Premiê do Japão visita EUA, em nova política militar sobre ameaças da China
Em mais um sinal de mudança na política pacifista que moldava o Japão desde a 2ª Guerra, o primeiro-ministro, Fumio Kishida, viajou para os Estados Unidos, onde conversou sobre o fortalecimento da aliança militar com o presidente Joe Biden. O encontro ocorre em meio a crescentes tensões com a China no Estreito de Taiwan e […]
Agência Estado –
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Em mais um sinal de mudança na política pacifista que moldava o Japão desde a 2ª Guerra, o primeiro-ministro, Fumio Kishida, viajou para os Estados Unidos, onde conversou sobre o fortalecimento da aliança militar com o presidente Joe Biden. O encontro ocorre em meio a crescentes tensões com a China no Estreito de Taiwan e com uma série de testes de mísseis pela Coreia da Norte.
“Estamos modernizando nossa aliança militar, com base no aumento histórico do Japão nos gastos com defesa e na nova estratégia de segurança nacional”, disse Biden enquanto os dois líderes se sentavam no Salão Oval da Casa Branca em frente a uma lareira acesa. “Vou ser claro: os Estados Unidos estão total e completamente comprometidos com a aliança.”
Kishida está fazendo sua primeira viagem a Washington desde sua eleição em outubro de 2021, e um mês depois que seu governo anunciou planos para fortalecer suas capacidades militares e aumentar significativamente os gastos militares diante do crescente poder da China e dos repetidos testes de mísseis da Coreia do Norte.
O Japão ficou furioso com o lançamento de mísseis da China em torno de Taiwan em agosto, cinco dos quais caíram em águas próximas ao Japão, a primeira vez que isso aconteceu. E o país está cada vez mais ansioso com a maior atividade marítima dos militares chineses no Mar da China Oriental e ao redor das Ilhas Senkaku, que é um território disputado entre os dois governos.
Kishida disse que seu governo decidiu tomar medidas importantes destinadas a “reforçar fundamentalmente nossas capacidades de defesa”, incluindo aumentar os gastos militares e aumentar as habilidades de ataque com mísseis do país. “Acredito que isso também será benéfico para as capacidades de dissuasão e de resposta da aliança”, disse ele.
No mês passado o Japão anunciou planos para aumentar os gastos com defesa para 2% de seu Produto Interno Bruto em cinco anos, um aumento dramático nos gastos de uma nação que forjou uma abordagem pacifista para sua defesa após a Segunda Guerra Mundial. Os gastos com defesa do Japão historicamente permaneceram abaixo de 1% do PIB.
Biden cumprimentou o Kishida no gramado sul da Casa Branca antes do meio-dia (horário local, 14h de Brasília), logo após o Kishida terminar o café da manhã com a vice-presidente Kamala Harris em sua residência no Observatório Naval dos EUA.
Antes da reunião dos dois líderes, autoridades americanas e japonesas anunciaram um ajuste na presença de tropas americanas na ilha de Okinawa, em parte para aumentar as capacidades antinavio que seriam necessárias no caso de uma incursão chinesa em Taiwan ou outros atos hostis na região. O Japão também está reforçando as defesas em suas ilhas do sudoeste perto de Taiwan, incluindo Yonaguni e Ishigaki, onde novas bases estão sendo construídas.
A pressão do Japão para aumentar os gastos e a coordenação de defesa também ocorre em meio ao aumento nos testes de mísseis da Coréia do Norte, que pode pressagiar que a nação isolada tenha chance de alcançar suas ambições nucleares.
Sua reunião com Biden é o último encontro cara a cara em uma semana de conversas com outros líderes do Grupo dos Sete, que se concentrou principalmente em seus esforços para aumentar os gastos com defesa do Japão e instar os líderes a melhorar a cooperação.
Com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, ele consolidou o primeiro acordo de defesa do Japão com uma nação europeia, que permite que os dois países realizem exercícios militares conjuntos. Kishida também discutiu com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, a primeiro-ministra italiana Giorgia Meloni e o presidente francês Emmanuel Macron suas esperanças de melhorar a cooperação de segurança entre o Japão e suas respectivas nações. A Alemanha foi o único país do G-7 que não estava no itinerário de Kishida.
No mês passado, o Japão anunciou planos de comprar Tomahawks fabricados nos EUA e outros mísseis de cruzeiro de longo alcance que podem atingir alvos na China ou na Coreia do Norte sob uma estratégia de segurança mais ofensiva, enquanto Japão, Reino Unido e Itália revelaram planos para colaborar em um projeto de próxima geração de jatos.
“Apenas alguns anos atrás, haveria algum desconforto em Washington com um Japão que tem esse tipo de capacidade militar”, disse Chris Johnstone, ex-funcionário do Conselho de Segurança Nacional do governo Biden que agora é o líder nos estudos do Japão no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais. “Esses dias se foram.”
Embora fosse o objetivo de longa data do ex-primeiro-ministro assassinado, Shinzo Abe, revisar a cláusula pacifista na constituição pós-guerra do Japão para refletir as ambições do país de mudar sua postura militar, Abe foi morto antes que qualquer revisão fosse realizada. Mas em 2015, ele havia aprovado uma legislação para autorizar missões de combate no exterior para as forças armadas do Japão.
À medida que o atual governo se move para expandir os gastos militares e adquirir novos equipamentos, o público – antes firmemente contrário a qualquer movimento que sugerisse que o Japão estava abandonando seu status pacifista – tem sido amplamente favorável.
A invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado deixou as autoridades americanas, taiwanesas e japonesas mais preocupadas com a possibilidade de a China tentar um movimento em Taiwan – talvez não nos próximos meses ou anos, mas possivelmente até o final da década. Muito depende de como as autoridades chinesas percebem o equilíbrio da força militar na região, que inclui forças americanas, dizem as autoridades americanas.
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