A noite desta sexta-feira (22), em Campo Grande, foi marcada por dois casos de cruéis. As vítimas, Daiane Xavier da Silva, de 38 anos, e Renata Andrades de Campos Widal, de 39 anos, foram mortas, respectivamente, pelo marido e irmão. A (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) atendeu aos dois casos.

Em coletiva de imprensa na manhã deste sábado (23), a delegada Rafaela Lobato comentou os resquícios de crueldade dos crimes. No feminicídio de Renata Widal, o irmão a agrediu com socos, depois desfigurou o rosto dela a pedradas e tentou decapitá-la com um serrote. “Foi um caso muito atípico. São irmãos da mesma mãe e mesmo pai. Casos que a gente não vê com muita frequência”.

Delegada Rafaela Lobato comenta feminicídios – (Foto: Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Os irmãos discutiram instantes antes, mas o autor, que confessou o crime após policiais desconfiarem da primeira versão apresentada, não informou o que motivou a briga. Antes de se declarar como autor, o homem chegou a dizer aos policiais que quatro homens invadiram a casa e mataram Renata.

Após o crime, o homem tomou banho, trocou de roupas para ocultar os vestígios e esperou na residência. Conforme a delegada Rafaela Lobato, foi a mãe do autor e da vítima, que mora em uma casa ao lado com mais uma filha, que acionou a polícia. Ela não estava em casa no momento do crime e vizinhos notaram “uma estranheza” no caso. Ao retornar para casa, viu o corpo da filha.

“No local […] ela estava até conseguindo falar, estava sem muito entender, estava forte. Mas quando ela chegou aqui para ser ouvida, deu uma sentida, desabou”, conta.

Para a delegada, o irmão não demonstrou arrependimento pelo crime. Em depoimento à polícia, ele afirmou que estava em “surto” psiquiátrico, o qual já teve anteriormente. “Em tese, ele tentou falar que teve meio que um surto. Não usou essas palavras, mas em tese quis dizer isso […] Na minha concepção, ele estava consciente, porque tomou banho, saiu da casa elaborou uma história estrategicamente para que ele não fosse capturado. Então, ao meu ver, essa história passada não justifica”, comentou Rafaela Lobato.

(Foto: Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Já no segundo caso, o autor, Tiago Echeverria Ribeiro, de 38 anos, era marido de Daiene Xavier da Silva. A delegada Rafaela Lobato contou que o casal havia ingerido bebidas alcoólicas em uma conveniência. Há relatos, também, que ele estivesse sob efeitos de entorpecentes. Depois retornaram para casa onde moram com uma amiga, no Bairro Nova Campo Grande.

Antes de matá-la, o autor passou as mãos nas partes íntimas da esposa, que repreendeu a ação e deu um tapa no rosto dele. Os dois começaram a discutir e Tiago ameaçou matar Daiane. A esposa duvidou, momento em que o autor foi até a cozinha, pegou uma faca e golpeou a esposa na coxa, próximo à virilha.

A delegada da DEAM explica que essa informação foi repassada por testemunhas, e a perícia ainda irá investigar em qual região a facada foi desferida. Questionada se a proximidade do golpe com a virilha possa ter se dado pelo assédio, Rafaela Lobato informou que “é possível, mas reforço que não sabemos com propriedade ainda a região […] pela quantidade de sangue que estava no local, possa ser que tenha sido na região, porque é uma região que vaza muito sangue”.

Ela conseguiu correr até uma vizinha e pedir ajuda. A delegada explica que há apenas um registro passado, de vias de fato, contra o autor, contudo, alguns vizinhos afirmaram aos policiais que o casal costumava discutir com frequência.

Daiane foi levada até a Santa Casa, onde ficou cerca de 2h a 3h, antes de morrer. O casal possui três filhos juntos, que estão com uma tia da vítima. A Defensoria Pública já foi acionada para decidir o destino das crianças. Tiago foi preso pela Polícia na região.

Denúncia

A delegada da DEAM reforça que as vítimas devem denunciar os casos de violência doméstica antes que a situação venha a se tornar um feminicídio. “Esses dois casos que nós tivemos, nunca havia sido trazido alguma situação de violência para a Polícia Civil. Já no segundo, foi há três anos e não existia medida protetiva. Então, o que a gente tenta falar para sociedade é denunciar para que a gente possa atuar antecipadamente”, explica.

(Foto: Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Para Rafaela Lobato, muitos casos poderiam ter sido evitados se a vítima tivesse sido “encorajada o suficiente para denunciar”. A delegada explica que mais de 90% dos casos de feminicídio ocorrem com vítimas que não denunciaram violências anteriores.

Vítimas de violência doméstica ou testemunhas podem denunciar os casos de maneira anônima. Tanto as mulheres quanto seus familiares envolvidos diretamente no núcleo de violência recebem assistência especializada.

Em caso de emergência, ligue 190. Para fazer denúncias ou receber orientações sobre direitos e serviços públicos, disque gratuitamente para 180. Boletins de ocorrência, por sua vez, podem ser registrados diretamente na Deam ou nas DAMs (Delegacias de Atendimento à Mulher) do interior.