Com região em expansão, furto é o maior ‘pesadelo’ de moradores do Lagoa
Estratégia da polícia é dividir equipes por setor para se aproximar de comunidade e expandir ronda
Anna Gomes –
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“Uma vez cheguei de manhã e tinham levado vários objetos da minha loja. Equipamentos que demorei para conseguir juntar dinheiro e comprá-los. Foi tudo com muito suor, mas do dia para noite os perdi”. Este é o depoimento de um barbeiro que tem um comércio no Portal Caiobá. O bairro é um dos 11 que fazem parte da região do Lagoa, em Campo Grande. Com 200 mil pessoas, a área, que é uma das mais populosas da Capital, tem problemas que tiram o sono dos moradores quando o assunto é a segurança pública.
De acordo com a Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano), 11 grandes bairros fazem parte da Região do Lagoa, sendo o Bandeirantes, Taveirópolis, Caiçara, União, Leblon, São Conrado, Tijuca, Batistão, Coophavila II, Tarumã e Caiobá.
O Jornal Midiamax publica nesta semana uma série de reportagens sobre a segurança pública nas 7 regiões urbanas de Campo Grande. Nesta sexta-feira (10), você confere os detalhes da região do Lagoa.
Com vários bairros e área extensa, a polícia precisa se desdobrar para manter a segurança, mas por se tratar de uma região muito populosa nem sempre as equipes conseguem ficar em todos os pontos.
O tenente-coronel Maxuel Antunes é comandante da 10ª Companhia Independente de Polícia Militar que atende à região. Ele conversou com o Midiamax e contou como as equipes realizam a segurança da área.
Policiamento dividido por setor
Antunes explica que 78 policiais militares realizam o trabalho na região da Lagoa. O tenente também destaca que, apesar de ser uma área populosa, a criminalidade é considerada baixa se for comparada a outros locais de Campo Grande.
“Dividimos a região em sete setores. O ideal seria ter uma viatura por setor, cada uma fica responsável por dois. Apesar de ser uma região com muitas pessoas, o número de crimes ainda é considero baixo quando comparamos com outras áreas”, disse.
Segundo o tenente, os bairros onde as equipes militares mais atendem ocorrências na Região do Lagoa são o Jardim Tijuca e o Portal Caiobá. De maneira geral, os crimes que mais acontecem na região são furto, violência doméstica e perturbação de sossego. O militar ressalta que as equipes sempre buscam manter proximidade com os moradores.
Proximidade com a comunidade
“O policial acaba conhecendo toda região e os moradores, o que facilita o trabalho. Separamos as equipes que ficam responsáveis por áreas. Quando aparece alguma ocorrência e passa para a viatura, os militares já sabem até o lugar. Tem uma proximidade com a comunidade”.
Quando uma ocorrência é considerada mais grave e precisa de um policiamento mais ‘pesado’, a região do Lagoa também tem uma viatura de força tática que é acionada para realizar um reforço para as equipes.
Morador antigo é respeitado e os novatos têm receio
A equipe do Midiamax percorreu pelo menos dois bairros da Região do Lagoa. Moradores antigos da região dizem não sentir medo de furtos ou roubos, mas quem se mudou recentemente diz que ‘é melhor prevenir do que remediar’.
No Tijuca, um idoso de 78 anos disse que mora no bairro há quatro décadas. Ele explica que considera a região tranquila e que nunca teve problemas, apesar de ter um comércio.
“Nunca tive problemas nem com os usuários de drogas. Costumo deixar os objetos de trabalho na varanda e nunca levaram nada. Realizo um trabalho voluntário na região e talvez seja o motivo de nunca entrarem na minha casa e no meu estabelecimento. Moro há quarenta anos aqui e acho muito tranquilo. Não tenho medo”.
Em compensação, quem mora na região há pouco tempo tem medo e tenta sempre se prevenir contra os assaltos, apesar dessas pessoas nunca terem sido vítimas da criminalidade, na maioria das vezes. Com um comércio em uma movimentada avenida do Jardim Tijuca, um comerciante diz que sente medo e preferiu investir em equipamentos de segurança.
“Tenho câmeras e cerca elétrica. Não sei se é pela fama do bairro, mas tenho medo de qualquer hora ser assaltado ou alguém invadir o meu comércio. Abri o estabelecimento há três meses apenas e ainda tenho um pouco de medo. Achei melhor gastar um dinheirinho com segurança do que ter que lidar com possíveis mercadorias roubadas. É aquele velho ditado: a ocasião faz o ladrão”.
Funcionárias de um restaurante dizem que o Tijuca é tranquilo e que nunca tiveram problemas com a criminalidade, mas o local já teria sido roubado quando pertencia a um antigo proprietário.
