Prefeito deixou a reunião sem falar com a imprensa, mas segundo secretários deu sinais de que deve procurar a Justiça para se manter no cargo após a possível cassação

O prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal, deixou a reunião desta quarta-feira (25) sem abrir os vidros do automóvel. Ele acenou, mas não parou para falar com a imprensa, assim como a maioria dos secretários, que saíram sem dar declarações.

Ulisses Duarte, ouvidor da prefeitura, disse apenas que Bernal afirmou que ‘confia na Justiça se a decisão for desfavorável amanhã’, dando indícios de que pretende judicializar a questão.

O Secretário de Finanças, Wanderley Ben Hur, que também tem pedido de afastamento do Ministério Público Estadual por improbidade administrativa, quis se justificar.

“Minha parte eu fiz. A parte técnica está certa, o problema na prefeitura é uma questão política”, afirmou.

Bernal convocou o secretariado para uma reunião no dia do Natal na Esplanada de Campo Grande e conversou por cerca de duas horas com seus nomeados da administração municipal.

Segundo o ouvidor da prefeitura, Ulisses Duarte, a reunião marcada com o prefeito foi feita para tentar contornar a crise política.

Duarte foi taxativo ao dizer que não está acompanhando a contabilidade dos votos que poderiam livrar o prefeito da cassação na Câmara, mas acredita que ‘um milagre’ faria os vereadores votarem pelo arquivamento das denúncias.

Compareceram à reunião o Secretário de Educação, José Chadid, expulso do PSDB; Ritva Vieira, da Agência de Regulação; Wanderley Ben Hur, de Finanças; Ricardo Ballock, de Administração, o ouvidor Ulisses Duarte e a Secretária de Assistência Social Thais Helena, além de assessores de comunicação.

Também acompanharam a reunião o diretor do Instituto Municipal de Tecnologia da Informação, Luiz Alberto de Oliveira Azevedo, o superintendente de Comunicação, Djalma Jardim, o diretor-presidente da Fundac, Júlio Cabral e o coordenador da Unidade Multiuso da Assistência Social, Valdir Gomes.

Justiça

Caso recorra, não será a primeira vez que o prefeito de Campo Grande e o advogado Jesus de Oliveira Sobrinho agem judicialmente para derrubar as investigações da Comissão Processante na Justiça. A primeira vez foi após a votação de abertura da Comissão.

Bernal conseguiu liminar suspendendo as investigações da Comissão, logo derrubada para que a Câmara conseguisse dar prosseguimento aos trabalhos. O prefeito seria ouvido pela primeira vez quando conseguiu o recurso e não precisou comparecer à Câmara.

Depois disso, Bernal tentou novamente suspender a Comissão, alegando que a oitiva marcada, que ele não compareceu porque apresentou um atestado médico, havia sido feita sem a presença de um dos três integrantes da Comissão, o então vereador cassado Alceu Bueno (PSL).

A Justiça não concedeu liminar a Bernal, que teve nova chance de depor e simplesmente não compareceu. Agora, o anúncio do chefe do executivo é de que tentará novamente judicializar a questão.

Cassação

Está marcada para esta quinta-feira (26) a votação do relatório da Comissão Processante, que indica a cassação do mandato de prefeito de Bernal. Os vereadores Edil Albuquerque (PMDB), Flávio César (PT do B) e Alceu Bueno (PSL) votaram a favor do relatório.

Os 29 vereadores de Campo Grande devem comparecer amanhã em sessão extraordinária para votar.

Os vereadores da Comissão Processante aguardaram o depoimento público de defesa do prefeito por quatro vezes. Na primeira, Bernal conseguiu uma liminar derrubando as investigações para não depor.

Na segunda vez, pediu adiamento para o dia seguinte. Na terceira, apresentou atestado médico e na quarta vez, não apareceu e mandou o advogado, Jesus de Oliveira Sobrinho.

A Comissão deu então chance do prefeito se explicar por documentos, que foram entregues na segunda-feira (23), em 54 páginas escritas pela defesa. Os vereadores passaram a madrugada analisando a documentação e intimaram Bernal ontem (24), informando que a indicação da Comissão é pela cassação por falta de decoro e irregularidades administrativas.