Priscila Luz, de 30 anos, é uma motorista de aplicativo campo-grandense que faz sucesso nas redes sociais contando com as alegrias e perrengues da profissão. Ela até já virou matéria, em 2021, ao levar um choque com uma arma taser de uma passageira que se recusou a usar máscara e, em 2022, ao brincar sobre a falta da seta no trânsito da Capital.

A motorista possui atualmente 41 mil seguidores no Instagram e milhões de visualizações em vídeos de humor. Entre as mensagens de elogios, às vezes aparece um que não entende a ironia da piada ou, por pura maldade e machismo, faz comentários desagradáveis nas redes sociais da motorista. 

Porém, ela não se abala e usa do humor para responder seguidores “sem noção”. Um dos exemplos aparece no vídeo mais recente da influenciadora. Priscila atua e chora enquanto prepara uma resposta para uma mensagem que pergunta sobre a profissão dela. 

“Algumas piadas parecem que não podem ser feitas por mulheres porque algumas pessoas começam a confundir até a questão da nossa índole”, ela diz em um dos trechos. 

Ao mesmo tempo em que faz a piada, Priscila responde à pergunta com tons de verdade. 

Nos comentários, os seguidores elogiam a atuação dela e a habilidade de “emocionar” os seguidores. “Quem é Paola Bratcho [protagonista da novela A Usurpadora] perto de Priscila?”, disse uma pessoa. “Cara, tava quase ficando com dó, mas no final quebrou minhas pernas”, elogiou outra.

“Eu tento levar para o lado do humor, mas algumas mensagens nem respondo, simplesmente ignoro, não deixo me abalar com isso porque na internet existem muitas pessoas com a intenção de magoar. Eu tento me blindar e reverter isso […] é uma forma de revidar um com humor”, ela expõe.

A profissional conta que a pergunta do seguidor era séria e acredita que, como posta conteúdo sobre vários assuntos, alguns ficam confusos e acabam sendo “indelicados” na hora de tirar a dúvida. 

“Essas perguntas de cunho mais pesado, geralmente, são mais homens que fazem, mas tenho sorte que a grande maioria dos homens respeitam muito e manda mensagem positiva torcendo pelo sucesso”, relata. 

Priscila conta que tem muitas seguidoras com vontade de entrar na profissão, que pedem dicas sobre como fazer. “Acabo ajudando essas mulheres e, às vezes, se cria uma rede de apoio nos comentários”, aponta.  

Início de tudo

Eu acredito muito que, diante das dificuldades da vida, o humor pode te salvar. Acredito muito na força de fazer rir e te ajudar a enfrentar as adversidades”, resume Priscila.

Ela conta que, desde nova, era elogiada pela habilidade de contar histórias engraçadas e fazer as pessoas rirem, mas, com a chegada dos filhos e da rotina de casa, acabou deixando isso de lado. 

Porém, ela decidiu investir na área em 2020 quando um ex-namorado sugeriu que ela devia postar a rotina nas redes sociais devido à habilidade de tornar uma história engraçada. 

“Comecei a contar o dia a dia nos stories na pandemia em 2020. Foi meio que uma válvula de escape, sentia que me ajudava e os passageiros”, recorda. 

Priscila começou como motorista de aplicativo de forma temporária em março de 2019, após a empresa que tinha no ramo de consórcios ter falido. Porém, ela não esperava que fosse se apaixonar por dirigir e ouvir as histórias dos passageiros.

“A gente conhece muitas histórias, algumas engraçadas e outras tristes. Poder ter essa interação com o passageiro e saber do que aconteceu é legal”, confessa. 

Dificuldades

Porém, nem tudo na profissão é motivo de risada. A alta carga horária de trabalho para poder ter uma boa renda, as altas taxas das plataformas e a falta de segurança para os motoristas são alguns pontos ruins. Atualmente, “roda” oito horas por dia, mas já chegou a ficar com o aplicativo ligado por 12 horas.

Além do choque que recebeu com uma arma taser, Priscila também já foi beijada à força por um passageiro. Os dois casos foram levados para a polícia, mas ainda não tiveram desfecho.

Espírito empreendedor

Ela é mãe de dois meninos, de 7 e 9 anos de idade, e ser motorista de aplicativo a ajudou a conciliar a rotina e as obrigações em casa. 

“Essa questão de ser mulher e ter dois filhos e lutar para conciliar escola e trabalho. Como motorista, também me ajudou com a rotina dos filhos. Muitas mulheres precisam cumprir a rotina de de ter um horário fixo e isso é bom”, diz. 

Mesmo gostando do trabalho, Priscila não perdeu o espírito empreendedor e planeja abrir um novo negócio em breve, pensando nos motoristas e motociclistas que ficam muito tempo na rua. 

“Decidi que irei vender espetinho no Trevo Imbirussu. Eu pretendo colocar desconto para motoristas e motociclistas”, ela detalha.