Preso pela PF, servidor ‘lamentava’ estelionatos quando chefiou setor

Polícia Federal diz que Rodrigues liderava quadrilha

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Polícia Federal diz que Rodrigues liderava quadrilha

Preso na manhã desta sexta-feira (3) pela PF (Polícia Federal), acusado de chefiar um esquema que fraudava pensões indígenas em Amambai, a 350 quilômetros de Campo Grande, o servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) Willian Rodrigues chefiava a coordenaria técnica da fundação no município em 2012, quando a imprensa local já denunciava crescentes casos de estelionato vitimando índios. Na época, ele defendia maior controle nas aldeias e lamentava os acontecimentos.

Na manhã de hoje, durante a operação Uroboros, que contou com 80 policiais federais, militares do Exército e servidores do MTPS (Ministério do Trabalho e Previdência Social) e do MPF (Ministério Público Federal), Rodrigues foi preso em casa. Ele é apontado pelo delegado Felipe Menezes, que comandou a ação, como chefe de um esquema fraudulento que causou prejuízos de aproximadamente R$ 1 milhão ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

FRAUDES E ESTELIONATO

“O servidor deu início ao esquema fraudulento de benefícios previdenciários para indígenas especialmente em pensão por morte. Eles registravam crianças em nome de indígenas falecidos para pegar a pensão por morte. Faziam o registro tardio da criança após a morte do indígena”, detalhou o delegado. “Dá um valor vultuoso”.

Em 2012, uma reportagem publicada pelo Jornal Correio do Cone Sul, de Amambai, apontava a crescente de casos de estelionato contra indígenas. Naquele ano, um jovem estagiário do INSS foi preso pela Polícia Civil, acusado de sacar auxílio maternidade cujas beneficiárias eram índias vítimas de fraude.

DENÚNCIAS

Chefe da Funai de Amambai naquele ano, Rodrigues afirmava que coordenadoria regional recebia “muitas reclamações dos indígenas” que eram “cobrados de empréstimos [consignados] que não realizaram”. Ele alegava que não dispunha de pessoal suficiente para fiscalizar as aldeias da região a lamentava: “Nisso tudo, os maiores vitimados são os indígenas.”

Em 2005, durante a CPI da Desnutrição e Mortalidade Infantil Indígena de Mato Grosso do Sul, líderes indígenas de Amambai chegaram a denunciar Willian Rodrigues, administrator regional da Funai também naquele período, por abuso de poder e desvio de benefícios destinados para o auxílio maternidade de índias.

OPERAÇÃO SURPREENDEU

Embora a quadrilha fosse alvo de investigação da PF há um ano, o coordenador da Funai em Ponta Porã – a qual subordina-se a coordenadoria de Amambai -, Elder Paulo Ribas da Silva, disse que a operação policial de hoje o surpreendeu. “Fui informado dessa operação hoje de manhã. Eventualmente recebemos denúncias de fraudes contra indígenas e repassamos para a Polícia Federal, mas nunca fui solicitado”, explicou.

Segundo ele, hoje a Funai de Ponta Porã foi solicitada apenas para levar de volta à aldeia os 14 indígenas que foram levados para prestar depoimento na sede do MPF (Ministério Público Federal). Silva é servidor da Funai há seis anos e coordena a unidade da fronteira há dois anos. Ele afirma que Rodrigues chefiou a coordenadoria de Amambai por diversas ocasiões, em períodos diferentes.

PONTA DO ICEBERG

Segundo a Polícia Federal, a única pessoa presa na operação de hoje foi o servidor da Funai de Amambai. Outra pessoa envolvida no esquema está foragida. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão e 16 de condução coercitiva. Um advogado de Iguatemi é apontado como braço jurídico da quadrilha, motivo pelo qual perdeu o direito de exercer a advocacia por determinação judicial, conforme o delegado.

Ao Jornal Midiamax, o comandante da operação desta manhã adiantou que a vasta documentação apreendida indica que o esquema pode ser ainda maior. “A partir de agora vamos analisar o material apreendido que indica a existência de mais fraudes. É como se fosse a ponta de um iceberg”, afirmou Menezes.

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