A Polícia Civil apurou que o helicóptero que caiu com duas pessoas em Naviraí, a 359 km de Campo Grande esta semana, fazia voo clandestino e que o piloto já havia sido detido por suposto envolvimento com uma organização criminosa comandada por Antônio Joaquim da Mota, conhecido como ‘Dom'. Antônio foi alvo de operações da contra o narcotráfico, em maio e junho deste ano.

Dom, cujo apelido faz referência ao personagem Don Corleone, do “O Poderoso Chefão”, também foi alvo dessa operação e de outra, a Magnus Dominus, mas conseguiu fugir de helicóptero antes da chegada dos agentes à sua fazenda, na fronteira com o Paraguai. A ação visava a desmantelar um grupo de mercenários que atuava como segurança dos narcotraficantes. Segundo a polícia, Dom passou a integrar a lista de procurados pela Interpol.

Nos últimos anos, 12 aeronaves que pertenciam a essa mesma organização foram apreendidas pela Polícia Federal, sendo a última na quinta-feira (3) em um hangar na cidade a Americana em São Paulo, durante operação.

Além disso, foi constatado ainda que o helicóptero que caiu na quarta-feira (2) está registrado na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em nome de um empresário que foi alvo da operação Helix, deflagrada pela PF em maio deste ano. Nessa operação foi apurado que o empresário fornecia e preparava aeronaves usadas para o tráfico de drogas, inclusive para a quadrilha de Dom. Ele chegou a ser preso, mas foi liberado pela Justiça Federal de Curitiba, ficando impedido de sair do país.

A que estava no helicóptero não soube explicar o motivo da queda e disse que decolou de Siqueira Campos (PR) com destino a Fátima do Sul (MS), onde o helicóptero seria levado para uma oficina, porém a polícia afirmou que não há oficina para helicópteros em Fátima do Sul. Os dois homens foram ouvidos e liberados.

Queda do helicóptero

O helicóptero, que estava com o registro cancelado não podendo estar voando, caiu na manhã de quarta-feira (2) na região do Parque Estadual das Várzeas do Rio , localizado nos municípios de Taquarussu, e Naviraí. Com o uso de drones, a PMA (Polícia Militar Ambiental) resgatou duas pessoas.

As vítimas estavam portando R$ 29.400,00 e R$ 2.800,00, cada uma, e informaram que seria usado para o custeio das despesas e manutenção da aeronave, já que seria levada para uma oficina em Fátima do Sul.

Após o deslocamento pelo Rio Ivinhema até o parque, a equipe visualizou, com o drone, a aeronave caída na mata. Os policiais andaram por cerca de 15 minutos, quando passaram a ouvir gritos e assobios.

Em seguida, foram localizadas duas pessoas na região de mata, as quais estavam desesperadas, com sinais de desidratação, fadiga, dores pelo corpo e algumas escoriações nas mãos e pés. À polícia, a dupla relatou que estava nesta situação há cerca de cinco horas desde a queda da aeronave.

As investigações ainda irão apurar se possivelmente a aeronave estaria a serviço do tráfico de drogas.

Helicópteros envolvidos em acidentes na fronteira de MS com Paraguai (Divulgação)

Tráfico e acidentes

Pelo menos 7 acidentes com helicópteros foram registrados na região de fronteira, em um período de três anos, entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai, considerada rota de escoamento de drogas que abastecem o Brasil e outros países.

Uma aeronave foi incendiada após pouso forçado em Iguatemi, em setembro de 2020. Após atearem fogo, os ocupantes fugiram.

O piloto de um helicóptero que caiu em em abril de 2021 destruiu o GPS.

Em Nova Andradina, uma aeronave, com 250 kg de cocaína fez um pouso forçado em junho daquele ano.

Em outra ocorrência em Ponta Porã, em outubro de 2021, dois morreram carbonizados após o helicóptero que estava carregado com cocaína explodir.

Na semana seguinte outro helicóptero fez pouso forçado em Batayporã e foi incendiado, sendo encontrado por funcionários de uma fazenda.

Em fevereiro deste ano, dois ocupantes, sendo um brasileiro e um paraguaio, morreram na queda de um helicóptero em Concepción, no lado paraguaio da fronteira.