Adolescente sofria de depressão e fazia tratamento

Mais uma morte por suicídio em Campo Grande traz a obrigação de contextualizar porque pessoas tiram a própria vida. Segundo estudos, grande parte das pessoas que se matam não querem morrer, mas deixar de sofrer, num contexto em que a depressão, mesmo em casos nos quais há atendimento psiquiátrico, estão relacionados com o estado emocional da vítima.

Pode ter sido o caso do rapaz de 19 anos que morreu após cair do 13º de um prédio da região central de Campo Grande, na tarde do domingo (7). Segundo informou a Polícia Civil ao Jornal Midiamax, a vítima, que fazia tratamento psiquiátrico desde os 11 anos devido a um quadro profundo de depressão, foi responsável pela própria morte. Ele fazia uso de medicamentos e recebia suporte psiquiátrico semanal. Em outras ocasiões, ele já tinha tentado se matar, tendo sido contido pelos pais.

Segundo o delegado que atendeu a ocorrência, Camilo Kettenhuber Cavalheiro, o caso é registrado como ‘morte a esclarecer’ devido a possibilidade da ocorrência estar relacionada a outros fatores – o notebook do jovem foi recolhido pela polícia, com o objetivo de averiguar se a participação do jovem em fóruns de games tem ou não relação com a morte do adolescente. Todavia, dado o histórico médico da vítima e o depoimento dos pais, a principal hipótese é que a depressão esteja relacionada com a ocorrência.

Depressão e suicídio

Quadros depressivos são a principal causa identificada entre pessoas que se matam, como explica o psiquiatra Juberti Antônio de Souza. “A pessoa sofre tanto que tenta de todas as formas sair da situação de sofrimento e se pergunta se vale à pena continuar a viver”, explica o médico. Portanto, daí a necessidade de familiares, amigos e colegas de trabalho ficarem atentos aos sintomas.

“Se a pessoa fica deprimida e desanimada, deixar de ter gosto pela vida, tem dificuldade em realizar as atividades que habitualmente realizava, devem ser acompanhadas com atenção. Por outro lado, pessoas que de repente começam a fechar os negócios, pagar dívidas, se reaproximar de familiares ou desafetos, como se estivesse fazendo um testamento, podem estar preparando sua morte, se despedindo da vida. Querem sair da vida sem deixar problemas”, alerta o psiquiatra.

Em entrevista ao Jornal Midiamax concedida em setembro de 2016, em ocasião da campanha Setembro Amarelo (campanha mundial pela prevenção ao suicídio), o coordenador de divulgação do GAV (Grupo Amor Vida), antes conhecido por CVV (Centro de Valorização da Vida), Roberto Sinai, alertou que sinais em pessoas que se mataram são muito claros. “Mais de 90% dos suicídios poderiam ser evitados se as famílias percebessem antecipadamente os sinais”, afirma Sinai.

De acordo com as estatísticas, que tem como fonte SINAN/SIM/SESAU, a faixa etária com maior incidência de tentativas e suicídios e de 15 a 49 anos. Neste contexto, em Campo Grande, as mulheres protagonizam cerca de 66% das tentativas de suicídio, porém os homens efetuam a própria morte três vezes mais que as mulheres.

Ao longo do mês de setembro de 2016, o Jornal Midiamax preparou uma série de reportagens para promover o debate sobre o suicídio. Confira:

MS tem segunda maior taxa de suicídio entre jovens
Famílias usam a fé para superar a dor da perda
Como identificar e ajudar quem apresenta tendências suicidas
Campanha na internet oferece ‘ombro virtual’ e divide opiniões


Crise financeira pode elevar risco de suicídio, diz psiquiatra
Confinamento cultural’ reflete altas taxas de suicídio
Deixar de falar sobre suicídio aumenta ainda mais o tabu’, afirma voluntária do CVV.

(O telefone do CVV é 144, com ligação gratuita, ou pelo site http://www.cvv.org.br)