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Política

Por apoio do PMDB, PT encolhe mais de 1,5 milhão de votos

Uma comparação entre as duas últimas eleições presidenciais mostra que nas eleições deste ano o PT perdeu mais de 1,5 milhão de votos em oito Estados em que não lançou candidatos a governador para apoiar peemedebistas. O fracasso da estratégia aliancista, imposta pelo comando nacional do PMDB como condição para apoiar a candidatura de Dilma […]
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Uma comparação entre as duas últimas eleições presidenciais mostra que nas eleições deste ano o PT perdeu mais de 1,5 milhão de votos em oito Estados em que não lançou candidatos a governador para apoiar peemedebistas. O fracasso da estratégia aliancista, imposta pelo comando nacional do PMDB como condição para apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência, ocorreu mesmo onde a petista venceu, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, segundo levantamento feito pelo Estado a partir dos números dos segundos turnos de 2006, quando os dois partidos não se coligaram, e 2010, quando a aliança foi formal. Somados, os dois Estados deram a Dilma, este ano, 1.186.584 de votos a menos em relação ao pleito anterior, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito.

O argumento de que era indispensável ceder, em alguns Estados, a cabeça de chapa ao PMDB foi brandido dentro e fora do PT para levar os petistas à aliança – em 2006, os peemedebistas só apoiaram Lula no segundo turno. Por isso, o Palácio do Planalto e a direção nacional petista pressionaram duramente algumas das seções estaduais do partido, como a fluminense e a mineira, para que não lançassem candidatos próprios a governador e apoiassem o PMDB. No Rio, a pré-candidatura de Lindberg Farias a governador foi descartada a pedido do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), que queria a reeleição. Em Minas, o PT nacional impôs o apoio a Hélio Costa (PMDB).

Embora tenham se dado em um cenário de recuo do voto petista em todo o País em relação à eleição anterior, os resultados de 31 de outubro mostraram o limite dessa estratégia. No Rio, onde, no primeiro turno de 2006, o presidente Lula tinha como candidatos a governador Marcelo Crivella (PRB) e Vladimir Palmeira (PT), ele teve, no segundo – quando Cabral Filho o apoiou – 69,68% da votação, 5.532.584 dos votos.

Em 2010, com a coalizão com o PMDB desde o primeiro turno – e sem outros candidatos do campo governista na disputa – Dilma conseguiu 60,48%, 4.933.926 votos, uma queda de 598.658. Em Minas Gerais, onde o PMDB deu o vice da chapa petista de Nilmário Miranda em 2006, Lula teve, no segundo turno daquele ano, 6.808.417 votos (65,19%). Quatro anos depois, com Costa, Dilma teve em segundo turno 6.220.125 votos (58,45%). O recuo foi de 588.292.

Nos oito Estados em que o PMDB chefiou as coligações para disputar os governos estaduais em 2010, Dilma teve, no segundo turno, 17.591.930. Nesses mesmos Estados, quatro anos antes, o presidente Lula obtivera 19.141.532, mais 1.549.602, em um eleitorado menor. Ocorreram quedas em Rondônia, de 55,32% para 47,37%; no Maranhão, de 84,63% para 79,09% (embora, em números absolutos, tenha crescido 13.626 votos); na Paraíba, de 75,01% para 61,55%; em Goiás, de 54,78% para 49,25%; em Tocantins, de 70,26% para 58,88%; e em Mato Grosso, de 49,69% para 48,89% (apesar de ter subido, nominalmente, 18.570 votos).

Um dos articuladores peemedebistas, o deputado federal Eduardo Cunha (RJ) minimiza a diferença de resultados. “No segundo turno de 2006, os peemedebistas que não votaram em Lula foram os mesmos que não votaram em Dilma em 2010: Rio Grande do Sul, São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul”, diz. “Em 2006, em primeiro lugar, o candidato era o Lula. Não pode comparar. Tinha do outro lado o (Geraldo) Alckmin. O Serra foi mais forte. E teve todo um contexto de política agora, a questão das privatizações foi mais combatida pelo Serra.”

Cunha diz não acreditar que o recuo na votação reduza o espaço do PMDB no governo. “A gente fez um pacto: só quem fala a respeito (de cargos) é (o vice-presidente eleito) Michel Temer. Mas acho que qualquer fator que não seja político não será decisivo. As nomeações vão ser definidas pela presidente com base em critérios políticos.”

Decadência. Para o cientista político Jairo Marconi Nicolau, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), os resultados que PMDB obteve em 2010 expuseram um partido enfraquecido nos Estados e com uma bancada menor do que se imaginava (77 deputados). Ele diz que muitos dos antigos quadros do partido foram derrotados (como Jarbas Vasconcellos, em Pernambuco) ou estão em fim de carreira (como Pedro Simon, no Rio Grande do Sul). “Claro que não tem como o PT rodar o filme para trás e fazer de novo a eleição, sem o PMDB, para ver se dava”, diz. “Mas o PMDB vendeu caro a sua participação na campanha.”

Nicolau considera “perigoso” o modelo que, segundo ele, tem sido seguido pelo partido – uma legenda sem referência nacional, ocupando o que chamou de “centro pragmático”, como o PTB e o PP, tendo participado de quase todos os governos desde a redemocratização, inclusive os do PSDB e do PT, ocupando cargos na máquina pública.

“São partidos que aceitam papéis secundários no plano nacional”, afirma, lembrando que o PMDB foi tragado pela polarização entre o petismo e os tucanos. “Se (uma legenda) não disputa valores, a tendência é perder força.” Ele lembra que esse foi o caminho do antigo PFL (atual DEM) desde 2002. “De lá para cá, o DEM perdeu 30 deputados federais. O problema do PMDB é que vem perdendo força, vitalidade, não tem projeto de País”, explica.

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