Foram várias facadas e mais 10 minutos agonizando no chão embaixo da escada até a sua morte, depois o corpo foi esquartejado e colocado dentro de uma mala. A cena de horror foi descrita em depoimento por Clarice Silvestre, acusada de assassinar o chargista Marco Antônio Borges, de 54 anos, por ele não querer assumir a relação do casal.

Marco foi empurrado por Clarice escada abaixo e depois esfaqueado. A defesa da massagista entrou com pedido na Justiça para que sejam afastadas as qualificadoras de motivo torpe — ciúmes de Clarice em relação ao fato de Marco não assumi-la publicamente.

Segundo a defesa, o ciúme é um sentimento comum de qualquer relacionamento, e que nesse caso se derruba qualquer torpeza em relação ao crime cometido. A defesa ainda alegou que o homicídio, na realidade, foi cometido por uma discussão entre eles. O que segundo o pedido afastaria, inclusive, a qualificadora que dificultou a defesa da vítima.

Com o afastamento das qualificadoras, a pena de Clarice seria menor ao ir a juri popular. A pena poderia ser reduzida em até 1/6 da sentença aplicada à massagista. Clarice foi denunciada por homicídio triplamente qualificado, por meio cruel, motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima, além da destruição e ocultação de cadáver. 

“Em síntese, se ré e vítima mantinham relacionamento amoroso e se houve entre ambos discussão sobre esse relacionamento, qualquer plus a mais para acrescer a carga acusatória deve ancorar-se em algo extraordinário, circunstância que não se verifica na própria narrativa da denúncia”, fala a defesa.

Mas, o (Ministério Público Estadual) se interpôs ao afastamento das qualificadoras. “É notório que a acusada agiu com ódio vingativo, visto que Clarice não aceitou que a vítima não tinha o desejo de assumir a relação amorosa que mantinham, decidindo assim, ceifar-lhe a vida”, relatou o MP.

Ainda sobre o pedido que dificultou a defesa da vítima, o ministério relatou: “É sabido que a acusada agiu com intuito de surpreender a vítima, visto que Clarice aproveitou-se do fato de Marcos estar despretensiosamente descendo pelas escadas, para empurrá-lo, fazendo-o cair ao solo e, com isso, dificultar que se defendesse das sucessivas agressões”.

O pedido do MP para serem improvidas as solicitações da defesa foi protocolado no dia 11 de janeiro deste ano. E o relator está com o pedido desde o dia 24 deste mês, mas ainda não houve decisão. 

‘Limpei o sangue porque tinha clientes'

Em um trecho de seu depoimento ao delegado Carlos Delano, titular da DEH (Delegacia Especializada de Homicídios), Clarice se mostra mais preocupada em limpar o sangue da vítima, que havia sujado a sua casa, do que com o crime que havia acabado de cometer. Quando o delegado questiona Clarice sobre as facadas, ela responde que deixou Marco gemendo e foi ver a parede que tinha sujado de sangue: “Espirrou sangue na minha parede, aí eu peguei e cobri ele com lençol, aí fui limpar minha parede porque tinha um cliente aquele dia”.

O delegado ainda perguntou se quando ela limpava a parede, o chargista ainda respirava, e Clarice disse que sim, mas que estava quietinho. Em outro trecho, o filho de Clarice, João Victor Silvestre de Azevedo, fala que enquanto cortava as partes do corpo do chargista, sua mãe estava limpando o carpete, o chão e as paredes onde havia espirrado sangue.

Em nenhum trecho do depoimento, a massagista se mostrou arrependida, apenas tentando afirmar que empurrou e matou Marco porque ele deu dois tapas nela. Assim, levada por um momento de fúria foi até a cozinha e com uma faca desferiu os golpes no chargista, que estava nu quando foi atacado.

O assassinato

Na manhã de 21 de novembro de 2020, Clarice matou Marcos na casa, no Bairro São Francisco. Com a ajuda do filho João Victor, ainda destruiu e ocultou o cadáver da vítima.

O relato na denúncia é de que Marcos era cliente da massagista Clarice e mantinha um relacionamento amoroso com ela. No entanto, ele não queria assumir a relação oficialmente, o que incomodava Clarice. No dia do crime, eles combinaram uma massagem e a vítima foi até a casa da autora.

Após a massagem, Marcos foi tomar banho na parte de cima da casa de Clarice. Ao sair, os dois começaram a discutir sobre o relacionamento e Clarice empurrou a vítima da escada. Em seguida, esfaqueou o chargista, o atingindo nas costas e tórax. A denúncia aponta que Marcos permaneceu agonizando no local e Clarice colocou um lençol sobre o corpo dele.

Ela saiu para comprar sacos de lixo, já com a intenção de ocultar o cadáver da vítima e ligou para o filho. O rapaz foi até a casa da mãe e os dois cortaram o corpo de Marcos em várias partes, lavaram e colocaram em sacos e depois em malas de viagem. Mãe e filho levaram o corpo da vítima até o Tarumã, após pedirem corrida por um aplicativo.

Eles esconderam as malas, esperaram até a madrugada e atearam fogo. Clarice saiu da cidade e só foi presa em São Gabriel do Oeste. Após a prisão, ela confessou que agiu por ódio vingativo e ciúmes da vítima porque queria que o relacionamento fosse oficializado.

Clarice foi denunciada por homicídio triplamente qualificado, por meio cruel, motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima, além da destruição e ocultação de cadáver. O filho foi denunciado pela destruição e ocultação de cadáver.