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Polícia

Condenado pela morte do filho, lutador de MMA cumpriu pena e fala sobre ‘vazio’

Lutador foi condenado por homicídio culposo. Justiça entendeu que houve omissão de Joel na morte do filho
Thatiana Melo -
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(Arquivo Pessoal)

Já se passaram quase cinco anos da morte do bebê Rodrigo Moura Santos, de 1 ano, filho do lutador de MMA, Joel Rodrigo Avalo dos Santos. O lutador foi condenado a 1 ano e 15 dias pelo crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O julgamento ocorreu em março de 2020, há 31 meses, e o lutador, que já cumpriu a pena, ainda se revolta com a condenação.

Jéssica Leite Ribeiro, madrasta do bebê, foi condenada a 17 anos e 5 meses de prisão por homicídio doloso qualificado pela forma cruel com que cometeu a violência contra a criança. O crime aconteceu em agosto de 2018, na cidade de Dourados, a 225 quilômetros de Campo Grande.

Logo após o resultado do júri, Joel foi colocado em liberdade, já que havia cumprido pena maior que a declarada no julgamento.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, três anos após o julgamento, Joel fala da indignação e revolta pelo caso. O lutador sustenta que nunca sequer encostou a mão em seu filho. Ele conta que só soube o que aconteceu com a criança quando já estava preso na PED (Penitenciária Estadual de Dourados).

Para o lutador de MMA, ficou o vazio deixado pela ausência do filho, “eu nunca vou superar a morte do Rodrigo. Ele chegou como um anjo e voltou como um anjo”, disse Joel que após a sua liberdade recompôs a vida, voltando a lutar. Em fevereiro deste ano, Joel participou de uma luta na Holanda.

Joel já se casou novamente e teve mais um filho, que segundo ele nunca vai preencher o vazio ou o lugar de Rodrigo. “Nunca vou esquecer, superar. A dor com o tempo vai acalmando. Eu nunca vou acreditar que passei por isso”, disse o lutador de MMA.

O lutador disse que pouco se recorda do dia da morte, mas que tinha saído para trabalhar quando recebeu uma ligação de sua ex-sogra dizendo que Rodrigo tinha engasgado com leite. Neste momento, Joel voltou para casa rapidamente e quando chegou o lutador disse que estava uma grande movimentação em frente a sua casa.

Abraço demorado e ida à delegacia

“Eu só peguei ele nos braços e não estava entendendo o que tinha acontecido”, disse o lutador de MMA, que ainda contou que demorou abraçado ao filho quando ouvia dos policiais que precisava deixar a criança e acompanhá-los até a delegacia como testemunha.

Joel ainda relatou ter poucas lembranças, como se tivesse sofrido um apagão do que aconteceu e contou que já na delegacia foi indagado sobre os fatos, quando respondeu que também queria saber o que tinha acontecido. “Só soube o que aconteceu de verdade com o Rodrigo quando já estava no presídio e mesmo a Jéssica dizendo que eu não tinha feito, continuei preso”, disse o lutador revoltado, que não conseguiu ir ao enterro do filho.

“Eu fui preso pela morte do meu filho, você tem ideia do que é isso?”

O lutador disse não se sentir culpado de nada, já que sempre cuidou dos filhos e nunca deixou que ninguém encostasse a mão em Rodrigo. Sobre Jéssica, sua ex-mulher, Joel disse que não soube mais dela e que na época era a última pessoa que iria achar que pudesse fazer algum mal ao seu filho.  

“Sempre acreditei em Deus e que iria sair de tudo, dar a volta por cima. Na época achei que minha vida, carreira, tinha acabado”, relatou o lutador. Indignado com tudo que aconteceu e de como os fatos foram conduzidos, Joel disse que não vai deixar de falar e buscar pela Justiça em relação ao seu nome.

Sobre a morte de Rodrigo, o lutador de MMA contou que sempre vai doer. “Uma ferida que se mexer vai doer”, finalizou. 

Omissão e negligência

A condenação de Joel aconteceu porque a Justiça entendeu que ele foi omisso no cuidado com o filho e que, por isso, pode ter contribuído para o resultado final da violência cometida pela madrasta e que terminou com a morte do bebê.

