Polícia investiga suposta participação de secretário de Bernal em ‘invasão’ da Câmara

Agenda, com anotações esquecida por manifestante, cita ‘Cabral’ ligado à “Invasão da Câmara”.

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Agenda, com anotações esquecida por manifestante, cita ‘Cabral’ ligado à “Invasão da Câmara”.

O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Mario Cesar Oliveira da Fonseca (PMDB), recebeu em seu gabinete um caderno comum, que foi perdido no dia da ocupação da Câmara (7/10), contendo entre suas anotações o resumo de uma reunião datada em 04/10, com telefones, entidades e nomes de integrantes da chamada “Frente em Defesa da Democracia de Campo Grande”.

A agenda foi esquecida na Câmara Municipal junto com um pacote de panfletos depois do protesto contra a instalação da Comissão Processante, que teria como finalidade apurar denúncias de suposta corrupção praticada pelo prefeito Alcides Bernal, baseadas no relatório final da CPI da Inadimplência. A sessão foi adiada para a próxima terça (15) por causa de desentendimentos entre vereadores.

“Me entregaram um caderno que foi achado aqui na Câmara dos Vereadores e quando eu comecei a folear vi que tinha coisas preocupantes, até da forma como está sendo conduzido o processo de ocupação nessas manifestações que foram acontecendo. Isso causou preocupação e nós vamos encaminhar para os órgãos competentes, para que tomem as providências cabíveis”, declarou o presidente da Câmara.

Em duas páginas do caderno existem anotações datadas de 04 de outubro que se assemelham a uma ata, que descreve pontos levantados por seis sindicalistas conhecidos, e que estavam no protesto da Câmara, três dias depois. São avaliações e reinvindicações comuns ao movimento sindical, relacionadas à gestão de Bernal.

Mas o que chamou a atenção do presidente da Câmara é que entre estas anotações aparece o  resumo com o nome ‘Cabral’, associado ao termo ‘Invasão’:

Imprensa ñ veicula ações e pautas as críticas

Mobilização terça fator pressão popular

Rodoviária abandonada p/pref. c/retirada da Guarda Municipal

Invasão Câmara

Coincidência, ou não, no primeiro escalão do prefeito Alcides Bernal há um secretário conhecido como ‘Cabral’, que dirige a Secretaria Municipal de Cultura. Cabral também foi o marqueteiro de Bernal na campanha à prefeitura. A polícia vai entrar no caso porque a simples menção do nome não assegura que seja o secretário.

A investigação vai levar, também, a outro nome que aparece na ‘agenda’, que poderia ser o seu dono: Abílio Cesar S. Borges. O nome consta em comprovante de depósito bancário de R$ 100,00, que está no meio das páginas do caderno, feito por Abílio para um cidadão de nome Emerson, no dia 31 de agosto deste ano. Na página em que o comprovante de depósito está anexado aparece uma anotação à mão, com a mesma data, valor e nome do destinatário.

“31/08/2013 Paguei R$100,00 a Emerson”, registra a anotação. Além disso, há vários apontamentos com valores sobre reformas e serventes de pedreiro, que corresponderiam ao ramo de atuação de Abílio.

Abílio Borges é liderança conhecida do MNLM (Movimento Nacional de Luta Pela Moradia), também presente na manifestação do dia 7 e nas anteriores. Em geral, é ele quem dá entrevistas para falar das ocupações da Câmara.

Abílio também atuou como cabo eleitoral de Bernal, prestando depoimento para a propaganda eleitoral na televisão, junto com a sua mulher, Edmar Cintra. Além disso, em vídeo gravado numa reunião extraordinária de ‘conselheiros’ dos bairros com Bernal, Abílio aparece sentado ao lado do prefeito, com a sua mulher.

Se as investigações comprovarem que um secretário de Bernal articulou a “Invasão da Câmara”, e que a agenda é mesmo de Abílio, os argumentos usados pelo manifestante para legitimar as ocupações da Câmara cairão por terra.

No último dia 24, ao dizer que milita pelo entendimento entre a oposição na Câmara e o prefeito Bernal, em busca de acordo, Abílio declarou que “nós queremos pavimentar essa harmonia”.

Manifestantes de outros municípios

Pelos apontamentos bem organizados que existem na ‘agenda’ é possível notar que o seu dono foi ativo na organização dos manifestantes que estiveram na Câmara Municipal no dia 7. Com outra possível revelação: os dados indicam que parte dos manifestantes seriam de municípios como Sidrolândia, Aquidauana, Dois Irmãos do Buriti e Corguinho.

Em uma anotação datada do mesmo dia 7 aparecem os termos “Setorial Indígena – Posto Cedro – Sidrolândia”, com o nome de nove aldeias e números a frente de cada uma delas: 30, 32, 35; totalizam 287.

Coincidência ou não é fato que ao final da manifestação do dia 7 três ônibus da empresa Vacaria, com placas de Sidrolândia, que estavam estacionados atrás da Câmara, foram flagrados transportando parte dos manifestantes para o seu local de origem. Muitos deles eram indígenas que estavam na ocupação.

Ao comentar esse ponto, o vereador Mario Cesar afirmou que “ônibus vindos do interior com indígenas e assentados dão a característica de que não são pessoas de Campo Grande que estão vindo numa mobilização para a ocupação da Câmara, tentando interferir no nosso trabalho. Ou seja, saiu de Campo Grande e está externando isso de maneira a interferir no trabalho que a Câmara vem fazendo por conta das ações do Executivo municipal”.

Para o presidente da Câmara, se as investigações policiais comprovarem a ‘importação’ de manifestantes será preciso saber quem estaria bancando estes gastos.

Nesta segunda-feira, com o fim do feriado prolongado, a reportagem irá procurar Abílio Soares para saber se ele confirma, ou não, a posse da agenda e o significado das anotações. E o secretário Júlio Cabral, que poderia confirmar, ou negar, a sua participação na suposta reunião e os termos da agenda perdida.

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