Com mais de 2 mil integrantes espalhados pelo mundo, a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) é dominante em Mato Grosso do Sul. O Estado já virou palco de guerra pelo domínio da rota do narcotráfico entre o PCC e o CV (Comando Vermelho).
Conforme mapeamento feito pelo MPMS (Ministério Público Estadual) de São Paulo, integrantes da facção estão presentes em ao menos 28 países. O documento detalhou como o grupo se infiltrou em prisões estrangeiras para fortalecer sua rede de tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro, além de recrutar novos integrantes.
Na América do Sul o relatório aponta que o PCC tem membros em todos os países, da Argentina à Venezuela, mas com maior número de membros no Paraguai, com 699 membros da facção — sendo 341 presos e 353 em liberdade.
Já na América do Norte, a facção está presente no México, com três membros, e nos Estados Unidos, com 15, sendo dois dentro do sistema prisional, segundo o jornal Metrópoles. Na Europa, o PCC está em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Irlanda e Portugal, onde há maior concentração de membros do grupo criminoso — 29 presos e 58 em liberdade.
Países na América do Sul, além do Brasil, com membros do PCC:
- Argentina
- Bolívia
- Chile
- Colômbia
- Equador
- Guiana
- Guiana Francesa
- Paraguai
- Peru
- Suriname
- Uruguai
- Venezuela
Guerra pela rota do tráfico
Tanto o PCC (Primeiro Comando da Capital) quanto o CV (Comando Vermelho) estão de olho na ‘rota fácil’ para o narcotráfico que as rodovias de Mato Grosso do Sul representam. Assim, fatores como a grande faixa de fronteira com o Paraguai e a Bolívia e a proximidade com rotas de escoamento para cocaína, maconha e drogas sintéticas fazem de MS área cobiçada por traficantes e contrabandistas.
Além disso, problemas estruturais no policiamento ostensivo, como corrupção de servidores da segurança pública e o baixo investimento em inteligência, aumentam o risco de MS virar palco de uma guerra que as duas facções nunca levaram até o fim em outros territórios disputados.
Com esta tática de ‘agressão contida’, o PCC, que surgiu em São Paulo, acabou dominando Mato Grosso do Sul. Já o CV, originário do Rio de Janeiro, manteve ‘pontos de interesse’ e dominou Mato Grosso.
Disputa pelo poder econômico
A disputa pelo poder econômico estaria ligada à guerra de facções entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), com a vinda de membros da facção rival do estado de Mato Grosso para a cidade de Sonora, a 361 quilômetros de Campo Grande. Ao menos seis assassinatos estariam ligados ao conflito travado entre as facções.
Dois membros do Comando Vermelho foram vistos circulando pela cidade, e, segundo moradores, eram pessoas estranhas que nunca foram vistas antes no município. Os dois estavam em uma motocicleta, de cor preta, que teria sido usada em homicídios anteriores na cidade.
Os dois foram vistos atirando contra três homens em uma calçada. Com a chegada das forças policiais à cidade para combater a guerra entre PCC e CV, foi encontrado um depósito de drogas que era mantido pelo Comando Vermelho em Sonora.
‘Sherek’, faccionado do Comando Vermelho, foi preso na última quinta-feira (28), quando os policiais descobriram o depósito de drogas. Durante sua prisão, ele ainda teria gritado “aqui é o comando”, fazendo menção à facção do CV.
Um dos supostos membros do Comando Vermelho, que teria tentado matar três homens na cidade, conseguiu fugir. Segundo informações, ele seria de Pedra Preta, em Mato Grosso.
Expansão do PCC em Mato Grosso do Sul
Foi no Estado onde começou a expansão da facção na década de 1990, quando São Paulo tentava isolar lideranças e, sem avisar, trocou presos considerados ‘problemas’ no estado pelos dois líderes da facção que se tornaria uma das maiores da atualidade: César Augusto, conhecido como ‘Cezinha’, veio para Mato Grosso do Sul; e a outra liderança, José Márcio Felício, conhecido como ‘Geleião’, foi levado para o Paraná.
E assim começou a expansão do PCC para outros estados brasileiros. O Governo do Estado na época não tinha ideia de que ‘Cezinha’ era líder de uma facção criminosa. “Carismático, tinha facilidade de comunicação. Ele fazia discursos para a massa carcerária”, comentou o promotor de Justiça do estado de São Paulo, Márcio Sérgio, autor do livro “Laços de Sangue – A História Secreta do PCC”, em entrevista para o Jornal Midiamax.
Sem restrição nenhuma dentro da penitenciária sul-mato-grossense, já que ‘Cezinha’ era visto como um preso comum, ele passou a reproduzir no presídio do Estado o mesmo que era feito no interior paulista, segundo o promotor de Justiça e especialista no PCC, Márcio Sérgio. Assim, nasce no Estado o PCC. A facção se espalhou tanto em Mato Grosso do Sul como no Paraná.
De lá para cá, a facção se especializou e modernizou, criando um organograma, com subdivisões e tarefas específicas. Toda esta ‘modernização’ veio depois de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como ‘Marcola’ e líder da facção na atualidade, que ficou preso por cerca de 1 ano com Maurício Hernandes, conhecido como ‘Capitão Ramiro’ — militar treinado no exército da Bulgária.
‘Capitão Ramiro’ foi um dos mentores do sequestro do publicitário Washington Olivetto, que ficou 53 dias em cativeiro, entre 2001 e 2002. Após este tempo em companhia do militar, ‘Marcola’ implementou novas diretrizes no PCC, que tem ‘planos de carreira’ no submundo do crime. A facção é do tráfico de drogas, como diz Márcio Sérgio. “Ninguém trafica sem o PCC permitir, porque vai ser eliminado pela facção”, diz o promotor.
“O PCC exerce a tirania e, se você não se submete, ele [facção] te mata. Exerce poder de vida e morte”, fala o promotor paulista. Em Mato Grosso do Sul, a facção é dominante e detém a rota da Bolívia, de onde sai a cocaína para o resto do país e para a Europa.
Segundo o promotor paulista, a rota da Bolívia é uma das mais importantes para a facção que tentou ‘tomar’ do CV (Comando Vermelho) a rota dos Solimões, que fica no Norte do país, mas não conseguiu. “Eles querem o monopólio”, disse Márcio Sérgio.
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