VÍDEO: Ex-aeronave do narcotráfico é transformada e agora ‘trabalha’ para a Polícia Civil de MS

Aeronave estava em poder de criminosos e, após 16 meses, foi usada pela Polícia Civil para deslocamento até local de sinistro

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Aeronave Cessna estava em poder de traficantes e agora é de uso da Polícia Civil
Aeronave Cessna estava em poder de traficantes e agora é de uso da Polícia Civil

Após passar por uma recauchutagem geral — que incluiu manutenção e pintura personalizada — a ex-aeronave do narcotráfico, um modelo Cessna C210, apreendido em agosto de 2020, durante a operação Cavok, agora trabalha do “outro lado”. Isso mesmo, a aeronave agora é de uso da Polícia Civil, mais precisamente do Dracco (Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), e já cumpriu até sua primeira missão.

Agora sob o comando do piloto Roberto Medina, o veículo proporcionou que uma força-tarefa de quase um dia, em Anaurilândia, na região leste do estado, fosse reduzida a poucas horas, no último dia 16 de dezembro de 2021. Neste município, no dia 11 de dezembro, um avião de pequeno porte caiu durante a tarde e o piloto do avião foi identificado como Newton Takazono, irmão do prefeito de Anaurilândia. Além dele, um amigo também estaria no interior do veículo e ambos saíram praticamente ilesos, conforme o inquérito policial. 

Ao saber dos fatos, a polícia passou a investigar e descobriu que a aeronave havia sido retirada do local, sem qualquer comunicação, dificultando, desta forma, o trabalho da perícia. Na sequência, o Dracco passou a investigar o caso e decidiu fazer uma perícia no local do acidente. A viagem da equipe, inicialmente, seria de carro e se estenderia por, no mínimo, 16 horas, entre ida e volta de deslocamento e estadia. 

“Com a operação aérea, o trabalho foi reduzido para 2 horas e isso tudo representa um marco da atividade de operações da Polícia Civil do estado de Mato Grosso do Sul. Vejo que a instituição implementa suas atividades, onde a ferramenta avião que, até outrora, era usada para o crime do narcotráfico, hoje dá suporte às operações policiais”, ressaltou Medina, que também é chefe da Seção de Operações Aéreas do Dracco e agente de segurança de voo da operação Ícaro, que saiu de Campo Grande com destino a Anaurilândia, na região leste do estado. 

Polícia Civil foi até Anaurilândia apurar acidente aéreo

“A viagem não completou nem um mês e foi a primeira ação de muitas, já que agora a Polícia Civil tem, em seu organograma, um departamento dedicado especificamente às operações formais. Tudo isto possibilita agilidade no tempo de resposta para a sociedade. É um veículo avaliado em R$ 1,2 milhão e que pertencia à organização criminosa envolvida no tráfico pelo modal aéreo”, explicou o piloto. 

Conforme o piloto, a aeronave Cessna foi cautelada para a Polícia Civil após decisão da Justiça Federal e o MPF (Ministério Público Federal). Em seguida, foi conferida a questão da atualização de aeronavegabilidade e foi firmado convênio com a Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).

“Estamos com um cronograma para as próximas buscas a serem feitas com a aeronave, principalmente em operações planejadas e desenvolvidas pelo Dracco e também atendimento das necessidades operacionais aéreas de qualquer delegacia da corporação do Estado”, finalizou.

MS encerra ano com 25 acidentes aéreos

Mato Grosso do Sul encerra o ano de 2021 com 25 acidentes aéreos e um ‘cenário gigantesco’ ainda a ser apurado pela polícia, mostrando a ousadia de bandidos para transportar drogas em aviões, helicópteros e até mesmo a tentativa de passar por um nevoeiro para despistar os órgãos que monitoram o espaço aéreo. O resultado? Mortes e extensa investigação por parte da Ícaro, ação pioneira que já completou 7 anos.

“São 25 acidentes e todos eles entram na atuação da operação Ícaro, com repressão qualificada a crimes aeronáuticos e investigação criminal de sinistros aéreos, além da questão do atentado à segurança de voo e crimes correlatos. Este é um balanço final que nós estamos fazendo e envolvem o narcotráfico, além de aeronaves apreendidas por conta de lavagem de dinheiro”, afirmou ao Midiamax a delegada Ana Cláudia Medina, titular do Dracco. 

