O médico veterinário preso em uma das fases da Operação Traquetos, deflagrada pelo (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), em Campo Grande, no dia 21 de agosto, vai para prisão domiciliar. O STJ (Supremo Tribunal de Justiça) havia negado o habeas corpus para a liberdade do médico, no dia 22 deste mês.

A decisão havia sido tomada pela Ministra Maria Thereza de Assis Moura, onde ela tinha discorrido: “Em relação à contemporaneidade dos motivos que ensejaram a prisão preventiva, não há flagrante ilegalidade, pois, segundo julgados do STJ, a própria natureza do delito de integrar organização criminosa, que configura crime permanente, além do inerente risco de reiteração delitiva, reforça a contemporaneidade do decreto prisional (AgRg no HC n. 636.793/MS, relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe de 15/4/2021). Ainda, nesse sentido: HC n. 496.533/DF, Sexta Turma, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, DJe de 18/6/2019; AgRg no HC n. 759.520/SC, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe de 2/12/2022.”

Já nesta quarta-feira (27), foi publicado no Diário da Justiça a conversão da prisão preventiva em domiciliar. O médico veterinário ainda deverá: comparecer trimestralmente em juízo, para comprovar suas atividades e seu endereço e número de celular atualizados; não se ausentar desta comarca sem prévia autorização deste juízo; não se ausentar do país; comparecer a todos os atos do processo, quando devidamente intimado; recolhimento domiciliar obrigatório no período noturno e finais de semana, exceto por emergência médica, sob pena de eventual restabelecimento de sua prisão.

Na segunda fase da operação, foram cumpridos sete mandados de prisão preventiva e dois mandados de busca e apreensão, em Campo Grande, e Santana de Parnaíba, em São Paulo. O médico veterinário foi preso quando saía de seu condomínio de luxo, por volta das 9h40 da manhã. Ele é apontado pelo MPMS (Ministério Público Estadual) como quem teria fornecido para compra de cargas de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai. Um traficante, com condenação anterior na região de Jardim, que sabia como operar no esquema, é suspeito de ter intermediado a compra.

Logo após a prisão, a defesa do médico veterinário falou em ‘invenção' do Gaeco. O advogado Augusto Mendes Araújo, relatou na época que o médico veterinário não teria ligação nenhuma com o CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), alvo da primeira fase da operação, que aconteceu no dia 8 de março deste ano. 

Segundo o advogado, o Gaeco não tem provas e não apresentou provas da ligação de que o médico veterinário seria financiador de tráfico de drogas ou que teria qualquer ligação com a organização criminosa. 

Organização sofisticada

Organização estruturada, articulada e com logística sofisticada: assim foi definido o grupo alvo da Operação Traquetos, deflagrada pelo Gaeco no dia 8 deste mês, na Capital.

A organização criminosa também traficava pedras preciosas e ouro, mas a base era o tráfico de drogas. As investigações mostram que o grupo chegou a transportar cerca de 10 toneladas de maconha.

Em interceptações telefônicas, investigadores do Gaeco descobriram a troca de 931 mensagens entre um dos líderes e outro membro do grupo. As mensagens foram trocadas em um período de 15 dias, entre 8 e 23 de junho. Os dois discutiam a retirada de 200 peças de maconha de uma garagem, que era usada por eles como ‘guarda-roupa'- termo usado para mencionar o local onde escondiam a droga.

“Já! Já retirou velho, eu já paguei tudo lá já, ai o GURI cobrou SETE CONTO, SETE PEÇA lá pra retirar e guardar lá, tem que ter DUZENTAS E DUAS PEÇAS lá certinho, ele já conferiu já, só falta o *** ligar o telefone e entrar em contato que o GURI lá vai buscar, eu já passei o telefone pro GURI só que chega aqui, chega lá ele não responde”, diz uma das mensagens interceptadas pelo Gaeco.

Em outra mensagem é possível perceber a preocupação dos membros da organização em relação à polícia que sempre estava na região. “Uma semana que é pra pegar o BAGULHO lá e ninguém pega mano, porra cara eu tô, é foda mano aqui toda hora tá POLÍCIA entrando aqui entendeu? Tá lotado aqui não dá pra ficar com o telefone em cima não”.

Segundo as investigações, outra preocupação da organização era a necessidade de encontrar outro lugar para armazenar a droga.

Em outra interceptação telefônica entre um casal, também alvo da operação, a mulher questiona o marido sobre como ele estava ligando para ela de dentro do presídio e o homem responde que entrou na unidade prisional com o chip do celular embaixo da língua.

Na conversa, o casal fala da movimentação financeira das atividades ilícitas. A ligação dura pouco mais de 3 minutos e o homem pede à mulher que salve seu novo número.