O setor mais afetado é a ortopedia

Boa parte dos atendimentos da Santa Casa de Campo Grande é de pacientes que se envolveram em acidentes de trânsito. Imprudência, álcool e velocidade continuam sendo os grandes inimigos do trânsito e causadores de vítimas, que quando não fatais, levam para sempre as marcas do acidente.

É comum, segundo o diretor clínico da Santa Casa, José Mauro Filho, os acidentes deixarem sequelas. Muitas irreversíveis. E o pior, para maioria dos acidentes, sequelas que vão levar para o resto da vida. Já que 45% das vítimas atendidas na ortopedia da Santa Casa, de envolvidos em acidentes, são jovens entre 20 e 40 anos. “Eles estão em plena idade produtiva e muitos ficam impossibilitados de trabalhar, ou temporariamente, ou definitivamente”, diz.

O custo do mal comportamento no trânsito deixa sequelas por onde passa. Dos altos valores dos procedimentos, já que nem todos são cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) ao aumento de usuários da previdência, já que muitos terão que se porque ficou impossibilitado de exercer suas atividades.

A assessoria de imprensa da Santa Casa exemplificou com dois casos. No caso A, o paciente passa por um “tratamento de traumatologia” em que houve um grande número de procedimento, como redução cirúrgica de fratura dos ossos, atendimento fisioterapêutico, diárias de UTI, ecocardiografia, osteossíntese, placa de titânio, reconstrução de mandíbula/maxila, transfusão, ultrassonografia, entre outros. A receita total paga pelo SUS é de R$ 14.622,76 e o custo para o hospital é 156,21% maior que a receita, ficando em R$ 37.465,38. Prejuízo de 22.842,62 para o hospital.

Vítimas do trânsito são 50% dos pacientes e custam caro para hospitais

No caso B, o paciente passa também por um “tratamento de traumatologia” em que foram realizados procedimentos como atendimento fisioterapêutico, dissecção de veia/artéria, haste femoral longa (inclui parafusos), hemodialise, passagem de sonda, placa de compressão dinâmica, ressonância, transfusão, tratamento cirúrgico de fratura da diáfise do úmero e de fratura subtrocanteriana. A receita total paga pelo SUS é de de R$ 34.339,39 e o custo para o hospital é de R$ 49.916,37. Prejuízo de 15.576,98.

Segundo a assessoria, essa discrepância entre o que o SUS paga, e alto número de acidentes, faz com que investimentos no hospital rejam reduzidos. Já que a cada atendimento o hospital amarga custos que não são pagos nem pelo usuário, nem pelo SUS.

Para o diretor clínico da Santa Casa, a solução para as contas que não fecham é tratar o problema, que é a prevenção e não a consequência que é o trânsito. “O fluxo no hospital só aumenta. Estamos tratando a consequência, o melhor e mais barato tratamento é a prevenção. Precisa ter educação e repressão”, diz.

Dentre as políticas públicas para solucionar o problema no trânsito, ele pontua o investimento no transporte coletivo. “O que se vê hoje é o contrário. Vemos cada vez mais veículos individuais circulando. Falta investimento no transporte público”, diz.

Outra medida, é rigor na legislação. “As leis existem, mas não são cumpridas. Não conseguem punir ninguém”, afirma. Como exemplo cita caso de dentro do hospital onde o médico foi processado por paciente alcoolizado. “Já aconteceu de denunciarmos o paciente que chegou bêbado e depois ele processar o médico. A lei protege e a gente fica de mão atada”, critica.

Para ele, toda essa falta de estrutura, que vai da falta de politica pública, a falta de rigor na aplicação da lei, causa a superlotação dos hospitais, já que os acidentes não diminuem. E por consequência, as filas de atendimento também não param de crescer. “Quando deixamos de atender um paciente na fila, é porque estamos atendendo outro na emergência. O fraturado”, diz.

Números da ortopedia

Do total de atendimentos, 45% são vítimas de trânsito. Destes, 70% são homens e 30% mulheres. Boa parte deles, 45$ são pessoas em idade ativa, entre 20 e 40 anos. 90% dos acidentados estavam em motocicletas.

30% dos procedimentos são de pequeno porte, que vai de ferimentos a fratura expostas no dedo, por exemplo. 40% são de média complexidade, que vai de fratura de punho a cotovelo e patela. Os outros 30% são traumas complexos, que exigem mais dias de internação e mais recursos do hospital. Nesse caso as fraturas são de joelho, pelve, coxa e ombro.

O hospital atende em média de 700 a 800 pacientes por mês na ortopedia e realiza 1,2 mil cirurgias, o que representa praticamente a metade das cirurgias realizadas em todo o hospital – 2,5 mil, ao mês.