Acontece nesta quarta-feira (20), o Júri Popular de David Richard de Araujo da Silva, acusado de matar dois homens, a tiros, na madrugada de 17 de abril de 2020, no bairro Vespasiano Martins, em Campo Grande. As vítimas foram Matheus Djoussef Carola Reis, na época com 23 anos, e Samuel Francisco Souza Gonçalves, que tinha 22. A acusação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) é que o duplo homicídio ocorreu por motivo torpe, por ‘disputa por ponto de venda de vendas de drogas’. O réu, que conta com a defesa de ‘três advogados’, confessou, na delegacia, ser autor dos disparos, somente 15 dias após o duplo assassinato.

Dois investigadores da Polícia Civil foram ouvidos como testemunhas de acusação. Um deles disse que os três envolvidos, David, Matheus (Théo) e Samuel (Cabelo) eram conhecidos no meio policial por suspeitas de vendas de drogas na região. “Havia muitos homicídios naquela região e a gente já tinha suspeita que David seria autor desses dois crimes. As pessoas querem ajudar, mas têm medo de falar oficialmente por medo de retaliações. A gente já identificou casos de pessoas que falaram e vieram a óbito, por isso a gente conversa, mas não pode identificar, pois não tem como garantir a segurança dessas pessoas”, disse o investigador.

Respondendo às perguntas da defesa do réu, o policial civil disse que, mesmo sendo visto no local conhecido como ‘ponta de venda de drogas’, David nunca foi flagrado portando entorpecentes. O investigador disse que dois usuários de drogas falaram que presenciaram a discussão e que logo houve os disparos, mas se recusaram a ir à delegacia, como testemunhas. Disse ainda, que, durante as investigações, muita gente na região tinha medo de David porque ‘seria um menino perigoso e andava armado’.

A defesa do réu questionou se a arma do crime não foi encontrada e não há imagens de câmeras de segurança, nem testemunha (ouvida em juízo), como se sustenta essa denúncia, a não ser o fato de David ter que ir até delegacia e informar que foi ele autor dos disparos. O policial respondeu que a namorada e a mãe dela contaram que David falou sobre os crimes. “Mas se a mãe e a menor foram depois à delegacia, por que nenhuma testemunha lá do local não falou oficialmente?”, insistiu a defesa do réu. O investigador respondeu: “A lei do silêncio impera ali, infelizmente não conseguimos nenhuma pessoa que viu o crime, como testemunha oficial”. 

Testemunhas de defesa 

Duas mulheres foram ouvidas, uma como testemunha de defesa do acusado, dona da conveniência. Ela disse que David não tinha problemas de relacionamento no bairro, que não era violento, que nunca soube que ele negociava drogas e nem que andava armado. A outra mulher, ouvida como informante, foi a ex-namorada de David. Disse que namorou o acusado por 4 meses e que, por volta do meia-noite, na data dos fatos, David foi pra casa dela, mas falou que ‘não tinha acontecido nada’. Porém, depois ele falou que ia procurar câmeras de segurança pra ver se mostrava o que ele ‘teria feito’. A jovem, hoje com 20 anos, também negou que ele seria violento e que vendia drogas.

A versão do acusado

David falou que não conhecia as vítimas, que ‘nunca vendeu drogas, que sempre trabalhou e que apenas era usuário de maconha’. Na versão do réu, no dia dos fatos, ele foi até à conveniência comprar um refrigerante, mas o local estava fechado e começou a bater pra acordar o proprietário. Nesse momento, teria ‘derrubado’ as bebidas das duas vítimas, quando teria começado a discussão. Ele disse que se ofereceu a pagar pelo que havia derrubado, mas que os ‘dois começaram a agredi-lo.

Réu nega que duplo homicídio teve relação com tráfico de drogas. Foto (Ari Theodoro, Jornal Midiamax)

“Começamos a brigar e o revólver de um deles caiu no chão. Peguei a arma e atirei, mas não tinha intenção de matar. O mais alto tentou tomar o revólver e tive que apertar o gatilho. Só me defendi, não tive outra escolha. Não sei quantos tiros foram, depois peguei a moto e fui pra casa da minha namorada”, falou o réu.

O juiz, Aluizio Pereira dos Santos, perguntou por que atirou nos dois e por que tanta ‘precisão’, já que os disparos atingiram o tórax e a cabeça das vítimas. “Eu nem sei aonde acertei os tiros, nunca fiz disparo com arma de fogo”, respondeu David. Também negou que foi embora do local e depois retornou armado, dizendo que foi ‘invenção da polícia’.

O acusado disse ainda que, ao sair do local, deixou a arma no chão. Mas ao ser questionado, se agiu em legítima defesa, por qual motivo teria demorado tanto para se apresentar à polícia e levar a arma, respondeu: “eu não tinha arma, não era minha, e meu advogado foi atrás de câmeras de segurança pra provar o que aconteceu”.

Ao final do depoimento, David falou que chegou a ser ameaçado por familiares de uma das vítimas. “Eu nem sabia que eles tinham morrido. Saí dali apavorado, fui pra casa da minha namorada, mas agi em legítima defesa. E eu nem esperava tá sendo julgado por este fato”, repetiu.