Habeas Corpus havia sido negado em medida liminar pelo relator do processo, mas ao julgar o mérito, a 2ª Turma Criminal concedeu

A segunda turma criminal do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) mandou soltar hoje à tarde o jornalista Agnaldo Ferreira Gonçalves, 60, que no final de novembro matou a tiros uma criança de dois anos de idade numa discussão de trânsito, em Campo Grande.

No dia 8 de janeiro deste ano o relator do processo o desembargador Romero Osne Lopes, havia negado liminar do pedido de habeas corpus, o Ministério Público do Estado deu parecer também contrário a libertação do réu, mas os demais desembargadores da turma entenderam que o jornalista deveria ser solto.

O caso

De acordo com o advogado do réu, Valdir Custório da Silva, o jornalista seguia num Fox pela avenida Ernesto Geisel no dia 18 de novembro, entrou na avenida Mato Grosso e, uma quadra depois, na esquina com a rua dos Ferroviários, teve o primeiro contato com o motorista da caminhonete L-200, Aldemar Pedra Neto, de 20 anos.

Ainda segundo versão do jornalista, Pedra Neto tentou entrar na rua dos Ferroviários, mas desfez a manobra porque a via é de mão única e ele entraria na contramão. Nisso, segundo o jornalista, a L-200 ficou atravessada na avenida Mato Grosso, impedindo o trânsito dos veículos que vinha atrás, o Fox de Gonçalves um deles.

O jornalista teria desviado da caminhonete e feito um gesto com a mão esquerda que, segundo ele, pedia para o motorista seguir reto. Uma quadra após, Aldemar Pedra Neto teria fechado o jornalista, perto do prédio do hotel Gaspar, na esquina da rua Calógeras com a avenida Mato Grosso.

Neto, segundo o jornalista, saiu do carro nervoso e partiu para cima dele, que também saíra do carro. Agnaldo Gonçalves disse que foi hostilizado com xingamentos, empurrões, um chute nas pernas e um tapa no rosto.

O jornalista disse em depoimento que durante a agressão pegou o telefone celular e ligou para 190, serviço de atendimento da Polícia Militar. A ligação teria completado, mas Pedra Neto impedido o jornalista a conversar com os policiais.

O advogado disse que a ligação ocorreu às 10h46. O aparelho do jornalista foi apreendido e uma perícia deve examinar se houve ou não a ligação.

Agnaldo Gonçalves disse que o passageiro da caminhonete, João Pedra, 52, pai de Aldemar Neto e avô de Rogério Mendonça (o garotinho de dois anos que seguia no banco traseiro do veículo), saiu do carro e teria repreendido o filho. “Você já está enrolado, vamos embora, vai se enrolar mais ainda”. Mesmo assim, Neto teria ameaçado o jornalista. “Eu vou te matar”.

Os dois carros seguiram pela avenida Mato Grosso. Na esquina da Rui Barbosa, o motorista da caminhonete teria fechado o Fox de novo. O jornalista disse ter achado que Aldemar Neto estaria armado e pretendia matá-lo naquele instante. De dentro do carro, o jornalista pegou a arma e disparou “quatro ou cinco tiros” na direção da camionete.

A partir dali, Neto seguiu direto para o pronto-socorro para levar o menino Rogério e o pai, João Pedra, que ficaram feridos. O menino morreu por volta das 17h30 do mesmo dia. Ele foi atingido por um tiro na região do pescoço. Já o avô dele levou um tiro no rosto, mas sobreviveu.

Outra versão

Já na versão da família do garotinho, Aldemar Neto teria fechado o jornalista “sem intenção”. E a partir daí teria sido seguido até ter carro alvejado pelos tiros. A justiça decretou a prisão preventiva do jornalista e o caso é tratado como homicídio doloso (com intenção de matar). Ele não tinha porte de arma. O advogado ainda não sabe quando deve ingressar com o pedido de habeas corpus pedindo a revogação da prisão do jornalista. “Temos razões jurídicas para isto”, avisou.