Para evitar investigações, jihadistas limitam exposição na internet

Em novembro, Flavien Moreau foi julgado exclusivamente com base no que ele tinha postado na internet

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Em novembro, Flavien Moreau foi julgado exclusivamente com base no que ele tinha postado na internet

Após utilizar amplamente a internet para propaganda e recrutamento, as organizações jihadistas já perceberam que os investigadores recolhem informações cruciais, e cada vez mais ocultam sua presença na rede.

Além das recentes instruções passadas a seus combatentes no terreno para limitar sua exposição na rede, de limpar os dados de seus envios e de não revelar os nomes de lugares e rostos, os comandantes do grupo Estado Islâmico ou Jabat al-Nusra têm cada vez mais recorrido à “darkweb”, a parte oculta da internet, protegida por um poderoso software de criptografia.

“Por vezes detectamos através do Facebook a localização geográfica de alguns combatentes”, explicou na quarta-feira, diante de uma comissão de investigação do Senado francês, Philippe Chadrys, diretor-adjunto encarregado da luta contra o terrorismo na Direção Central da Polícia Judiciária (DCPJ).

“Alguns chegam a publicar informações na parte pública da sua conta. Isso nos dá os elementos para construir seus registros criminais. Porque, evidentemente, não podemos ir à Síria, não temos ninguém no terreno, há uma falta de provas”.

Em novembro, Flavien Moreau, de 28 anos, primeiro francês condenado (a sete anos de prisão) por responder ao chamado da jihad na Síria e que retornou à França, foi julgado exclusivamente com base no que ele tinha postado na internet.

Contudo os jovens, que há alguns meses postavam vídeos, fotos empunhando Kalashnikovs ou cabeças decepadas, perceberam que estacam constituindo seus próprios dossiês de acusação.

Falhas de segurança

“Estamos começando a registrar um início de desafeto pelo Facebook: eles entenderam que é assim que obtemos provas de acusação”, explica Philippe Chadrys.

“Eles preferem o Skype ou WhatsApp, softwares que são muito mais difíceis de interceptar (…) E quando realizamos apreensões, descobrimos que as pessoas a quem estamos interessados são cada vez mais informados em informática. Eles dominam cada vez mais os softwares de criptografia, métodos de exclusão de dados”.

“Não devemos nos iludir… Temos visto uma crescente utilização da darknet. Isso torna as investigações muito mais complicadas. Os terroristas se adaptam, compreendem que o telefone e a internet são convenientes, mas perigosos. Vejam (o suposto assassino de Bruxelas Mehdi) Nemmouche: ele não tinha telefone celular, nenhuma conta no Facebook”, continuou ele.

Diante desses desafios tecnológicos, a polícia não está totalmente destituída: pode recorrer a especialistas em criptografia e informática avançada, mas estes nunca são numerosos. Isso retarda o inquérito e reduz o número de pessoas que podem ser monitorados.

Neste outono, o EI publicou a seus membros instruções de discrição que, sob o título “Campanha de prudência midiática”, pede que seus combatentes não publiquem no Twitter nomes de lugares muito específicos, que desfoquem os rostos e se abstenham de dar detalhes sobre as operações em andamento.

“Falhas de segurança têm aparecido, e o inimigo tem tirado partido”, diz o texto em árabe. “A identidade de alguns dos irmãos foi comprometida, bem como alguns sites utilizados pelos mujahideens. Sabemos que este problema diz respeito não só as fotos, mas também a arquivos PDF, Word e vídeo”.

Em um relatório recente, Helle Dale, da Heritage Foundation, grupo de reflexão com sede em Washington, escreveu: “de maneira que não há homens dos serviços de inteligência no terreno, especialmente na Síria, e que o número de drones é limitado, a cyber-espionagem é decisiva na luta contra o EI”.

Mas o grupo está “mudando sua estratégia de comunicação, utilizando meios de criptografia, limitando sua presença online e utilizando serviços que destroem as mensagens logo após seu envio”.