Yallah também tem opções vegetarianas e veganas

 

O que comida tem a ver com o combate ao preconceito? Um restaurante árabe em acredita que as duas coisas estão ligadas. Os proprietários do Yallah fazem questão de deixar claro que não permitem manifestações racistas, homofóbicas, misóginas ou ligadas a outros tipos de discriminação, em seu estabelecimento.

Restaurante árabe se posiciona ao combater preconceitos e servir pratos deliciososEm entrevista ao MidiaMAIS, o chef Paco Kawijian, que comanda o restaurante desde 2014 junto a sua esposa Luciana Abes, explica que a diversidade é algo muito importante para o local. Paco é libanês de origem armênia e já sentiu na pele o peso da discriminação. Por isso, faz questão de deixar claro que o lema do Yallah é o acolhimento a qualquer pessoa que tenha bom coração. 

“Nós gostamos muito de receber todos os tribos”, diz com seu notável sotaque. “Não gostamos de energia negativa, a diversidade é muito importante, tudo para a gente, é o que nos mantém unidos”. Ele ressalta que o público LGBT é um dos que mais frequenta o restaurante. “Nós torcemos muito para que essa mentalidade mude, para que essas pessoas possam se sentir mais livres”.

Em maio, a página oficial do restaurante no Facebook havia postado que todas as pessoas são bem-vindas ao local, desde que não sejam grosseiras, homofóbicas, racistas, misóginas ou sexistas. Para quem não é nada disso, vale a pena conhecer o Yallah e provar seus pratos feitos na forma tradicional do Oriente Médio, que podem ser pedidos com antecedência.

 

Algumas opções do Yallah levam ingredientes típicos da culinária árabe / Foto: Divulgação

 

Preparação

O único quesito em que a casa faz questão de se manter conservadora é o de como fazer a comida. “Analisando, a gente viu que, de certa forma, a comida árabe em Campo Grande é muito caricata. Esfiha, quibe frito, as pastas… faltava uma proposta boa, uma proposta bacana para colocar a comida árabe num lugar de respeito”, explica Paco.

Ele conta que a preparação dos pratos é demorada e que, em alguns casos, pode chegar a mais de um dia, mas que o tempo é necessário para que o sabor seja fiel ao que é feito no Oriente Médio. “São trabalhosos de fazer, mas vale muito a pena que esses pratos sejam conhecidos. Todas as receitas que a gente segue são feitas da maneira mais tradicional possível”.

De acordo com Paco, muitos pratos consumidos em Campo Grande e no Brasil não seguem a norma de produção utilizada na culinária árabe. “O quibe frito, por exemplo: hoje em dia, as pessoas jogam farinha para dar liga, já se perdeu os costumes. Eu decidi montar meus próprios equipamentos”, diz. “Eu quero que as pessoas, enquanto estão aqui, possam pelo menos uma vez na vida comer uma comida do jeito que deve ser preparada”.

O chef nos deu exemplos de como o modo tradicional garante a qualidade dos pratos servidos. “Nosso quibe frito demora um dia e meio para ser feito, mas é como era antigamente. Nosso tempero, a gente demora praticamente um dia inteiro para fazer, mas sempre mantemos a tradição”.

 

Pratos árabes são muito apreciados na Capital / Foto: Divulgação

 

Como Campo Grande possui uma grande comunidade libanesa, a proposta do Yallah também chamou a atenção de muitos imigrantes e descendentes. “Esses dias, foi uma coisa muito emocionante. Um cliente nosso, senhor do Líbano, queria quibe frito. Eu expliquei que nossa produção é pequena. Ele se lembrou de quando morava no Líbano, eu preparei um especial para ele”, conta Paco.

Sobre a reação do público à usual demora, ele afirma que já houve reclamações, mas já não é um problema. “Hoje em dia nossos clientes entendem. Quando as pessoas sentam e comem, elas conseguem entender o que é uma coisa bem feita, que segue os padrões à risca”.

Comida vegetariana 

O restaurante também é uma boa opção para o público vegetariano e vegano. Paco explicou que 30% dos pratos do Yallah não possuem origem animal e são feitos com grande cuidado, para que nenhum traço esteja presente. “Eu faço questão de servir comida vegetariana boa”, diz o chef. 

Por motivos religiosos, em todos os anos ele fica 40 dias sem ingerir qualquer tipo de carne e, assim, aprendeu vários pratos para nenhum vegan colocar defeito. O estabelecimento tem pratos como falafel; quibes sem carne, com sabores como abóbora e especiarias; arroz com lentilha; e esfihas abertas de ratatouille, que mistura berinjela com outros legumes.

O Yallah também possui sua própria cerveja, feita de maneira estritamente artesanal. No entanto, ela só é produzida quando há um clima favorável. “Eventualmente, dependendo do tempo e do clima doido de Campo Grande (risos), a gente consegue fazer uma leva boa. A última leva, com o frio que fez, foi ruim”. A bebida da casa é de trigo e segue padrões rígidos de preparação. “A gente tem mantido a qualidade”.

A vinda ao Brasil

Fugido do Líbano na infância, junto à família, Paco passou boa parte de sua vida na Líbia, antes de se mudar para São Paulo, onde seu irmão é proprietário do Saint Marie, considerado um dos melhores restaurantes árabes do Brasil. Mais tarde, conheceu Luciana, que vivia em Campo Grande, e veio para a capital sul-mato-grossense para viver com ela. O chef nos contou sobre sua trajetória e a mudança para o Brasil.

“Saímos do Líbano por causa da guerra. Eu morava na Líbia, aí o pentelho do meu irmão queria jogar no Flamengo, e ficou enchendo o saco dos meus pais para vir para o Brasil”, diz Paco, aos risos. “Eu gostei muito do Brasil, é uma terra acolhedora, uma terra boa, gentil. Sua terra é onde você tem amigos. E aqui foi onde a gente fez amigos”.

 

Pratos são de encher os olhos / Foto: Reprodução

 

Ele também deu detalhes de como era a vida sob o regime do polêmico Muammar Kaddafi, que governou a Líbia com mãos de ferro por décadas até 2011. “Foi uma época meio difícil, mas ele não foi o todo ruim da história. Ele era dono de um petróleo de extrema qualidade e não estava cedendo a pressões de fora”.

Apesar de não apoiar Kaddafi, Paco acredita que a Líbia piorou depois da intervenção americana. “Nunca vimos casos de violência como estamos vendo hoje, nunca vimos estupros coletivos, grupos terroristas, como vemos hoje. Não sou defensor do Kaddafi, ele teve suas atrocidades, mas o problema da Líbia é tribal. São cinco tribos que disputam o poder e cada uma odeia a outra. A Primavera Árabe foi quando mais teve estupro coletivo”.

O Yallah fica localizado na Rua da Paz – paralela à Rua Bahia –, número 95, quase esquina com o Fórum Civil e Penal de Campo Grande. Entre terça e quinta-feira, eles ficam abertos das 11h às 22h; nas sextas e sábados, das 10h30 às 23h; e nos domingos, das 10h30 às 17h. Os clientes também podem entrar em contato pela página do Facebook.

(Sob supervisão de Daiane Libero)