Semana: Puccinelli quer dar casas a ‘cupinchas’ e vereador preso leva sapatada

E, mais, Artuzi é expulso do PDT e livro relata envolvimento de parlamentares federais em esquema de corrupção

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E, mais, Artuzi é expulso do PDT e livro relata envolvimento de parlamentares federais em esquema de corrupção

Uma categoria peculiar de mutuários da habitação em Mato Grosso do Sul ficou conhecida nesta semana ao ser apresentada pelo governador André Puccinelli (PMDB): os “cupinchas”. Em evento no interior, ele prometeu distribuir casas populares para vereadores (aliados e comportados) indicarem seus “cupinchas”.

A atitude do governador causou revolta à oposição que está acionando a Justiça contra ele. Alvo de revolta também foi o vereador Aurélio Bonatto (PDT), de Dourados. O parlamentar que esteve preso na Operação Uragano, da Polícia Federal, tentou abrir a sessão plenária da Câmara quando foi atingido por uma sapatada. As imagens ganharam o noticiário nacional.

Também nesta semana, a infidelidade partidária veio à tona, por parte de lideranças expressivas e sem qualquer constrangimento. O presidente da Assembléia, Jerson Domingos (PMDB), revelou apoiar a reeleição do senador Delcídio do Amaral (PT) que é do grupo adversário. Puccinelli também não demonstra apego à fidelidade. Em Corumbá disse que serão eleitos para o Senado Waldemir Moka (PMDB) e o senador Delcídio.

O outro candidato ao Senado do grupo de Puccinelli, Murilo Zauith (DEM) voltou a viver turbulências em sua já frágil tentativa de fazer uma boa campanha. O primeiro-suplente dele, o vice-prefeito de Campo Grande, Edil Albuquerque (PMDB), mais uma vez, desistiu da candidatura. Está cansado da falta de empenho do PMDB e do descaso de Puccinelli.

A semana foi negra também para o prefeito de Dourados, Ari Artuzi, que está preso em Campo Grande, desde 1º de setembro, acusado de chefiar esquema de corrupção em Dourados. A executiva estadual do PDT o expulsou do partido.

Artuzi é ainda o personagem central do livro A Máfia de Paletó, do jornalista e secretário de Governo, Eleandro Passaia, que agiu como espião da Polícia Federal e filmou todo o esquema de corrupção que envolvia prefeitura e Câmara. A publicação já está sendo vendida nas livrarias da cidade.

Pode por “cupincha” tem problema

O governador foi gravado em duas solenidades em Ivinhema e Pedro Gomes sugerindo a distribuição política de casas populares.

Na primeira solenidade, o governador promete 10 casas para cada vereador fazer indicações de beneficiários. Porém, conforme Puccinelli, para ser merecedor o parlamentar tem que “se comportar”.

“Se você se comportar e os vereadores se comportarem, vão bem e nós vamos fazer uma parceria aqui. (…) quantos vereadores nós temos aqui da nossa base? Vamos tentar recuperar todos”, diz.

Ainda nas gravações, Puccinelli demonstra ignorar as prioridades elencadas nos programas sociais de moradia e age como se fosse ele próprio o distribuidor das casas. “O tio André aqui vai dar casas pra vocês”. “Pode por cupincha, não tem problema nenhum, desde que preencha os critérios”, afirma.

O PT considera que o governador cometeu crime eleitoral ao prometer moradias para vereadores aliados. O partido acionou a Procuradoria Regional Eleitoral pedindo uma investigação eleitoral contra Puccinelli. Outra medida será o ingresso de ação, na Justiça Eleitoral, por promoção pessoal.

Antes de a semana terminar, contudo, foi Puccinelli quem decidiu brigar na Justiça contra os vídeos. A coligação encabeçada por ele “Amor, Trabalho e Fé” conseguiu uma liminar que suspendeu a exibição das imagens. No PT, a atitude foi vista como uma censura.

A indignação expressa em sapatada

Segundo-secretário da Câmara de Dourados, Aurélio Bonatto, é um dos nove vereadores que esteve preso na Operação Uragano que desmantelou esquema de corrupção chefiado pelo prefeito Ari Artuzi que está preso em Campo Grande.

Bonatto que aparece em vídeo recebendo dinheiro que seria de propina tentava abrir a sessão plenária na Câmara quando levou a fatídica sapatada. O calçado foi atirado por Adailton Castro de Souza, 35, que disse ter ficado indignado com a presença do parlamentar na sessão.

No dia da sapatada, a Câmara estava lotada. Havia manifestante até do lado de fora que não conseguiu entrar. Do auditório, populares gritavam palavras de ordem e atiravam moedas nos vereadores envolvidos no esquema de corrupção. Além de Bonatto, Júlio Artuzi (PRB) que também esteve preso compareceu à sessão que nem chegou a ser aberta em decorrência da “falta de segurança”.

Adailton foi detido pela polícia e não encontrou mais seu calçado. Ele contou, mais tarde, que sua atitude não foi planejada, porém não se conteve ao ver o vereador na sessão. Adailton reclama da saúde pública na cidade. A mãe e a filha dele não conseguem atendimento nos postos de saúde.

