“Moka, você está proibido de ultrapassar o nosso senador Delcídio”, disse Puccinelli pedindo votos para Waldemir no reduto eleitoral de Delcídio do Amaral. Governador também disse que pesquisa tinha “número fajuto”. OUÇA A GRAVAÇÃO.

Ouça o áudio

André Puccinelli (PMDB) finalmente admitiu em público a proximidade política com Delcídio do Amaral, candidato pelo PT. Durante evento realizado no último dia 2 de agosto em Corumbá, reduto eleitoral de Delcídio, o governador “proibiu”, em tom de gozação, que Moka ultrapasse o senador petista nas pesquisas enquanto pedia voto para Waldemir sem citar o outro candidato que teoricamente apóia, Murilo Zauith, atual vice-governador.

“Você começou a comer cedo, Moka! Aguenta o fôlego, senão você ultrapassa! E você está proibido de ultrapassar o nosso senador Delcídio”, gracejou Puccinelli arrancando risos da platéia, formada basicamente por cabos eleitorais da coligação Amor, Trabalho e Fé.

As declarações polêmicas não param por ai, e foram gravadas no mesmo evento de Corumbá no qual o governador prometeu dobrar o número de famílias atendidas pelo Vale Renda condicionando a promessa à eleição de um candidato que apóia para deputado estadual.

Puccinelli disse à platéia que o senador petista havia telefonado para ele pouco antes do evento para avisar sobre a pesquisa do Ibope, que só seria veiculada horas mais tarde do telefonema, pela TV Morena, na segunda edição do jornal MSTV às 18h59 de dois de agosto.

“Me telefonando, o senador Delcídio me disse: André, dê uma olhada na televisão hoje. E ele não quis me contar qual é o segredo. Quem assistiu à TV Morena hoje?”, anunciou o governador em clima de apresentador de tevê animando o auditório.

Delcídio desmente telefonema

O senador negou. Delcídio do Amaral reagiu com indignação à informação de que teria telefonado para o André Puccinelli no dia em que o governador disse. Segundo a assessoria do petista, “ele nega peremptoriamente qualquer contato com o governador ou suposto acesso à pesquisa veiculada pela TV Morena, até porque no dia 2 de agosto estava internado em um hospital de São Paulo dando continuidade ao tratamento que faz contra as seqüelas da dengue”.

Amaral, ainda através da assessoria, garantiu que há vários dias não teria mais conversado com o governador, seja de forma presencial ou por telefone. “Delcídio faz questão de deixar claro que este tipo de procedimento não faz parte de seu comportamento e repudia qualquer insinuação nesse sentido”, informou em nota à reportagem.

“Deram um número fajuto…”

No entanto, as declarações de Puccinelli implicando Delcídio foram gravadas na presença de dezenas de pessoas. O governador comemorou os resultados da pesquisa com um discurso que colocou em dúvida a credibilidade dos levantamentos eleitorais feitos em Mato Grosso do Sul.

“Quem assistiu à TV Morena? Porque a 15 dias atrás deram um número fajuto pro senador. Quanto é que estava o senador lá? 59. Tinham posto 49 lá… O Ibope que colocou. 59 pro senador, 32 pro Dagoberto, 31 o Moka”, listou Puccinelli referindo-se a Amaral sempre como “o senador”.

A pesquisa foi realizada através de terceirização pelo Instituto Referencial, de Mato Grosso do Sul, que não se manifestou sobre o assunto. “Alguma coisa está muito estranha. Nós nem tivemos acesso ao resultado completo antes da veiculação. Além disso, não podemos dar nenhuma declaração, pois o Ibope responde pela pesquisa”, explicou a gerência.

Segundo a assessoria de imprensa de Puccinelli, ele não teve a intenção de fazer acusação para nenhum instituto de pesquisa. “Ele se referiu a duas pesquisas apenas para comparar”. Com relação ao fato de o senador Delcídio desmentir que tenha ligado para o governador, a assessoria disse que teria de se informar melhor para comentar.

O Ibope, que vendeu a pesquisa citada por André Puccinelli por R$ 82 mil reais pagos pela Associação Comercial de Campo Grande, procurado para explicar sobre porque Delcídio teria telefonado para o governador informando sobre os resultados da pesquisa antes mesmo da divulgação oficial, disse que o único fato público seria a data da veiculação, disponível pelo site do TSE.

O Ibope foi procurado para falar sobre a gravação e, por meio da assessoria de imprensa, informou que responderia assim que possível. Até o momento da publicação, não houve resposta do Instituto.