‘Febre’ da pandemia, exposição a telas é risco para aprendizado infantil

Impulsionados pela pandemia, os meios digitais foram protagonistas em aproximar as pessoas e manter o calendário escolar. Enquanto algumas instituições de ensino retornam parcialmente em Campo Grande nesta semana, algumas crianças seguem sua rotina de exposição diária a computadores, tablets e celulares. O uso contínuo das telas pode gerar graves problemas cognitivos, desde a di…

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Impulsionados pela pandemia, os meios digitais foram protagonistas em aproximar as pessoas e manter o calendário escolar. Enquanto algumas instituições de ensino retornam parcialmente em Campo Grande nesta semana, algumas crianças seguem sua rotina de exposição diária a computadores, tablets e celulares. O uso contínuo das telas pode gerar graves problemas cognitivos, desde a dificuldade do aprendizado, atraso no desenvolvimento da fala e potencializar um suicídio.

Conforme a psicóloga e especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência, Camila M. Torrecilha Cancio, de 32 anos, o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos pode causar danos no desenvolvimento da criança. Para compreender esta afirmação, é necessário entender o que significa esse impacto na evolução humana.

“ É a fase onde as capacidades cognitivas e emocionais estão em formação, em cada etapa elas vão adquirindo novas habilidade e novos aprendizados. Por isso uma escola é dívida em séries” disse ela.

Uma criança que passa muitas horas passivamente utilizando um aparelho eletrônico, está deixando de aprender ativamente, logo, a interação com a realidade é limitada. Como consequência, isso gera uma maior agitação motora em momentos seguintes e empobrecimento no aprendizado de novas habilidades.

'Febre' da pandemia, exposição a telas é risco para aprendizado infantil
Camila M. Torrecilha Cancio é Especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência (Foto: Arquivo pessoal)

“Se você me fala de excesso eu entendo que está sendo usado além do limite. E que limite é esse? Se nos basearmos em dados da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), indica a utilização zero até 2 anos e depois o uso de acordo com cada faixa etária. O que eu vejo, ela está em contato passivo e recebendo os estímulos, ela vai estar deixando de aprender ativamente e terá uma interação menor com a realidade”.

Não podemos colocar a culpa só na tecnologia, mas isso também pode desencadear uma geração como mais medos de enfrentar a realidade, pois, a maior parte do contato para descobrir o mundo, está vindo de forma passiva. “A forma de aprendizado que ela mais exerceu foi através de uma tela, no momento que ela precisa de outras habilidades, ela passa a ter mais dificuldades, gerando o medo para tirar uma habilitação, procurar o primeiro emprego ou  relacionamento etc…”, contextualizou ela.

Ao falarmos de dependência dos aparelhos, ela esclarece que isso já acontecia antes, com qualquer coisa, se alguém não conseguir se desligar de algo é um vício, mas se pensarmos que durante o desenvolvimento da criança ele precisa de um adulto para sobreviver e supervisionar esse uso, os aparelhos são muitos atrativos e oferecem estímulos visuais e sonoros e devem ser limitados.

“Adultos e crianças podem ficar muitas horas conectados sem perceber que a hora passou, a diferença e que essas crianças terão mais dificuldades para experimentar outras atividades. As tecnologias estão mais acessíveis, nos anos 90 as crianças passavam horas na sessão da tarde, mas agora ela sai da TV e vai para o computador, tablet, celular, existem mais possibilidades, independente da pandemia”, explicou.

Em vez de ensinar a lidar com as emoções, estamos ensinando as crianças a descarregar nas tecnologias. Os pais, ao invés de lidar com as reações emocionais dos filhos, entregam um eletrônico na mão da criança, delegando a função paterna para um aparelho.

“ Ele não explica para o filho o porque está delegando a função paterna para um aparelho, isso muda a forma como a criança age com a tecnologia, não existe diálogo, ela vai pra internet resolver os problemas emocionais,” explicou.

Segundo Camila não podemos generalizar, mas quando você ensina desde pequeno que existe um limite em todas atividades, inclusive com os meios digitais, a criança terá outra interpretação. Se elas tem como principal prazer o uso da tecnologia  durante a infância, sem regras, como ele vai lidar como o não na vida adulta, basicamente,  fugindo para Internet.

Como possível consequência desse ciclo, o índice de depressão e suicídio, em alguns casos, pode ser maximizado.

“Suicídio e a atitude mias extrema do sofrimento, os maiores índices acontecem na adolescência e entre os mais jovens. Ao ter um desenvolvimento sem restrições com as telas, sem aprender a lidar com as emoções, sem ser ensinado desde pequeno que tudo tem limite, ela pode carregar isso para fase da adolescência. Desse modo, ela pode camuflar toda a angústia em um vício, um jovem que só tem a internet como forma de comunicação, que evita o diálogo, o que pode culminar em uma ação mais extrema se não for tratado”, finalizou.

