O atentado contra o traficante identificado como Pedro Henrique planejado há 2 semanas, em Campo Grande, que acabou na morte de Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de 13 anos, por engano, está sendo investigado pelas autoridades policiais. Isso porque a arma usada foi ‘arrumada’ dentro do Presídio de Segurança Máxima. Cinco envolvidos no crime foram presos entre o fim de semana e esta segunda-feira (6), sendo que um deles se entregou.

Na tarde desta segunda, os delegados Guilherme Scucuglia Cezar e Pedro Henrique Pillar Cunha, do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) revelaram que a motivação da execução seria uma disputa pelo tráfico de drogas na região do Jardim das Hortências. 

Na noite de sexta-feira (3), dois homens em uma motocicleta foram até a Rua Flor de Maio, Jardim das Hortências, e efetuaram cerca de 14 disparos contra o alvo. Porém, os tiros atingiram os adolescentes Aysla e Silas, que tomavam tereré em frente de casa. O alvo, Pedro Henrique, ficou ferido na perna. 

As equipes do Garras foram informadas sobre o homicídio e iniciou as diligências para apurar os fatos, somando forças com o GOI (Grupo de Operações e Investigações), Batalhão de Choque da Polícia Militar e Polícia Penal. 

Cinco pessoas foram presas, entre elas um motorista de aplicativo que deu apoio a dupla que efetuou os disparos. Um dos presos, Kleverton Bibiano Apolinário da Silva, já estava encarcerado na Máxima e estaria ‘monitorando em tempo real’ os passos de policiais que atuam na elucidação do duplo assassinato. Ele foi levado para o Garras para ser ouvido. 

A execução de Pedro Henrique estava sendo planejada há pelo menos 2 semanas, segundo apurou o Garras. Ele também foi ouvido na delegacia.

Ainda conforme a especializada, o motorista de aplicativo foi quem buscou a dupla que atirou contra os adolescentes na noite de sexta (3). A dupla fez os disparos com a motocicleta em movimento, abandonou o veículo – roubado no dia 8 de abril na região das Moreninhas -, e entrou no carro de aplicativo. 

O carro usado para dar o apoio era alugado, mas não especificamente para a execução. O motorista usava para trabalhar e a suspeita é de que o mesmo fazia corridas particulares para um dos envolvidos. 

Após as prisões no fim de semana, os suspeitos foram ouvidos e as versões levadas por eles foram confrontadas pelos policiais, conforme as informações já obtidas em relação ao crime ocorrido na noite de sexta-feira (3).

À direita, delegado Guilherme Scucuglia e à esquerda, delegado Pedro Henrique. (Foto: Ana Laura Menegat, Midiamax)

Os indivíduos presos responderão por dois homicídios qualificados na modalidade consumada e um homicídio tentado. Além disso, foram atribuídas 3 qualificadoras aos criminosos, são elas: motivo torpe, menores de 14 anos e posse ilegal de arma de fogo de uso restrito. O motorista de aplicativo responderá pelos mesmos crimes, mas na modalidade participativa.

Os criminosos aguardam por audiência de custódia, onde o Poder Judiciário decidirá sobre a prisão preventiva ou liberação deles. 

Durante coletiva de imprensa realizada pelo Garras na tarde desta segunda (6), os delegados ressaltaram a importância da soma de forças do GOI, Batalhão de Choque e Polícia Penal, pois, sem esse trabalho conjunto, o resultado não seria o mesmo. 

Para eles, essa é uma boa demonstração da união das forças de segurança pública.

Suspeito de ser o atirador que matou adolescentes se entregou

João Vitor de Souza Mendes, de 19 anos, suspeito de executar Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de 13 anos, por engano, em Campo Grande, se entregou à polícia na tarde desta segunda-feira (6).

O rapaz se entregou na sede do Garras, acompanhado do advogado Amilton Ferreira e três familiares. À reportagem do Jornal Midiamax, o advogado revelou que João Vitor irá se manifestar apenas em juízo. Questionado, Amilton também afirmou que o cliente não tem nenhuma arma de fogo para apresentar.

Arma usada para matar adolescentes foi ‘arrumada’ dentro da Máxima

As execuções dos adolescentes chamaram a atenção para a guerra do tráfico de drogas em andamento nas ruas de Campo Grande. Além disso, revelam como o Presídio de Segurança Máxima da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) se tornou ‘escritório’ de onde traficantes comandam a bandidagem.

De acordo com o apurado pelo Jornal Midiamax, um detento do presídio de Segurança Máxima de Campo Grande estaria implicado no ‘fornecimento’ da pistola usada para matar Aysla e Silas no Jardim Hortência, no último dia 3.

leverton Bibiano Apolinário da Silva estaria por trás do acesso a pelo menos uma das armas usadas no crime. Além disso, de dentro da unidade da Agepen, o preso estaria ‘monitorando em tempo real’ os passos de policiais que atuam na elucidação do duplo assassinato.

No submundo do narcotráfico em Campo Grande, Kleverton é apontado como suposto chefe da venda de drogas na região das Moreninhas. No entanto, de dentro da cadeia, sob custódia e proteção oficial da Agepen, o detento estaria expandido as atividades para outros bairros campo-grandenses.

Assim, estaria com bocas de fumo no bairro Aero Rancho e supostamente organizaria os comparsas para disputa pelo controle do território no Jardim das Hortênsias, onde uma execução por dívida de droga acabou na morte dos dois adolescentes que não tinham nada a ver com a guerra do tráfico.

A reportagem confirmou com documentos oficiais que Kleverton se encontra sob custódia na Segurança Máxima. Segundo servidores da unidade da Agepen, ele chegou a ser ouvido por policiais durante este fim de semana após flagrarem mensagens dele ‘orientando’ os investigados pela morte dos adolescentes.

“O presídio onde o detento está é de segurança máxima só no nome”, concordam servidores da segurança pública de Mato Grosso do Sul que falaram com a reportagem.