Mensagens trocadas no WhatsApp mostram a mãe de Sophia Jesus Ocampos, que morreu aos 2 anos, tentando justificar para o pai da menina os diversos machucados e a fratura no corpo da filha. A equipe de reportagem do Jornal Midiamax teve acesso a duas conversas, a primeira do dia 26 de junho.

As mensagens foram trocadas no dia 31 de dezembro do ano passado. O pai envia uma foto da filha com hematoma e questiona a mãe, que tenta justificar, dizendo que a criança sempre cai e em seguida se defende.

“Eu não sei o que você acha que eu faço com ela. Parece que você acha que eu judio dela, não é possível. Vou começar a mandar fotos dos roxos que ela volta também. Como se eu fosse judiar dela, nunca ia deixar alguém, ou eu mesmo eu judiar dela”, afirma.

Em novembro de 2022, em outro episódio de suspeita de agressão, quando Sophia teve a perna engessada, o pai faz uma denúncia a próprio punho na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Na ficha de triagem, o pai conta que por diversas vezes ao buscar a filha, encontra a menina com roxos no corpo. Ela também diz que a mãe sustenta que os hematomas são consequências de quedas durante brincadeiras. Ele também destaca que a filha estava com a perna engessada e que a mãe teria dito que a fratura ocorreu durante uma queda no banheiro. No final da denúncia, ele ressalta que quer saber o que realmente aconteceu.

Em outra conversa no WhatsApp, no dia 31 de dezembro, o pai questiona novamente sobre a mãe depois de enviar diversas fotos da menina machucada. “O que está acontecendo?”, pergunta.

Em resposta, a mãe da menininha apresenta justificativas para os machucados. “O da perna eu disse para você que foi do carrinho que ela caiu e bateu naquele ferro da frente”, alega. O texto continua com explicações sobre outros pequenos machucados. Durante a conversa, a mãe garante que a filha estava bem cuidada. “Ninguém tá judiando dela, pode ficar tranquilo”, assegura.

A menina, que já passou por diversas internações, morreu em janeiro deste ano. As investigações mostraram que Sophia foi levada pela mãe a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), já sem vida. A mulher chegou ao local sozinha e informou o marido sobre o óbito.

Mãe e padrasto são apontados, nas investigações, como responsáveis pela morte da criança. Uma nova denúncia feita pelo MPMS (Ministério Público Estadual), em setembro deste ano, diz que o padrasto e mãe, que estão presos, responderão por tortura, além dos crimes de homicídio, omissão de socorro (no caso da mãe) e estupro.

Nesta quinta-feira (27), às 16 horas, será realizada uma audiência na 2ª Vara do Tribunal do Júri. Na ocasião, está prevista oitiva de uma testemunha de defesa faltante, além do interrogatório dos dois réus.

Investigação

Uma testemunha afirma que depois de receber a informação sobre a morte de Sophia, o padrasto teria dito a frase: “minha culpa”.

Uma das contradições apontadas na investigação é o fato da mãe ter afirmado que antes de levar a filha para atendimento médico, a menininha teria tomado iogurte e ido ao banheiro.

A versão é contestada pelo médico legista que garantiu que com o trauma apresentado nos exames, a criança não teria condições de ir ao banheiro ou se alimentar sozinha. A autópsia também apontou que Sophia pode ter agonizado por até seis horas antes de morrer. O padrasto e a mãe da menina são acusados do crime e permanecem presos.

Abusos

A perita Rosângela Monteiro, que atuou no caso Nardoni em 2008, analisou material enviado pela advogada do pai de Sophia, Janice Andrade. Em seu parecer, Rosângela afirma que a menina foi abusada inúmeras vezes.

“A violência sexual foi claramente identificada pelo rompimento de hímen, a heperemia em partes da vagina e esquimoses na face interna das coxas, e o rompimento do hímen já estava cicatrizado, portanto fora realizado em data anterior da morte da vítima”, diz parte da análise feita.