Um ano após crime, perda de Geni para o feminicídio deixa trauma e marcas na vida dos filhos
Geni foi assassinada pelo ex em setembro do ano passado em Campo Grande
Mirian Machado –
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Assim como em crianças, o trauma de perder um familiar, ainda mais a mãe assassinada, segue na vida de adultos também, como o caso da Tatiane Brum, 30 anos, filha da Geni da Costa Reis dos Santos, de 48 anos, morta pelo ex-marido no dia 23 de setembro de 2022, na Rua Verde Mares, no Jardim Tarumã, em Campo Grande. O tempo passa, mas as dores na alma continuam e, com elas, o medo anda lado a lado.
Tatiane estava com a mãe no dia do crime. Na época, grávida de 29 semanas, ela também foi ferida junto ao irmão e viu a mãe ser assassinada. Ao Jornal Midiamax, ela relembrou o momento de terror que viveu naquele dia. Com ela, também estava a filha, de 8 anos. “Eu fiquei em choque e ainda tive força para retirar minha filha [de 8 anos] que estava na residência”, lembrou.
Atualmente, um ano após o crime, Tatiane ainda tem sequelas e traumas. Ela foi ferida com duas facadas, na costela e nas costas. Uma facada no lado esquerdo perfurou o pulmão e o diafragma, e precisou passar por cirurgia. Devido aos traumas, Tatiane se mudou para o Paraná.
Outra mudança em sua vida foi o divórcio, que ocorreu por conta do trauma da imagem masculina. A situação começou quando ainda estava no hospital. “No hospital fiquei sabendo que o assassino tinha sofrido um acidente, mas em relação à morte da minha mãe, eu tive que aguentar firme devido à gestação, demorei semanas para conseguir chorar o luto. Eu me sentia aterrorizada mesmo após saber da morte dele [assassino], eu não queria sair do hospital por medo do mundo”, relembrou.
A separação acabou chegando devido à dificuldade de conseguir lidar com a situação. “A volta para casa foi difícil, por meses revivia a cena na minha cabeça, mesmo sabendo que meu ex-marido não faria nada para nos prejudicar. Eu não dormia, eu não tinha paz. Por isso, decidimos nos separar para melhorar minha condição de saúde. Hoje graças a Deus estamos bem, estou dando tempo aqui no Paraná com minhas filhas na casa do meu pai”, contou.
“Ela estava com medo, claro, mas estava feliz com a chegada da bebê. Na época a gravidez havia sido descoberta há um mês e por isso todos estavam muito animados. Sinto falta dela todos os dias. Ter tido minha filha sem ela ao meu lado foi a pior parte depois do que aconteceu e isso me deixou muito deprimida”, lamentou.
A criança de 8 anos, filha da Tatiane, foi criada por Geni como filha, para que ela pudesse trabalhar. “Ela ainda chora às vezes, mas compreendeu que a vovó está no céu como estrelinha cuidando dela. Estamos aguardando o acompanhamento psicológico dela”.
Geni
“Ela não merecia partir assim”, disse Tatiane.
Amiga, pessoa boa para todos, são algumas das qualidades de Geni, segundo a filha. “Ela era meu alicerce em muitas situações. Avó mais incrível ainda, não tenho palavras para descrever. Sentimos muitas saudades todos os dias. Ela deu sua vida para nos proteger até o último momento”, lembrou.
Geni fez um boletim de ocorrência contra Silço Donizete Mendes, um dia antes de ser morta a facadas na casa dos filhos na Rua Verde Mares, no Jardim Tarumã. O boletim de ocorrência cita que o autor não possui arma de fogo, não faz uso de bebida alcoólica e, com o pedido de medida protetiva, pelo fato de que ela estava psicologicamente abalada, sufocada com a relação, refém e temendo pela sua vida e de seus familiares.
Na polícia, Geni contou que era casada com ele há três anos e ambos não tiveram filhos. Os filhos dela, esfaqueados, são de outro relacionamento.
Silço arrombou o portão a chutes, invadiu a casa e cometeu os crimes. Geni foi morta com golpes de faca no pescoço, que quase a degolaram, nas costas, orelha, braço, abdômen e mão.
Já ele, morreu após jogar o carro que dirigia na frente de caminhões na BR-163, logo após cometer o crime. Ele fugiu em seu veículo, um GM Corsa, pela rodovia, em sentido ao distrito de Anhanduí.
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