de favor para a Seleta foi comentado pelo Bernal há um tempo e eu disse que se ele conseguisse provar que eu pedi algum favor eu renunciaria na hora”.

Presidente da Casa, João Rocha destacou que nunca fez ofício pedindo emprego para ninguém. “Mas isso da população vir aqui e pedir emprego é verdadeiro e cultural. Assim como pedem festa e passagens de ônibus ou avião. Não vejo problema em encaminhar currículo para a SAS e eles analisarem dentro do que foi enviado se o profissional é competente, para qual vaga vai. Ressalto apenas que o papel dos vereadores é produzir leis, fiscalizar e fazer com que elas sejam cumpridas”.  Flávio César (PSDB) comentou que nunca pediu favores para o Executivo por sempre ter sido oposição.

Luiza Ribeiro (PPS) acredita que esse não seja o papel do vereador. “Em cada gabinete existe mesmo essa demanda, a população vem e pede emprego. É costume do meu gabinete explicar os caminhos corretos para se procurar um emprego: ir a Funsat, Funtrab ou prestar um concurso público. Na época do concurso para professor, ligamos para todos que deixara os currículos pedindo vaga de professor para falar que as inscrições estavam abertas”.

Ofícios

De acordo com os autos somente este ano, ao menos 14 pessoas foram encaminhadas para contratação do órgão por três parlamentares, segundo informações da própria SAS. Entre os indicados, existe até mesmo uma mulher com experiência de costureira e vendedora indicada pelo gabinete do vereador Coringa (PSD) para uma vaga de professora. Mas a indicada possui apenas o ensino médio.

Entre os 12 ofícios nenhuma das pessoas têm qualificação ou experiência para as vagas requeridas pelo gabinete. Entre elas, vagas para professores, recreadores “serviço social” (assistente social), cuidador, motorista e serviços gerais.

Uma das encaminhadas tem formação em Serviço Social e experiência em salão de beleza e é voluntária de uma igreja. Outro, que pleiteia uma vaga de cuidador, é acadêmico de Direito em uma universidade particular e não tem experiência na área. Os vereadores Betinho (PRB) e Ayrton Araújo (PT) também pediram vagas para a Seleta por meio da SAS (Secretaria de Assistência Social).