Drenagem e asfaltamento em Nova Lima são de 2001, em local arenoso, com declive, enxurradas e perto das nascentes, afirmam os moradores.

Moradores da Marques de Herval, que fica nos baixos de Nova Lima, convivem com o drama tão antigo que, possivelmente, acabaram descobrindo a causa que gerou a famosa “cratera” que engoliu um trecho da avenida, e que agora ameaça residências.

A reportagem do Midiamax conversou, longamente, com mais de uma dezena de moradores (que preferem não se identificar) que acompanharam o problema desde o asfaltamento, iniciado em 2001.

Aprendendo na prática, entenderam o significado de “vossorocasou voçorocas”, tanto faz, segundo o dicionário Houaiss:“escavação no solo ou em rocha decomposta causada por erosão do lençol de escoamento de águas pluviais; boçoroca, buracão, vossoroca”.

Muito tempo antes, os índios tupis, que criaram o termo“mboso’roca”, que significa “romper”, já alertavam que a junção de solo arenoso, nascentes d´água, terrenos em declive e enxurradas complicaria a estabilidade das construções assentadas em lugar assim.

E a realidade da Marques de Herval, no ponto do rompimento, reúne todas estas características apontadas pelos seculares tupis.

Um projeto errado de drenagem para asfaltamento nestas condições, só consta nos manuais da construção como exemplo daquilo que não deve ser feito. Segundo os moradores, o que parece ser erro técnico foi exatamente aquilo que ocorreu ali.

Eles contam que a cratera começou a se formar muito antes, por conta da enxurrada que desce para a mata, atravessando por cima da Marques de Herval. Quando ocorreu a pavimentação, em 2001, o problema já era bem conhecido. Se ainda não fosse, um projeto de engenharia consistente detectaria a característica do lugar, apontando soluções.

A correnteza ali é tão forte que arrancou pedaços do asfalto. Na mata, repleta de nascentes que formam o córrego do Segredo, a enxurrada foi “comendo”o terreno arenoso, aos poucos, como mostram imagens do Google.

Os moradores contam que em “toda chuvarada a água desce, atravessa a avenida, entra para a mata e vai alargando a vassoroca”. Aliás – apontam eles – uma das nascentes fica bem ao pé do asfalto. Hoje, nascente escorre lá no fundo do “buracão”.

Obra é do tempo de Puccineli e Giroto na prefeitura
A avenida foi construída pela prefeitura de Campo Grande, na gestão comandada por André Puccinelli, sob o comando de seu secretário de Obras, Edson Giroto. As placas comemorativas à inauguração do asfalto ainda estão lá, mas não se sabe o por quê de estarem sem as letras que identificam a obra.

Em outras placas nas proximidades, sempre constam, em letras grandes,“Drenagem e Pavimentação”, seguidas do número da obra, seu endereço, e a data,com o nome “André Puccinelli”. Provavelmente, no dia da inauguração, a dupla André/Giroto estava lá. 

No lugar inaugurado com festa, as bocas de lobo da drenagem não dão conta de escoar a enorme enxurrada que desce das ruas arenosas, em uma região nitidamente em declive.

Para tornar a situação mais crítica, parte das águas escoadas pelas galerias pluviais tem o mesmo destino – a mata, segundo os moradores. Dizem ainda que pagaram o asfaltamento, em um carnê mensal, com o preço em torno de R$ 2.000,00 por domicílio.

Eles chegaram a dizer mais, que o esgoto “in natura”do lugar é descarregado no meio da mata, transformando o local em foco de doenças infectocontagiosas.

A reportagem colheu imagens e vídeos de antes do desastre do começo de outubro, onde se pode notar aquilo que os moradores descrevem.

Pelas imagens de satélite do local, do Google, nota-se que ali existem três ou quatro “braços” de vossorocas gigantes.

Segundo os moradores, depois do desastre, receberam propaganda do agora deputado Giroto, dizendo que já havia obtiddo cerca de R$ 4 milhões para recuperar o local. Informação semelhantes consta no site do deputado, mas com número maiores: R$ 5,4 milhões solicitados ao ministério da Integração Nacional.

O site traz uma fala de Giroto: “Não poderia ficar de braços cruzados neste momento em que o cidadão campo-grandense vive situação de risco. Por isso, vim a Brasília para agilizar a liberação do recurso previsto desde abril. Mostrei o drama vivido pelas famílias e enfatizei a necessidade de liberação imediata”.

Veja fotos e vídeo de antes do desabamento, extraídos do You Tube, e imagens da cratera de Nova Lima.