Após novo ataque, ONU alerta que Sudão está à beira de uma guerra civil

Testemunhas relataram outros ataques aéreos neste domingo perto do palácio presidencial no centro de Cartum

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Ataque aéreo atingiu distrito de Dar al-Salam, em Omdurman, subúrbio a Noroeste da capital Cartum, deixando 22 civis mortos. ABP

Um dia depois de dezenas de pessoas morrerem em um ataque da força aérea a uma área residencial de Cartum, a ONU (Organizações das Nações Unidas) alertou neste domingo (9) que o Sudão está à beira de uma guerra civil. Um vídeo divulgado pelo Ministério da Saúde do Estado de Cartum, mostra corpos no chão, alguns com membros mutilados, sob lençóis jogados às pressas para cobri-los. Várias das vítimas são mulheres. 

Testemunhas relataram outros ataques aéreos neste domingo perto do palácio presidencial no centro de Cartum, assim como confrontos com metralhadoras e fogo de artilharia no sul da cidade. Segundo a ONU, o Sudão está agora “à beira de uma guerra civil potencialmente desestabilizadora para toda a região”.

Quase três milhões de sudaneses foram forçados a fugir de suas casas, incluindo mais de 600.000 que fugiram para o exterior. O ataque deixou 22 mortos e um grande número de feridos entre os civis no bombardeio que ocorreu no sábado (8) no bairro de Dar Al Salam em Omdurman, um subúrbio a noroeste de Cartum. As Forças de Apoio Rápido (FAR), em guerra com o exército desde 15 de abril, denunciaram “a trágica perda de mais de 31 vidas e muitos feridos”.

Apesar de vários moradores confirmarem um ataque aéreo, as forças armadas emitiram um comunicado neste domingo garantindo que “a força aérea não lidou com nenhum alvo hostil em Omdurman” no sábado.  Em quase três meses de guerra entre os paramilitares das FAR, liderados pelo general Mohamed Hamdane Daglo, e as tropas regulares do general Abdel Fatah al Burhan, foram registradas quase 3.000 mortes, número provavelmente subestimado. 

Farhan Haq, um dos porta-vozes do secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou “uma total falta de respeito pelo direito humanitário e pelos direitos humanos”, sobretudo em Darfur, região que já viveu um conflito nos anos 2000 e que é mais uma vez o epicentro dos combates.

“Dimensão étnica” do conflito

Os combates começaram na capital, mas os ataques aéreos e saques se espalharam para Darfur, assim como Kordofan ao sul de Cartum, e para o Nilo Azul, que faz fronteira com a Etiópia ao sul.  O Sudão, no nordeste da África, faz fronteira com outros países empobrecidos com histórico de conflitos. 

A ONU e várias organizações africanas alertaram para a “dimensão étnica” do conflito na região ocidental de Darfur, onde Estados Unidos, Noruega e Reino Unido culpam as FAR e as milícias aliadas por serem responsáveis pela maior parte da violência. Para tentar encontrar uma saída para a crise, a ONU e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), um órgão regional, vão organizar uma reunião na segunda-feira na Etiópia com os chefes de Estado ou de governo de quatro países que trabalham pela paz no Sudão (Etiópia, Quênia, Somália e Sudão do Sul). 

O chefe do exército sudanês e o comandante das FAR foram convidados, mas nenhuma das partes confirmou a presença.  No entanto, várias figuras civis sudanesas estarão lá “para acelerar os esforços de paz”, disse Khalid Omer Yousif. Este ex-ministro foi deposto do governo em 2021, quando Daglo e Burhan colaboraram para realizar um golpe de Estado, antes de se tornarem inimigos.

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