“Acredito que o descaso com a minha mãe a minha filha seja o motivo principal do meu ato, mas o desrespeito com o cidadão e com o dinheiro público também contribuiu para que eu fosse à Câmara e praticasse este ato”, justificou Adailton que diz não temer represálias.

Dos nove vereadores detidos na operação, três continuam presos. Dois pediram afastamento temporário. A Câmara está convocando os suplentes para repor seus quadros e alcançar quorum para votações.

Enquanto isso, o MPE (Ministério Público Estadual) age judicialmente para garantir o afastamento de todos os agentes públicos envolvidos no escândalo e ainda bloquear os bens de autoridades e servidores acusados de receber propina no esquema.

Infidelidade

Tanto Puccinelli quanto Jerson Domingos apostam na vitória do senador Delcídio do Amaral e não na do aliado Murilo Zauith. Foi o que eles mesmos declararam nesta semana.

Em Corumbá, cidade de origem de Delcídio, Puccinelli foi direto ao expressar seu pensamento. . “Eu acho que nós vamos fazer dois senadores que começam com o número 1. É 151 e 138”, declarou o governador avaliando que Moka (candidato do PMDB com o número 151) e Delcídio (petista que concorre à reeleição ao Senado com o número 138), serão eleitos em 03 de outubro.

Perguntado sobre como ficava Murilo Zauith, o chefedo Executivo Estadual disse que expressara sua opinião. “Eu respondi o que eu acho que o povo vai votar. Eu respondi os que eu acho que vão ganhar”.

Na Assembléia, Jerson foi por um caminho parecido. Anunciou apoio a Delcídio em entrevista coletiva e citou as razões. “Sou Delcídio e Moka. Eu não poderia agir diferente. O suplente de Delcídio é meu cunhado como é que eu poderia não apoiá-lo”, disse Jerson referindo-se a Pedro Chaves que é casado com a irmã dele, Reny Chaves.

Jerson avaliou ainda que Murilo enfrenta problemas atualmente porque não alicerçou sua candidatura quando a lançou. “Ele esteve totalmente ausente das administrações municipais. Qual é o compromisso que os prefeitos terão com este candidato? O Delcídio atendeu os prefeitos”, ressaltou.

Edil depois que anunciou a desistência não falou mais publicamente no assunto. Já Murilo limitou-se a dizer que se trata de um problema do PMDB e que, se dependesse dele, o vice-prefeito continuaria em sua suplência.

Expulso, mas não surpreso

Foi sem qualquer surpresa que Artuzi recebeu a notícia de que fora expulso do PDT, segundo seu advogado, Carlos Marques. “Ele já imaginava que isso fosse acontecer. Artuzi já tinha desgastes políticos com o partido. Não foi uma surpresa”, conta.

Em nota encaminhada à imprensa ontem, o presidente regional do PDT, deputado federal, Dagoberto Nogueira, pontua três questões que levaram a executiva a tomar tal decisão: Artuzi é réu em processo crime com denúncia recebida pelo Tribunal de Justiça; as novas evidências de corrupção divulgadas nos últimos dias pela imprensa de todo o País e, por último, um grave ato de indisciplina partidária.

O PDT na engoliu o fato de Artuzi ter declarado apoio a Puccinelli quando o partido está aliado a Zeca do PT. Além de expulsar Artuzi, o PDT também dissolveu todo o diretório do partido em Dourados que era chefiado por nomes ligados ao prefeito. O presidente era Edvaldo Moreira que está preso por envolvimento no esquema de corrupção supostamente comandado por Artuzi.

Agora, a legenda passa a ser comandada provisoriamente por Zé Elias, ex-prefeito do município. Caberá à nova comissão reorganizar o partido e iniciar o processo para apurar o envolvimento dos vereadores Aurélio Bonatto, Edvaldo Moreira e Junior Teixeira no escândalo de corrupção, desbaratado na Operação Uragano.

Livro traz mais desconforto a políticos

Num trecho da obra, Eleadro Passaia, diz que “deputados federais e senadores” também estariam implicados no esquema de corrupção, supostamente chefiado pelo prefeito da cidade, Ari Artuzi, do PDT, ainda preso.

“A Secretaria de Obras é o negócio mais rentável do mundo do crime político”, escreveu Passaia. De acordo com o jornalista os políticos cobram do prefeito uma porcentagem dos recursos enviados ao município por meio das emendas parlamentares. Num dos capítulos, Passaia dedica a um suposto acordo envolvendo a prefeitura de Dourados e o senador Delcídio do Amaral, do PT.

O jornalista diz que por meio de gravações entregues à Polícia Federal, descobriu que o senador teria cobrado uma espécie de comissão sobre R$ 33 milhões, recurso destinado a construção de obras de drenagem numa região pobre de Dourados.

Ainda segundo a obra, nessa bolada dos R$ 33 milhões, uma parcela do dinheiro teria ido a um servidor de boa patente que trabalha no Ministério das Cidades, de onde saiu o recurso por meio de emenda de Delcídio.

O jornalista cita ainda os deputados federais Marçal Filho, do PMDB, Antonio Carlos Biffi, do PT, Geraldo Resende, do PMDB, Vander Loubet do PT, Dagoberto Nogueira, do PDT.

Colaboraram: Celso Bejarano, Éser Cáceres, Liziane Berrocal e Nicanor Coelho, de Dourados

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