Símbolo da admiração e luta pelo aviturismo, jovens de MS eternizam na pele amor por pássaros

Jovens eternizam na pele amor por pássaros e também dizem ser um recado da luta pela conservação das espécies e a caça indiscriminada

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A paixão chegou em momentos diferentes, mas, fato é que Gabi, Karen e Fábio estão sempre se aventurando por Mato Grosso do Sul, em busca de praticar o aviturismo ou birdwatching – a observação de pássaros. Assim, elas eternizaram na pele este amor e ele foi responsável pelas tatuagens. A escolha das espécies também é um recado, não só pela beleza das aves, mas, também, a luta pela conservação das espécies e a caça indiscriminada, por exemplo.

“Eu comecei a observar aves há um bom tempo, sempre fui incentivada pela minha tia. E hoje faço parte do Instituto Mamede com ela. Ela até queria que eu seguisse a área em biologia, mas, acabei indo pro direito, apesar de hoje estar fazendo pós em estratégias para a conservação da natureza. E eu sempre estive neste meio, participo dos eventos e sou colaboradora do Instituto. O meu TCC também será com base na expedição da rota bioceânica, como prática de observação de aves e turismo ambiental”, argumentou Gabriela Mamede Damin, de 28 anos.

Sobre a tatuagem, disse que o pássaro não é apenas uma manifestação artística, mas também o símbolo da admiração pela natureza e por estas espécies. “Tatuei por conta da minha paixão pessoal e também para mostrar a minha dedicação pela causa, toda uma história de vida, de algo que faço parte desde criança. Tenho orgulho em fazer parte de uma empresa focada em questões ambientais, sustentabilidade e que atua na conservação da biodiversidade e melhora a qualidade de vida, em geral”, disse Gabi.

De acordo com Gabriela, os observadores de aves de Mato Grosso do Sul já participaram de expedições em diversos biomas da América do Sul e, inclusive, atravessaram o Paraguai, Argentina e chegaram até o Chile. “Nós achamos muito importante falar desta prática e promover uma troca cultural. É algo que tem ganhado um destaque mundial, com potencial muito grande de fomentar a conservação ambiental”, argumentou.

Icterus jamacaii, família Icteridae, tatuado na pele (Gabriela Mamede/Arquivo Pessoal)
Icterus jamacaii, família Icteridae, tatuado na pele (Gabriela Mamede/Arquivo Pessoal)

A jovem também ressalta que Campo Grande foi declarada como a “Capital do Turismo de Observação de Aves”, em 2023, por meio da Lei 7.023, da Prefeitura Municipal de Campo Grande. “Nossa cidade é muito rica nessa diversidade avifaunística e oferece muitas oportunidades para o aviturismo. Existem muitos parques aqui, reservas, áreas verdes, que são verdadeiros lugares, santuários para diversas espécies de aves, onde isso também atrai muitos observadores de todas as partes do mundo”, opinou.

Ao fim, comentou que a tatuagem é um “lembrete da beleza e da fragilidade da natureza e do compromisso” que possui com a proteção ambiental. “E isso tudo em meio a tanta coisas que estão acontecendo, como no Pantanal, a queima e o desmatamento. Mas é isso, é uma busca, uma construção de um mundo mais sustentável, um mundo mais equilibrado, dessa conservação mesmo da natureza, que eu acho que é a coisa mais linda que a gente tem nessa vida”, finalizou.

‘Ave tem um canto especial, que escuto muito no Pantanal’

A ecóloga, mestranda do programa de pós-graduação em ecologia e conservação, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), além de guia de turismo há mais de 10 anos, Karen Arine Souza, de 40 anos, disse que escolheu o soldadinho para tatuar na pele por “admirar todas as espécies da família” e também pelo canto especial, o qual escuta muito quando viaja ao pantanal.

“Escuto, principalmente, quando estou guiando no Pantanal Norte, então, por isso eu fiz essa escolha. Me formei lá em Belo Horizonte, e aí eu fui passar um tempo no Pantanal e começou a paixão pelo bioma e as aves em geral, isso no ano de 2012. Depois eu fui trabalhar no Pantanal Norte, que é onde guiei a maior parte do tempo. Recentemente, em 2023, vim para Campo Grande fazer o mestrado. E não tem como trabalhar nesta área e não se apaixonar pelas aves e foi exatamente isso que aconteceu”, contou.

Conforme Karen, o pássaro soldadinho, o qual tatuou na pele, não é raro, podendo ser avistado em regiões de matas ciliares do Brasil central e nas matas da baixada pantaneira. “Acho muito interessante esse movimento pelos passarinhos. Aqui tem muitas aves interessantes e o soldadinho é uma delas. Tem o Irapuru-laranja, que tem no Prosa, eu ainda não avistei, mas ele também é da mesma família, então a gente tem uma gama muito grande de aves aqui pra avistar”, argumentou.

Gabi em um dia de avistamento (Gabriela Mamede/Arquivo Pessoal)
Gabi em um dia de avistamento (Gabriela Mamede/Arquivo Pessoal)

Tatuador está sempre ‘passarinhando’ com a família

O tatuador Fábio Monteiro é quem fez as tatuagens. Ele conta que possui uma filha e está sempre “passarinhando” com ela, inclusive, quando passeia de bicicleta no Parque dos Poderes. Assim, a família entusiasta desta atividade e o encantamento se estendeu para a profissão, no qual ele faz as tatuagens de pássaros.

“Eu também tenho esse amor com as questões da natureza. A questão da preservação mesmo, porque, para ter passarinho precisa ter árvore, então, não é só simplesmente ver passarinho. Você está na mata, se desliga, deixa a ansiedade de lado, se reconecta, passarinho é tudo isso e mais um pouco. Antes, morei em Bonito e, quando vim para Campo Grande, este amor se estendeu para a família. Minha esposa é bióloga e todos fazemos esta atividade de passarinhar”, comentou.

No caso das aves acima, ele fala que tatuou o soldadinho e o joão pinto, aves que também são encontradas em Campo Grande. “Não precisa ir muito longe. A gente tem uns parques aqui que a gente consegue avistar estas espécies. E a tatuagem é legal porque, assim, tem que conhecer um pouco para saber detalhes da morfologia dos pássaros, porque, às vezes, é bem sutil a diferença de uma para outra, então, eu tento reproduzir bem essas marcas de campo, essas diferenças sutis entre as espécies”, finalizou.

(Fábio Monteiro/Arquivo Pessoal)
(Fábio Monteiro/Arquivo Pessoal)

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