Conforme a delegada, todas as investigações estão em andamento e revelam um cenário “único e aprofundado”. Um dos casos é do helicóptero com 246 kg de cocaína, que saiu do Paraguai, pegou um nevoeiro e caiu no Brasil, em outubro deste ano. Em questão de cinco minutos, assim que a dupla entrou no território brasileiro, houve o acidente e eles morreram. 

Na ocasião, a investigação apontou que os bandidos estariam na região rural de Ponta Porã, voando a baixa altura. Pelo clima e horário, que seria durante a madrugada, havia muito nevoeiro e eles então colidiram, violentamente, com o solo, em uma área de plantação de soja.

“É um caso em que eles [traficantes] estavam voando de maneira irregular, em condições climáticas adversas e até irregulares, proibidas e que acabaram em sinistro. Temos este e outros casos em que conseguimos fazer a apreensão de entorpecentes. É uma realidade que, desde 2015, nós alertamos quanto à ação da operação Ícaro e, por conta disso, nós seguimos conhecendo o cenário e apontando a necessidade da repressão qualificada de crimes aeronáuticos por parte da polícia judiciária. Somos pioneiros também por isso”, apontou Medina.

Aeronave ficou destruída pelo fogo em Aral Moreira. – Divulgação/ PC

 

Havia uma lacuna antes, diz delegada

Antes da operação Ícaro, que começou com o registro de um boletim de ocorrência falando de furto de peças e se estende para uma ação que revolucionou a aviação civil no país, mudando até protocolos da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul não possuía este atendimento especializado. 

“Hoje nós damos causas a acidentes enquanto que as agências fiscalizadoras e o próprio Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos [Cenipa] atuam com hipóteses e não causas. Antes, havia uma lacuna nestas questões que envolviam os acidentes e todo o ambiente aeronáutico. Hoje, diferente do que muitos pensam, nosso foco não é só a responsabilização, mas, de primeiro momento, entender o cenário, o que aconteceu, buscar respostas, conseguir colaborar para alguns mecanismos que envolvem a segurança de voo e também responsabilizar aqueles que estão usando a aviação para o cometimento de crimes, algo que não existia antes da Ícaro”, argumentou. 

Atualmente, a operação Ícaro se tornou permanente. “Estamos analisando tudo ao longo destes 7 anos e agora, em 2021, o que é mais recente também e chama a atenção, na questão do sinistro aéreo, é que tivemos cinco acidentes envolvendo aeronaves agrícolas agora em dezembro. É o período de safra e um mecanismo bastante utilizado nas lavouras, então, a investigação nem sempre aponta a responsabilidade de forma imediata. Nós primeiro verificamos o comandante, o proprietário e até a oficina para depois dar uma resposta à sociedade, sempre nesta vertente — homem, meio e a máquina”, explicou a delegada.

No caso do Dracco, a atuação para combater o cenário aeronáutico é composta pela polícia judiciária, no caso da delegada, além do piloto policial e chefe de operações aéreas, atuante desde 2015 e, por último, um perito especializado em fator material. 

“Essa equipe foi formada em todos os eixos para dar uma resposta à sociedade e é por isso que a gente tem trazido todos estes resultados e buscado, inclusive, padronizações e mudanças, culturais até, neste cenário. No caso da comunidade aeronáutica, a intenção foi alertar sobre a necessidade de sempre se priorizar a questão da operação aérea, da segurança, apontando que os regulamentos não são meros ditames legais”, disse. 

Além das apreensões dos veículos flagrados de forma irregular no espaço aéreo, Medina ressaltou que apreensões em solo, de aviões em condições inseguras, também ocorreram por parte do Dracco. “Foi o caso de apreensões em que verificamos que a manutenção não está adequada, que existem irregularidades nos seus manuscritos obrigatórios e ainda os casos crimes conexos, como é o táxi aéreo clandestino, com estelionato e que pode recair na lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, falsidade ideológica, falsificação de documentos, então, realmente, é um cenário gigantesco, com casos complexos a serem descobertos”, finalizou.

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