Em crise, Bernal coloca secretários na berlinda para ganhar aliados e escapar da cassação

Com erros no orçamento detectados pelo TCE-MS, escândalo de corrupção envolvendo secretário e falência de serviços públicos, Alcides Bernal (PP) deve fazer uma reforma administrativa em menos de um ano de governo.

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Com erros no orçamento detectados pelo TCE-MS, escândalo de corrupção envolvendo secretário e falência de serviços públicos, Alcides Bernal (PP) deve fazer uma reforma administrativa em menos de um ano de governo.

O prefeito Alcides Bernal (PP) deve fazer uma reforma administrativa em menos de um ano de administração. Com diversas reclamações de opositores e aliados, o prefeito resistiu, mas resolveu indicar Pedro Chaves para a secretaria de Governo, com a garantia de dar autonomia para mudanças.

À frente da secretaria, Chaves já informou que vai trocar os secretários que não tiverem o novo perfil da administração, cortando o lado mais fraco da corda para evitar uma queda maior, neste caso, a do prefeito, que enfrenta um processo de cassação. A troca dos secretários também deve servir para acomodação partidária, já que o prefeito só tem sete aliados na Câmara e precisa de pelo menos mais três para escapar da cassação.

Com o anúncio da mudança, cresce a expectativa, principalmente dos secretários acusados de contribuir para o “caos” denunciado pelos vereadores e pela população, os quais, segundo pesquisas divulgadas pelo Midiamax, consideram que os serviços estão piores do que na gestão passada.

O secretário de Obras, Semy Ferraz, confirma a expectativa após anúncio de uma reforma política. Ele explica que o pedido partiu do próprio PT, que também defende a mudança. Questionado se ainda está animado na função de secretário, ele não se mostra satisfeito, dizendo que a motivação para continuar é a mesma que tem para sair. “Dependendo do rearranjo, pode aumentar ou diminuir”, justificou. Ele não cogita a possibilidade de ser transferido para outra pasta, caso o prefeito prefira.

“Da minha parte, estou tranquilo, inclusive o cargo é do prefeito e do partido. Uma coisa que eu não tenho é apego com cargo público, porque sei que é passageiro. Entendo que é preciso fazer uma reforma administrativa. Concordo com a tese do prefeito e do próprio Pedro Chaves. Tem secretarias vagas, acumuladas. Tinha que aproveitar e fazer este rearranjo. Da minha parte, deixo à vontade o partido e o prefeito”, garantiu.

Na Berlinda

O secretário de Planejamento, Wanderley Ben Hur, encabeça a lista dos que estão na berlinda. A situação dele, que já não era boa por acusação de fazer remanejamento de verba sem autorização, complicou-se depois que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) deu parecer favorável aos vereadores. Insatisfeitos com as “trapalhadas” da secretaria no remanejamento e no orçamento enviado com falhas à Câmara, a Comissão de Orçamento e Finanças da Câmara recomendou a exoneração de Ben Hur para que o prefeito não fique em saia justa e possa, futuramente, até ser afastado por improbidade administrativa.

O vereador Paulo Siufi (PMDB) entende que o prefeito deve incluir, de imediato, o secretário de Saúde, Ivandro Fonseca, na lista dos exonerados. “Ele não entende de saúde, não conhece. Ele entende de administração e pode ir para uma outra pasta. A saúde está um caos. A saúde, que já não era boa, tende a piorar, não tem como. Falta de planejamento. Os funcionários estão aterrorizados, perseguidos e insatisfeitos”, criticou.

O vereador Carlão (PSB) concorda com o pensamento de Siufi e elege o secretário de Saúde como a “ovelha negra” da administração. “Ele é incompetente. Deixar faltar papel higiênico, insulina, coisa de R$ 0,50, isso é erro de gestão. Com a fila, só Jesus Cristo acaba, mas deixar faltar papel higiênico e remédio para hipertensão? Isso é gestão. É a ovelha negra do Bernal e tem que ser trocado antes”, opinou.

O vereador também acredita que os responsáveis pela Semadur, Odimar Marcon (cunhado do prefeito), pela EMHA, Amilton Cândido, e a titular da Agetran, Kátia Castilho, também correm o risco de sair. Ele lembra que o cunhado do prefeito não é da área, e que a pasta até tem diretores bons, mas não funciona como deveria.

Carlão elogia a chefe da Agetran, qualificando-a como uma das melhores pessoas que já conheceu, mas diz que ela precisa mudar o pensamento e fazer mudanças urgentes para se manter no cargo. “Ela tem o pensamento bom, mas para o futuro, em 2070, e não dá. É uma das pessoas mais maravilhosas, mas como administradora, pensa muito longe. Tem que mudar. Tem que pensar lá na frente, mas também tem que fazer o feijão com arroz”, analisou.

O vereador também descreve Amarildo como uma boa pessoa, mas também avalia que ele não entende da área. “Campo Grande, neste ano, não fez nada na habitação. De dez pessoas, nove vêm aos gabinetes pedindo casa. Mas lá não tem diretor administrativo, diretor financeiro e nem quem faça projetos. Na EMHA, não funciona nada. Tem que trocar o secretário, mas também dar estrutura”, concluiu.

O vereador Airton Saraiva (DEM) evita dizer quem está na “corda bamba”, mas entende que o secretário de Planejamento, Wanderlei Ben Hur, e Odimar Marcon são os mais cotados para cair. Ele lembra que o titular da Semadur não é eficiente, e hoje a pasta se encontra “paradíssima”. Apesar de citar a fragilidade dos secretários, o vereador ainda tem dúvida se o problema seria com as pastas.

“Não adianta trocar, se os secretários não tiverem autonomia. Um secretário já me falou que leva uma semana para assinar uma coisa. Eles chegam às 10h e só conseguem despachar às 16 h. Tem que ver se este choque vai funcionar. O interessante é a prefeitura andar. Tudo depende da assinatura do prefeito. Se ele não for ágil, tomar iniciativa, não tem secretário eficiente não”, analisou.

Entre os cotados para deixar as pastas, principalmente por questões políticas, já que não estão ligados a nenhum partido, estão os secretários José Chadid (Educação), Dharleng Campos (Sedesc) e Ricardo Ballock (Administração). Chadid mostrou fidelidade ao prefeito ao ser expulso do PSDB para continuar a ajudar a administração. Porém, pode ser sacrificado para que Bernal garanta o PSDB na base de sustentação. O partido tem sérias restrições à maneira como o secretário tem administrado a pasta.

Dharleng também está sofrendo com as críticas dos vereadores. Eles afirmam que, em 10 meses, a prefeitura perdeu vários investimentos por inoperância da pasta. Também há reclamações quanto à gestão da secretária de Assistência Social, Thais Helena. À frente da pasta, a vereadora licenciada foi acusada de deixar faltar comida no Ceinf, oferecer carne com sebo e atrasar até a entrega de material escolar.

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