Coreia do Norte anuncia reativação de reator nuclear de Yongbyon
O reator de Yongbyon havia sido fechado em 2007
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O reator de Yongbyon havia sido fechado em 2007
A Coreia do Norte informou que sua principal instalação nuclear, o complexo de Yongbyon, retomou seu funcionamento normal.
O país está aprimorando suas armas nucleares “em qualidade e quantidade”, afirmou a agência estatal de notícias KCNA.
O reator de Yongbyon havia sido fechado em 2007, mas Pyongyang prometeu reabri-lo em 2013, após seu terceiro teste nuclear e em meio a fortes tensões regionais.
Desde a última rodada de sanções da ONU (Organização das Nações Unidas), em 2013, a Coreia do Norte lançou uma série de ameaças contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul. A BBC analisa até que ponto a Coreia do Norte representa um risco.
Ameaças de Pyongyang
A Coreia do Norte com frequência usa um discurso belicoso em relação a países que considera inimigos.
Em 1994, sul-coreanos estocaram alimentos durante uma onda de pânico causada pela ameaça, feita por um negociador norte-coreano, de transformar o país em um “mar de fogo” – afirmação que foi repetida várias vezes desde então.
Depois que o presidente dos EUA George W. Bush incluiu o país no chamado “eixo do mal”, em 2002, Pyongyang afirmou que iria “dizimar os agressores sem piedade”.
Em junho de 2012, o Exército alertou que a artilharia estava apontada para sete grupos de mídia da Coreia do Sul e ameaçou iniciar uma “impiedosa guerra sagrada”.
Há também uma tendência de aumento das ameaças sempre que há um novo líder na Coreia do Sul, como no caso da retórica preconceituosa direcionada em 2013 à primeira presidente eleita no país vizinho, Park Geun-hye.
Apesar de muitos observadores classificarem o discurso como blefe, outros alertam para o “risco das baixas expectativas”, porque já houve confrontos regionais graves envolvendo a Coreia do Norte.
“Se você acompanhar a mídia norte-coreana sempre há retórica belicosa contra os EUA e a Coreia do Sul, e eventualmente contra o Japão, e é difícil saber o que levar a sério. Mas quando você analisa situações em que algo de fato ocorreu, como o ataque de artilharia a uma ilha sul-coreana em 2010, você percebe que houve avisos claros”, afirmou à BBC o professor John Delury, da Universidade de Yonsei, na Coreia do Sul.
Na ocasião, Pyongyang fez constantes avisos sobre a possibilidade de retaliação em caso de exercícios militares vizinhos na região.
Para Delury, interpretar de forma errada as intenções da Coreia do Norte e não compreender suas capacidades colocam os EUA e a Coreia do Sul presos em uma espécie de atoleiro norte-coreano.
Analisando a gritaria
Nos últimos anos, a Coreia do Norte alertou sobre a possibilidade de lançar um ataque nuclear preventivo em resposta a exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e EUA.
“Sempre é motivo de preocupação quando uma nação sugere uma guerra nuclear preventiva. A Coreia do Norte não é exceção, com sua mudança de tom ao acusar os EUA de fantasiar sobre a ameaça de um míssil balístico do país e depois prometer usar esses mesmos mísseis para atingir os EUA”, afirma Andrea Berger, do instituto Royal United Services, em Londres.
Contudo, há analistas que identificam nessas ameaças a intenção da Coreia do Norte de fechar um acordo de paz com os EUA.
“(A Coreia do Norte) parece acreditar que não será levada a sério até que possa iniciar conversas sobre o tema com um poderio militar considerável. Isso se alinha com a política militarista histórica do país”, diz Berger.
Os EUA estão sempre no centro do cenário para o país. “Há casos em que as ameaças buscam chamar a atenção da Casa Branca, que procura ignorar a Coreia do Norte de uma forma sistemática. A mensagem de Pyongyang é: você não pode nos destruir, nós não iremos embora, então você tem que lidar conosco”, afirma Delury.
Enquanto alguns temem que os norte-coreanos possam provocar um embate tradicional de forças na fronteira com os vizinhos, as ameaças de ataque nuclear costumam ser vistas como um blefe, porque seria um movimento suicida por parte do regime.
A notícia da reativação do principal complexo nuclear norte-coreano, em Yongbyon, alimentou as preocupações sobre as intenções do regime.
Ela tinha sido desligado em 2007 como parte de um acordo de troca de desarmamento por ajuda, mas voltou a funcionar logo após o teste nuclear de 2013.
Analistas sugerem que o complexo seja capaz de produzir cerca de 6 kg de plutônio por ano – o suficiente para uma bomba nuclear.