“Nunca tivemos problemas, mas aqui já foi roubado quando ainda pertencia a um antigo dono. Desde quando estamos trabalhando nunca sofremos qualquer tipo de violência. Acho o lugar tranquilo, mas é sempre bom ficar atento”, disse.
Crimes mais cometidos
Segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), os crimes que mais acontecem na região tiveram um alto índice em Campo Grande. Conforme o órgão, em 2022, a cidade registrou 18.809 furtos. Só em 2023, o número já soma 1.594.
Ainda conforme a secretaria, em 2022, foram 3.144 roubos na Capital e, neste ano, Campo Grande soma 254.
Os crimes de violência contra a mulher continuam altos na cidade. De janeiro a dezembro de 2022, o município teve 6.867 casos de violência doméstica. Só no primeiro mês de 2023, a cidade já soma 597.
No Portal Caiobá, as reclamações são bem parecidas com as dos moradores do Jardim Tijuca. O medo de ter a casa ou o comércio invadido por bandidos é o maior ‘pesadelo’ de quem mora na região. Por ser um bairro que está em expansão, a segurança é a maior preocupação.
Bairro em expansão
O tenente responsável pelas equipes que realizam a segurança do bairro adianta que o Portal Caiobá é um local que necessita de uma atenção redobrada. Ao redor do bairro estão surgindo vários loteamentos e, assim, aumentando o número de moradores.
“Normalmente uma viatura faz a segurança de dois bairros, mas para o Portal Caiobá, a gente deixa um veículo específico só para o bairro. A ação é devido ao tamanho do bairro, que tem vários loteamentos novos ao redor. A gente faz o possível para ficar por dentro da expansão da cidade e para mapear a segurança pública. Quando existem mais pessoas em determinada região, a probabilidade de existir problemas também aumenta”.
Apesar de todo policiamento, moradores e comerciantes preferem investir em segurança. Um empresário diz que colocou grades e alarme no estabelecimento por receio do local ser invadido.
“Durante o dia eu até não tenho medo, mas à noite não estou aqui. Tenho receio de alguém entrar e levar as minhas coisas. O antigo dono foi furtado e estou aqui há apenas 10 meses. Ainda tenho receio, pois não conheço as pessoas do bairro direito. Acho que quando eu estiver mais familiarizado a situação pode melhorar”.
Na contramão, um casal que conversou com a equipe de reportagem diz que nunca investiu em segurança e mesmo assim não sente receio. Antigos moradores do Portal Caiobá, eles ressaltam que nunca foram vítimas de roubo ou furto.
“Não temos medo. Já tivemos outros comércios e nunca nos assaltaram. Conhecemos muita gente por aqui e acho que eles não costumam roubar moradores. Alguns novos bairros estão surgindo ao redor e novas pessoas estão aparecendo. Precisamos instalar uma câmera de segurança por precaução, mas não sentimos medo”.
Durante o tempo que a equipe estava percorrendo as ruas do Portal Caiobá, a população não reclamou apenas da criminalidade, mas também da falta de segurança no trânsito, já que alguns cruzamentos não têm sinalização.
“O bairro está crescendo e o número de moradores também. Alguns cruzamentos não têm sinalização ou qualquer outro redutor de velocidade. Está muito perigoso em alguns pontos e precisamos de semáforos em vários locais”, alertou um comerciante.
Uma mulher tem um salão no Portal Caiobá e mesmo só abrindo o local durante as tardes, ela achou melhor ‘ficar atrás das grades’. “Costumo atender com horário marcado e, quando a cliente chega, a gente entra e já ficamos trancadas. Por aqui, a presença de usuários ainda é grande e fico com medo. Coloquei grades e alarme para o local não ser invadido à noite, mas mesmo assim fico com receio. Uma pessoa com vontade de usar drogas pode se tornar violenta. Prefiro prevenir”.
De acordo com o delegado Camilo Kettenhuber, da 6ª Delegacia da Capital, os crimes mais registrados pela Polícia Civil são os de estelionato e furto. Em média, o local registra 14 ocorrências diariamente.
Ainda segundo o delegado, a 6ª Delegacia atende aproximadamente 200 pessoas em toda região. A DP também é responsável por mais de 20 bairros, sendo o Tarumã, Corcovado, Coophavila I e II, Tijuca I e II, São Jorge da lagoa, Leblon, Vila Kelly, São Conrado, Santa Emília, Parque dos Girassóis, Oliveira I, II, III, Bonança, Buriti, Belo Horizonte, Caiçara, Bela Laguna, Rancho Alegre I e II, Caiobá, Celina Jallad, Vila Fernanda e Nathalia.
Para a Polícia Civil, dos bairros citados, Caiobá, Coophavilla e Celina Jallad são os locais onde a incidência de roubos (emprego de violência ou grave ameaça) é maior.
Confira as reportagens da série sobre segurança pública nos bairros
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