Mãe de menina de 2 anos estuprada e morta ainda não teria sido denunciada pelo MPMS
A jovem foi denunciada para a Polícia Civil ao menos duas vezes por maus-tratos e indiciada
Renata Portela –
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Mesmo após denúncias por maus-tratos, mãe da criança de dois anos vítima de abusos e maus-tratos e que acabou morrendo na quinta-feira (26) ainda não teria sido denunciada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). No entanto, o indiciamento foi encaminhado ao poder público após o pai procurar a polícia.
A delegada Anne Karine, titular da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), esclareceu que dois boletins de ocorrência foram feitos contra a mulher. Em um, ela é suspeita e, no outro, consta como autora.
Esses dois boletins de ocorrência foram feitos em dezembro de 2021 e novembro de 2022. A partir daí, a mulher foi indiciada e o caso encaminhado ao Judiciário. No entanto, não se sabe quais providências foram tomadas.
O Midiamax consultou o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e identificou que, no nome da mãe da criança, constava apenas a prisão em flagrante. No entanto, há possibilidade de haver processo em sigilo absoluto.
Apesar disso, também foi consultado o MPMS sobre quais medidas foram tomadas a partir do recebimento dos documentos da Polícia Civil. Até o momento a solicitação não foi respondida, mas o espaço segue aberto para manifestação.
Menina passou por 30 atendimentos médicos
Apesar de ter passado por 30 consultas médicas em postos de saúde, o caso não levantou suspeitas aos profissionais de saúde. Casos de maus-tratos devem ser repassados à polícia ou Conselho Tutelar.
Assim, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) confirmou relatos de vômito, febre e também ossos quebrados nos atendimentos feitos à menina. Porém, nada foi relatado às autoridades.
Conselho Tutelar fez uma única visita
Ainda conforme apurado pelo Jornal Midiamax, Conselho Tutelar da região norte de Campo Grande recebeu a denúncia de maus-tratos em janeiro. Assim, em maio foi feita uma visita à família.
No entanto, o Conselho Tutelar não teria detectado os sinais de agressão contra a criança, que para eles aparentava estar bem e alimentada.
Já quando os conselheiros tentaram novamente fazer outra visita, a família havia se mudado. A alegação é de que o Conselho perdeu contato com a família e, a partir daí, nenhuma outra visita foi feita.
Também em maio, vizinhos denunciaram a mãe da criança por maus-tratos contra um cachorro, que acabou morrendo. Por isso, logo em seguida a família se mudou.
Confirmou que padrasto batia nas crianças
Em depoimento, a mulher de 24 anos que está presa pela morte da filha, de dois anos, disse que tinha medo de denunciar o atual companheiro. Ela ainda alegou que percebia sinais de abuso na criança quando ela voltava da casa do pai, de quem está separada, mas não relatou ter feito denúncia.
Série de abusos e agressões foram reveladas na noite de quinta-feira (26), após a menina de dois anos dar entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino já sem vida. Assim, mãe e padrasto da criança foram presos.
Para a polícia, a mulher disse que a filha começou a passar mal na noite de quarta-feira (25), com dores no estômago e vômito. No entanto, deu remédio para a criança, que teria melhorado.
Já na quinta-feira, a menina acordou pedindo comida, mas acabou vomitando e relatou novas dores no estômago. Então, à tarde a menina dormiu, acordando pior já por volta das 15h30.
Ainda segundo a mãe, a barriga da criança inchou e ficou dura, quando decidiu levar a filha ao médico. Assim, a mulher alega que a menina começou a ter dificuldades para respirar.
Apesar do trajeto entre a casa e o posto de saúde durar 10 minutos, a médica que atendeu a criança confirmou que a menina já estava morta há pelo menos quatro horas.
Confirmou agressões
Também segundo a mulher, os hematomas encontrados na criança teriam sido causados pelo padrasto na última semana. Ela confirmou que o homem tinha hábito de agredir as crianças.
Ainda segundo ela, essas agressões seriam ‘corretivos’. Já sobre os sinais de abuso, a mulher alegou que percebia outras vezes o órgão genital da menina avermelhado quando ela voltava da casa do pai.
No entanto, não disse ter feito qualquer denúncia pela suspeita de estupro. A mulher ainda afirmou que o padrasto era quem dava banho na criança e que, quando chegava, a menina já estava de banho tomado e vestida.
Por fim, disse que tinha medo de denunciar o companheiro porque ele ameaçava tirar a filha dela. Já o padrasto da menina, também preso, permaneceu em silêncio no depoimento.
Enquanto isso, o pai da criança foi ouvido como testemunha. Ele contou que buscava a filha para visitas e ela sempre tinha hematomas pelo corpo.
Por isso, registrou dois boletins de ocorrência por maus-tratos, em novembro de 2022 e dezembro de 2021.
O que foi observado na UPA
Segundo o relato da médica, quando a criança chegou à unidade de saúde, ela já estava morta há pelo menos 4 horas com sinais de rigidez.
Além disso, havia hematomas por todo o corpo e sangramento pela boca. Ainda segundo a médica, a mãe estava estranhamente tranquila e só ficou nervosa quando foi informada que a polícia seria acionada.
Ainda nos exames feitos na UPA, foram constatados os sinais de estupro na criança. Com a chegada dos policiais, a mãe negou que tivesse levado a criança até a UPA já morta.
Vizinhos ouviam os choros
Choros constantes eram ouvidos da casa onde a pequena de dois anos vivia com a mãe, padrasto e irmão.
Uma vizinha contou ao Jornal Midiamax que, na semana anterior, encontrou com a menina e a mãe em um supermercado e tudo aparentava estar bem. Inclusive, disse à reportagem nesta manhã que não sabia que a menina havia morrido.
Ainda segundo a testemunha, ela ouvia o choro da criança que vinha da residência. Também outro vizinho afirmou que sempre ouvia o choro da criança, mas disse que “criança chora mesmo”.
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