MG: polícia identifica quadrilha por trás de caso de injúria racial a casal na web

A Polícia Civil de Muriaé já identificou mais de 50 internautas envolvidos no crime de injúria racial ocorrido com um casal de namorados de Muriaé, após publicação de fotos no Facebook. Segundo o delegado responsável pelo caso, Eduardo Freitas da Silva, eles não agiram de forma individual e ainda podem responder por outro crime: formação […]

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A Polícia Civil de Muriaé já identificou mais de 50 internautas envolvidos no crime de injúria racial ocorrido com um casal de namorados de Muriaé, após publicação de fotos no Facebook. Segundo o delegado responsável pelo caso, Eduardo Freitas da Silva, eles não agiram de forma individual e ainda podem responder por outro crime: formação de quadrilha. “A maioria se organizou para aquele fim específico – de denegrir a imagem das vítimas. Nesse caso, além da injúria racial há o crime de formação de quadrilha”, explicou.

O delegado Eduardo afirmou ainda que foi feita uma parceria com a Delegacia de São Paulo, visto que a maioria dos identificados são de lá. Ele deve ir até a capital para acompanhar o desenrolar das investigações e possíveis autuações, mas a data ainda não foi definida.

Maria das Dores Martins, de 20 anos, e Leandro, de 18 anos, namoram há um ano e oito meses e esta foi a primeira vez que eles foram vítimas de preconceito. Em julho, a foto do casal foi publicada na rede social em modo público (ou seja, aberta para qualquer internauta da rede ver, curtir ou comentar) e em agosto começaram as manifestações ofensivas. Dentre os comentários estavam frases como: “Onde comprou essa escrava?”, “Seu dono?”, “Me vende ela”, “Parece que estão na senzala” e “Eu acho que você roubou o branco pra tirar foto”. Um dos comentários teve “aprovação” de 24 pessoas.

Segundo a polícia, a maioria dos agressores é de São Paulo e tem idade entre 15 e 20 anos. A polícia também verificou alguns perfis como falsos. A reportagem procurou o casal nesta terça-feira (2) para falar sobre o assunto, mas as ligações não foram atendidas.

Crime recorrente

Eduardo Freitas ressaltou que a quadrilha também foi identificada em crimes envolvendo outros casais. “Eles agem de forma orquestrada e escolhem as vítimas aleatoriamente. No caso do casal de Muriaé, eles até criaram uma página [na rede social]. Nesse espaço, o grupo utilizou de xingamentos e insultos para difamar as vítimas”, confirmou.

O delegado garantiu que a intenção da polícia é identificar o chefe da quadrilha, que se reúne com intuito de promover insultos racistas. Sobre a página criada que ainda está no ar, o delegado disse que as pessoas podem denunciar para que ela seja excluída o quanto antes pelo Facebook. “O banco de dados do Facebook fica nos Estados Unidos. Por esse motivo é necessário mais tempo para que uma solicitação seja atendida. A sociedade pode auxiliar no processo fazendo as denúncias”, ressaltou.

O crime

Maria das Dores Martins registrou a ocorrência no dia 26 de agosto e relatou à Polícia Militar (PM) que tomou conhecimento do fato no dia 17 de agosto. Um inquérito foi instaurado pela Polícia Civil de Muriaé, que a princípio tem 30 dias para ser finalizado, mas o tempo deve ser prorrogado devido à complexidade da ocorrência.

A jovem participou do programa Encontro com Fátima Bernardes e falou sobre os comentários preconceituosos que ela e o namorado sofreram no Facebook. Ela contou que a primeira atitude do casal foi bloquear as fotos e sair do Facebook. Mas para dar prosseguimento às investigações policiais, eles voltaram atrás. “Logo que isso aconteceu meu namorado fechou todas as fotos. Eu desativei minha conta, mas agora está ativada porque o delegado pediu. Tem quase mil comentários. Alguns de apoio, mas a maioria racista”, disse à apresentadora.

Maria das Dores também falou em entrevista à Fátima Bernardes que nunca havia passado por uma situação destas antes. “Eu achei que era mentira porque nunca passei por isso, nem nós dois juntos. Esperamos que achem os culpados porque eles não podem ficar impunes. Foi muto triste o que aconteceu. Durante um tempo eu não queria ver ninguém, mas meu namorado me deu bastante apoio e pediu para eu não chorar”, lembrou.

Relacionamento não ficou abalado

Leandro conversou com a reportagem por telefone no dia 28 de agosto e afirmou que, apesar do transtorno, eles estão ainda mais unidos. Durante toda a entrevista a namorada Maria das Dores estava ao lado e disse concordar com tudo o que ele dizia.

Leandro contou que a namorada ficou triste e que por diversas vezes a viu chorar. “Eu nunca fui de ligar para o que os outros falam. As palavras foram muito ofensivas, mas o importante é que a gente está bem. Nosso relacionamento não foi afetado por isso, pelo contrário, melhorou ainda mais”, disse.

Leandro confirmou que o casal não conhece as pessoas que agiram de forma preconceituosa e que não abrem mão da Justiça. “Vamos procurar um advogado e nossos direitos. As pessoas não podem agir dessa forma, magoar e sair impunes”, afirmou ele, com o consentimento da namorada.

Leandro disse ainda que durante os quase dois anos de namoro o casal nunca havia sofrido preconceito. “Não somos de brigar, ficamos em paz. Somos companheiros e nada nem ninguém vai mudar isso”, ressaltou.

Maria das Dores não quis estender o assunto para a reportagem e disse apenas que faz das palavras de Leandro as dela.

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