O anúncio, que pode elevar as tensões na região, veio um dia após o país afirmar que iria lançar foguetes de longo alcance para levar satélites ao espaço.
O país diz ter lançado seu primeiro satélite ao espaço no final de 2012. Mas a ONU classificou a ação como um teste proibido de míssil balístico e impôs sanções ao país.
Os EUA temem que tais foguetes de longo alcance possam eventualmente ameaçar seu território com bombas atômicas.
Os EUA são um alvo real?
Testes feitos pela Coreia do Sul em fragmentos de um míssil lançado em dezembro de 2012 pelo país vizinho indicaram que ele teria um alcance superior a 10 mil km, colocando os EUA dentro do raio de bombardeio.
Mas há poucas provas de que o país tenha desenvolvido um sistema de automação para garantir um ataque certeiro ou a tecnologia para guiar um míssil balístico intercontinental de volta à superfície para atingir um alvo.
A habilidade de Pyongyang em conduzir um ataque nuclear aos EUA é ainda mais incerta. Analistas afirmam que é difícil checar as afirmações do país sobre a criação de um dispositivo nuclear pequeno a ponto de poder ser instalado numa ogiva.
O lançamento de 2012, segundo o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, provou que a Coreia do Norte tem poder de atingir a costa norte-americana, mas o órgão ressaltou que qualquer “míssil balístico intercontinental com aparato nuclear ativo ainda está pelo menos alguns anos distante”.
A Coreia do Norte, no entanto, tem mostrado determinação em obter essa tecnologia. Seu teste nuclear subterrâneo de fevereiro de 2013, por exemplo, teve o dobro da dimensão de um teste feito em 2009.
Pyongyang afirmou na ocasião que o teste detonou “uma ogiva atômica que é mais leve e em miniatura, mas com uma grande carga explosiva”.
O país pode estar se esforçando para conseguir atingir os EUA, mas já poderia atacar pontos de interesse dos norte-americanos na região. Há mais de 28 mil militares americanos baseados na Coreia do Sul, 40 mil no Japão e uma grande base em Guam, território americano na região das Filipinas.
Os EUA também têm a obrigação de proteger o Japão em caso de ataque, segundo os termos de uma aliança de segurança fechada após a 2ª Guerra Mundial entre Washington e Tóquio. Os EUA insistem em ter “plena capacidade” de bloquear qualquer ataque contra aliados.
Vale lembrar que o único navio de guerra dos EUA mantido por uma nação estrangeira está em Pyongyang.
O USS Pueblo foi capturado durante uma missão de vigilância em 1968. Estava em águas internacionais na ocasião e ninguém imaginou que os norte-coreanos pudessem capturá-lo – por isso a tripulação estava despreparada.
Um membro da tripulação morreu e 82 foram levados para prisões na Coreia do Norte, onde foram mantidos por 11 meses sob acusação de espionagem. Eles foram liberados só depois de um pedido formal de desculpas dos EUA, que negou ações de espionagem – e depois recuou das declarações.
Vizinhos da Coreia do Norte
Desde o fim da guerra da Coreia, Pyongyang vem mostrando sua habilidade para atingir vizinhos e interesses estrangeiros na região, sempre em resposta ao que classifica como provocação.
Em 1967, o país atacou e afundou o navio sul-coreano Dangpo, que fazia patrulha no mar Amarelo, matando 39 integrantes da tripulação.
Depois houve um período de calma relativa – embora as escaramuças tenham se mantido -, quando a Coreia do Sul procurou construir relações mais próximas e reduzir tensões, entre 1998 and 2008.
Mas em março de 2010, o navio de guerra sul-coreano Cheonan, ao navegar perto da fronteira marítima em disputa, foi partido ao meio por uma explosão que deixou 46 mortos. Seul afirmou que a única “explicação plausível” era um ataque por um torpedo norte-coreano, mas Pyongyang negou.
Em novembro daquele ano, a Coreia do Norte lançou um ataque de artilharia contra a ilha sul-coreana de Yeonpyeong, a sul da fronteira marítima em disputa. Dois marinheiros sul-coreanos e dois civis foram mortos. Pyongyang afirmou que o confronto foi provocado pela passagem de uma sonda sul-coreana nas imediações da ilha.
A Coreia do Norte conta com um Exército convencional de mais de 1,1 milhão de pessoas, mas supõe-se que o equipamento dos militares ainda seja da época soviética e esteja em más condições.
Contudo, o país conta com uma quantidade grande de artilharia ao longo da chamada zona desmilitarizada, que divide os países, e a capital sul-coreana está a seu alcance.
Segundo o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, cerca de 65% das unidades militares da Coreia do Norte, e até 80% de sua capacidade de fogo agregada estão a até 100 km da zona desmilitarizada.
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