“Minha mulher não age assim”. “Mulher minha? Não se veste assim, não”. Os últimos casos de feminicídio registrados em chocaram, principalmente, pela violência com que os crimes foram praticados e com a suposta justificativa dos assassinos: sempre tentando usar o comportamento das mulheres para achar que estariam justificando na polícia a barbaridade que cometeram. 

Atitudes como sair com as amigas, beber em um bar, ou até mesmo ver os filhos, coisas que muitos homens fazem habitualmente para ‘desanuviar', são frases usadas pelos criminosos para reprovar a relação com as mulheres nos depoimentos dos assassinatos de Francielle Guimarães Alcântara, de 36 anos, morta e torturada por Adailton Freixeira da Silva e de Natalin Nara Garcia, morta aos 22 anos por estrangulamento pelo militar da Aeronáutica Tamerson de Souza.

Punição

E a forma de ‘punição' encontrada por esses homens que acham ser donos de suas namoradas, esposas, é a violência para que fiquem marcas nos corpos das vítimas, desfigurando as mulheres, subjugando-as na tentativa de destruir a sua humanidade, segundo a delegada Maíra Pacheco da (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

Ao final da coletiva que expôs o crime bárbaro dos dois, a delegada reforçou, ao lado da delegada Ana Paula Ferreira, que esse tipo de comportamento e pensamento precisa mudar. “Essa cultura [machista] precisa ser mudada”. A delegada ainda disse que os autores tentam atingir a figura feminina para destruí-la. “Eles [agressores] precisam destruir a estética da vítima, já que não conseguem lidar com essa mudança comportamental feminina”.

Tortura

No fim de janeiro deste ano, um caso de tortura e cárcere privado, feminicídio, chocou a população: Francielle Guimarães Alcântara passou por humilhações e várias dores — ela teve os dentes quebrados, a pele das nádegas arrancadas com gilete e depois água oxigenada foi jogada nas feridas. Torturada por mais de 30 dias, acabou morrendo em casa.

O torturador e feminicida, Adailton Freixeira, não se mostrou arrependido e ainda detalhou os momentos de terror a que submeteu a esposa, por uma suposta traição, tentando justificar os atos cruéis cometidos, como se houvesse justificativa para tanta barbaridade. Francielle teve os dentes arrancados com alicate de unha, foi esfaqueada nas costas e costelas pelo homem, que sempre a levava para o quarto para aplicar as punições. 

Francielle tinha apenas 36 anos quando morreu no fim de janeiro. Os filhos da mulher, um adolescente de 17 anos e um bebê de 2 anos, viveram junto da mãe todo o horror do cárcere e das sessões de tortura, na impotência de não poderem ajudá-la, já que as ameaças de Adailton eram diárias para que o adolescente não contasse nada a ninguém. O garoto já havia sido agredido pelo pai e tinha muito medo dele. 

Outro caso que chocou Campo Grande pelo desprezo com a vida foi o de Natalin Nara Garcia, que morreu aos 22 anos e teve o corpo jogado em meio a um matagal às margens da . Ela teve o pescoço quebrado, o rosto estava com sangue, como se tivesse o nariz quebrado. O autor: o marido, um militar da Aeronáutica, Tamerson de Souza, que em suas justificativas para um crime tão bárbaro disse que era humilhado constantemente pela esposa, que sempre estava na ‘balada'. 

Nos dois crimes, os feminicidas tentaram destruir a imagem da mulher fisicamente ou ainda moralmente, afirmando que eram mulheres traidoras de índole duvidosa. Os dois acabaram presos e tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça. Nesses dois casos, as mulheres não tinham registrado boletim de ocorrência contra os agressores.

Outro caso recente é de Luana Alves Furtado, assassinada nessa terça-feira (8), em Costa Rica, com 10 facadas no rosto, seios e abdômen pelo namorado Gabriel Ferreira Neves que se matou horas depois enforcado em uma fazenda na cidade. Já nesse caso, Luana havia registrado um boletim de ocorrência em 2020 contra Gabriel por agredi-la. 

8 feminicídios em Mato Grosso do Sul

A primeira vítima de feminicídio neste ano foi Mariana de Lima Costa, de 29 anos, assassinada pelo marido Jonas Ferreira Rocha, 49 anos, em Anastácio, no dia 15 de janeiro. Mariana tinha reconciliado com o autor do crime dias antes de ser cruelmente assassinada. A Polícia Civil apurou que Jonas matou a esposa com golpes do cabo de um machado.

Já na madrugada do dia 16 de janeiro, Paulina Rodrigues, de 103 anos, foi assassinada em pelo ex-genro, Cícero Souza, de 91 anos. A curadora da vítima a encontrou morta em casa por volta das 6 horas, após estranhar que a vítima ainda não tinha acordado. Paulina estava na cama e tinha vários ferimentos pelo corpo.

Rose Paredes, de 39 anos, foi morta a facadas em por Eduardo Gomes Rodrigues, de 53 anos. Ela estava desaparecida desde o dia 19 de janeiro e o corpo foi encontrado em uma fossa, no dia 22. O autor foi preso pelo crime quando tentava fugir da cidade.

Em Campo Grande, Francielle Guimarães Alcântara, de 36 anos, foi vítima de tortura e cárcere privado por quase um mês, antes de ser assassinada pelo marido, Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, que foi preso. O crime foi descoberto após a vítima ser encontrada morta em casa e um laudo médico inicial apontar morte natural.

Já Marta Gouveia dos Santos, de 37 anos, foi morta de forma premeditada pelo filho, Matheus Gabriel Gonçalves dos Santos, de 18 anos, que está preso pelo feminicídio. A mulher foi encontrada morta no dia 23 de janeiro, após sair para uma pedalada em Nova Andradina, a 297 quilômetros de Campo Grande.

Vitoria Caroline de Oliveira Honorato, de apenas 15 anos, foi assassinada por esganadura pelo namorado Lucas da Silva Cordeiro, de 23 anos, que está preso. A jovem estava desaparecida desde a noite de 25 de janeiro, quando teria ocorrido o feminicídio. A princípio, a motivação seria ciúmes.

A jovem Natalin Nara Garcia de Freitas, de 22 anos, foi encontrada morta neste domingo (6), às margens da BR-060 em Campo Grande. Espancada até a morte, ela teve o pescoço e o braço quebrados. O marido, militar da Aeronáutica, Tamerson Ribeiro Lima, de 31 anos, foi preso em flagrante nesta segunda-feira (7).