“No entendimento sustentado por nós, ele foi negligente e omisso quando ele deveria agir na condição de pai. Os jurados reconheceram agressões anteriores e diante deste contexto apontaram, conforme o pedido, de que ele foi omisso e deve ser responsabilizado na forma culposa e não dolosa”, disse à época do julgamento o promotor de Justiça, Luiz Eduardo Santana Pinheiro.

O caso ocorreu em segredo de Justiça e não houve divulgação, na época, do inteiro teor da decisão judicial. A acusação da promotoria ainda sustentou que o lutador tinha conhecimento da violência a que o bebê era submetido.

“Conhecedor do fato de que o filho Rodrigo, de apenas um ano era agredido, até porque, conforme ele mesmo asseverou em seu interrogatório, dava banho no infante, de forma que visualizava as lesões anteriores que eram visíveis no corpo de Rodrigo, permaneceu conivente e assumiu de forma consciente a ocorrência de um evento ainda mais gravoso, conforme deveras aconteceu”, disse a acusação.

A tese da acusação foi acatada pela Justiça, que condenou Rafael pelo homicídio culposo.

Relembre o caso

O homicídio aconteceu no dia 16 de agosto de 2018 na residência do casal, localizada na Rua Presidente Kennedy, no Jardim Márcia. Na casa moravam Joel, Jéssica e os dois filhos dele, Rodrigo e uma menina de três anos.

Consta nos autos que no dia do crime Joel saiu para trabalhar e como de costume Jéssica o acompanhou até o portão. Quando retornou, percebeu as duas crianças já acordadas e teria se dirigido a uma das peças da residência para preparar o leite delas.

Jéssica então colocou o menino no balcão e para entretê-lo, entregou-lhe uma sacola plástica. Logo em seguida, a menina quis lhe tirar a sacola, causando a sua queda. A mulher disse que pegou o menor do chão que chorava muito e percebeu um pouco de sangue saindo de sua boca. Em seguida, ele foi colocado em um colchão. Como a criança não parava de chorar e há dias ela não conseguia dormir, se irritou e chegou a cobrir a própria cabeça com uma coberta.

Jéssica contou que jogou sobre o bebê outro cobertor, foi quando percebeu Rodrigo fazendo força. Ainda segundo ela, o menino possuía problemas de intestino e chegou a usar um supositório para conseguir realizar suas necessidades fisiológicas.

Acreditando se tratar de problemas intestinais, pediu para que a irmã dele lhe apertasse a barriga, porém, a garota começou a pisar no local, aumentando ainda mais o choro da criança. Jéssica então teria se aproximado e apertado a barriga do garoto com muita força, ‘irritada e nervosa’, como relatou à polícia, começou a fazer movimento com as pernas do bebê na tentativa de acabar com o que parecia cólica. “Tudo o que eu fiz foi com força”, diz trecho do depoimento.

Depois, ela colocou os seus joelhos sobre o abdome de Rodrigo e não percebeu os ossos se quebrando. Depois do procedimento, o colocou deitado de lado e ao levantar para buscar óleo de oliva para dar à criança na tentativa de ‘soltar’ o intestino, acabou pisando nas costelas dele.

A mulher voltou a pedir para que a menina apertasse a barriga de Rodrigo e achando que se tratava de uma brincadeira, a irmã continuou a pisar na criança. Em seguida, a criança avisou: “tia, ele vomitou”. Ao chegar próximo ao menino, percebeu que ele babava e que não chorava mais, “estava quieto”.

Logo em seguida, viu que não respirava mais. Desesperada, o pegou pelo pescoço e tentou realizar respiração boca a boca, segundo ela, causando os arranhados no menor. Questionada, disse não ter contado essa versão porque estava assustada e confirmou que no momento da morte do menino, Joel não estava em casa. Ainda segundo Jéssica, ela afirmou ao companheiro que já não aguentava mais a situação a qual viviam e entre os fatores, ter que cuidar de filhos que não eram dela.

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