Reflexo do consultório

Na perspectiva da Médica Pediatra, Jheth Jeanne Mundim, de 32 anos, o diagnóstico em relação ao uso dos eletrônicos por crianças, está impactando diretamente no modo como vivem. Em seu consultório, foi possível observar uma mudança significativa no período de isolamento social e aulas online.

'Febre' da pandemia, exposição a telas é risco para aprendizado infantil
Médica pediatra, Jheth Jeanne Mundim (Foto: Arquivo Pessoal)

“Os pais que fizeram home-office relatavam que precisavam utilizar a TV como artifício, para manter a atenção das crianças enquanto trabalhavam. Assim, bebês foram expostos à telas mais precocemente que o habitual, e o tempo de tela aumentou absurdamente em todas as faixas etárias”, disse ela.

Para a médica, “Estímulos são importantes, porém o excesso não é bom!” disse ela. O acesso a desenhos muito coloridos, cheios de músicas e com  muita informação, pode gerar um exagero de estímulos ao cérebro de uma criança que está em desenvolvimento, principalmente as pequenas.

“A exposição a diversas telas pode ter como consequência prejuízos no desenvolvimento de uma criança, com atraso no desenvolvimento da fala, perdas no desenvolvimento da criatividade, cognição, socialização, entre vários outros. Além disso, pode impactar o desenvolvimento sócio afetivo, causando ansiedade e até mesmo depressão”, detalhou.

Outro reflexo dessa realidade, segundo Jheth, é de que crianças maiores e adolescentes têm passado mais tempo em jogos eletrônicos, dormido mal, com reflexos até mesmo na alimentação. Além das queixas em consultório terem aumentado em relação  às crises de ansiedade.

A terceirização da responsabilidade dos pais também é abordada pela pediatra. Muitos pais têm transferido o dever de cuidar e educar para as telas, pois, distrair a criança com um desenho ou jogo é muito mais fácil do que lidar com as frustrações e birras dos filhos, além da correria do dia-a-dia que também é utilizada como argumento.

“Uma criança precisa da troca de olhar, do carinho e contato com a família para o desenvolvimento da linguagem e de habilidades cognitivas, afetivas e sociais. Além disso, a internet os deixa a mercê de todo tipo de violência e conteúdo impróprio para as idades, além das consequências já citadas ” explicou.

Recomendações e tempo de uso

Para psicóloga, a melhor recomendação é acompanhar a vida do seu filho de perto, prestar atenção no que a criança fala na internet, quais jogos eles têm acesso, se conversa com alguém e quem são essas pessoas.

“Explicar que nem tudo que está disponível é seguro e estabelecer uma confiança com seu filho que você não está ali para vigiar e sim para orientar e escolher o que é melhor para ele. Esclareça que ele vai poder usar a internet de acordo com as regras da família. Sempre que haver reciprocidade entre a família, fica mais tranquilo de colocar os limites”, detalhou.

Na visão da Pediatra, é necessário entender que a pandemia é um período muito difícil, e recomendo aos pais tentarem aumentar as atividades com o grupo familiar, como passeios ao ar livre, estimular a atividade física em locais abertos, estimularem as atividades escolares com os filhos, e quando for extremamente necessário o uso de telas pelos mais novos, buscar por desenhos educativos.

“Sejam firmes em impor limites ao tempo de tela, tentem manter ao máximo a rotina de horários de sono e sempre supervisionarem os conteúdos acessados pelos filhos. Estamos vencendo essa batalha e não podemos deixar que esse período nos deixe consequências maiores que o próprio cornavírus”, disse a Médica.

Seguindo as recomendações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Jheth Jeanne, explica que a recomendação do uso de tela só deve iniciar a partir dos 2 anos de idade. A partir dessa idade, a orientação é de que o tempo de tela deve ser de:

  • Entre 2 e 5 anos: 1 hora por dia
  • Entre 6 e 10 anos: de 1 a 2 horas por dia
  • Entre 11 e 18 anos: de 2 a 3 horas por dia

Vale lembrar que, no tempo recomendado não é levado em consideração o tempo em que a criança passa na frente da tela em atividades escolares ou de estudo. Em todas as idades a exposição aos meios tecnológicos devem ser supervisionadas, com cuidados ao conteúdo exposto, e evitar o uso de 1 a 2 horas antes de dormir.

“Em tempos de pandemia, isolamento social e suspensão de aulas sabemos que esse tempo de tela está sendo maior, mas seguimos orientando que as crianças e adolescentes devem passar o mínimo de tempo possível nessas atividades”, finalizou.

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