Como você faz para realizar buscas on-line? Qual o caminho percorrido para, como usuário, encontrar respostas a dúvidas que surgem assim, do nada? Enquanto outras gerações recorriam a enciclopédias físicas (a Barsa era a mais famosa e tinha vários volumes), a internet apresentou os buscadores, sendo o Google o mais famoso deles.

Mas, ao que tudo indica, a maior plataforma de buscas está morrendo, e para uma rede social: pesquisa da Adobe Express aponta que 1 em cada 10 jovens da Geração Z (entre 14 e 29 anos) está mais propenso a confiar no TikTok do que no Google como mecanismo de busca. Dá pra entender?

Considerando a realidade social e cultural dos campo-grandenses, essa tendência pode não ser tão evidente. Mas, ela existe, sobretudo entre os mais jovens. Isso porque o TikTok se tornou uma grande enciclopédia, com vídeos sobre absolutamente “quase” tudo.

TikTok: mais que uma rede social?

Em meio ao ‘boom’ das plataformas digitais, o TikTok não só se destacou como um espaço de entretenimento, mas também evoluiu para se tornar um motor de busca. Essa tendência fica evidente quando comparada com as gerações anteriores como a X (1965 a 1981) e Y/Millennial (1982 a 1994).

Criado pela empresa ByteDance, o TikTok se popularizou em 2019, atingindo números estratosféricos. A plataforma permite o compartilhamento de vídeos curtos, de 15 ou 60 segundos e até 3 minutos. Nele, os usuários podem incluir filtros, legendas, trilhas sonoras, gifs, realizar cortes e explorar sua criatividade.

Gráficos TikTok
(Giovana Gabrielle, Midiamax)

Conforme o levantamento da Adobe Express, mais de dois em cada cinco estadunidenses usam o TikTok como mecanismo de busca. Na maioria das vezes, os usuários recorrem à plataforma em busca de novas receitas, mas também procuram frequentemente músicas e conselhos de moda.

Essa mudança foi mais significativa entre as gerações mais jovens, com 64% dos membros da Geração Z e 49% dos millennials afirmando que utilizaram o TikTok como mecanismo de busca. O estudo ouviu 808 consumidores com o intuito de obter insights (percepções) sobre seu comportamento de pesquisa.

Gráficos TikTok
(Giovana Gabrielle, Midiamax)

Assim, o fato de atrair não só a Geração Z, mas também as gerações Y e Alpha (nascidos após 2010), faz com que o TikTok seja percebido, de maneira natural, como um espaço de busca por informações e dicas, oferecendo diferentes usos da plataforma.

Essa tendência se repete em Campo Grande?

Centro de Campo Grande
Centro de Campo Grande (Alicce Rodrigues, Jornal Midiamax)

Nas ruas de Campo Grande, a maioria dos jovens admite que o TikTok faz parte de seu dia a dia. No entanto, grande parte faz questão de enfatizar que existe uma distinção clara entre o uso da plataforma para fins educacionais e para o entretenimento.

Jornalista e consultora especializada em TikTok, Lyra Libero, de 35 anos, explica que no Brasil a tendência também é de que a Geração Z abandone o Google. Segundo ela, há cerca de cinco anos, o TikTok surgiu como um espaço seguro para os jovens dessa geração, onde não havia a presença da família e eles podiam se expressar livremente.

“O TikTok se tornou um espaço livre para esses jovens, mas antes de tudo, é preciso entender que ele não se classifica como uma rede social, pois é uma plataforma de entretenimento, educação e inspiração, além de ter um grande potencial para vendas.”

TikTok
Uso de celular por jovens (Henrique Arakaki, Midiamax)

Conforme Lyra, a principal função do TikTok consiste em conectar pessoas com o conteúdo que desejam assistir. Desse modo, o aplicativo leva os usuários diretamente ao conteúdo desejado, independente do tema e sem anúncios. Isso consequentemente torna as buscas mais precisas e a plataforma mais atrativa.

“O aplicativo tem o que chamamos de ‘Business Core’, ele tá interessado em unir a pessoa com que ela deseja assistir. O que a Geração Z diz sobre isso é que o Google, ao longo do tempo, foi invadido por anúncios, o que diminuiu a confiabilidade dos resultados de busca”, explica.

De acordo com a especialista, hoje não é mais garantido que os primeiros resultados da busca no Google sejam exatamente o que a pessoa procura. O TikTok, por sua vez, oferece uma experiência mais direta e personalizada, o que atrai os usuários, especialmente os da Geração Z, que valorizam a autenticidade e a relevância instantânea do conteúdo.

“Os jovens querem mais agilidade, informação na palma da mão. Eles nasceram e cresceram dentro de algoritmo, passaram pela revolução do Orkut e Facebook e procuram algo que resolva o problema deles”.

O que a Geração Z busca no TikTok?

TikTok
Principais buscas (Henrique Arakaki, Midiamax)

Seja qual for a finalidade, o fato é que o TikTok se tornou um mecanismo de busca presente na vida dos campo-grandenses e quanto menor a faixa etária, mais cotidiano é seu uso.

Nascida em 2010, Izabella Frances, de 13 anos, faz parte da última ‘leva’ da Geração Z. Ela relata que utiliza o aplicativo para praticamente tudo. Até mesmo para atividades escolares.

“Hoje o aplicativo que mais uso é o TikTok. Costumo pesquisar receitas, coisas da escola, informações sobre aplicativos e vídeos de rotina”, explica.

Para a adolescente, a facilidade em filtrar conteúdos e o acesso a inúmeros temas de forma resumida tornou o TikTok sua principal fonte de informações, mas quando precisa de uma informação mais apurada, ela recorre ao YouTube. Quanto ao Google? Esse somente é utilizado em casos de vida ou morte.

“Quase nunca uso o Google. A última vez que usei foi para saber se poderia dar um remédio para o meu cachorro que estava doente. Fiquei com medo de fazer mal, aí decidi ver no Google”, conta.

Gráficos TikTok
(Giovana Gabrielle, Midiamax)

Estudante do Ensino Médio, Caio Samuel, de 16 anos, também utiliza o TikTok como mecanismo de busca, mas diferente de Izabella, o jovem ainda não adotou o aplicativo como principal fonte de informação.

“Uso sim o TikTok, mas depende muito do que vou pesquisar, por exemplo, coisas de escola uso só o Google, mas se for recomendação de filme e músicas vejo no TikTok. Mas de todos, uso mais o YouTube, gosto de ver vídeos filosofia lá”.

Para Caio, se tivesse que enumerar as plataformas que usa em um ranking – sem considerar as redes sociais – colocaria em primeiro YouTube, em seguida o TikTok e por último o Google.

“No TikTok os vídeos são mais curtos, mais resumido e direto. Quando uso o Google pesquiso coisas mais específicas, que não acharia nos outros aplicativos”.

TikTok é o novo YouTube?

Para os jovens com mais de 18 anos, o TikTok é utilizado de forma mais consciente, uma vez que a grande maioria dos entrevistados afirma que o utilizam apenas para buscar conteúdos relacionados ao entretenimento. No entanto, há uma tendência em particular que se repete: a substituição do YouTube pelo TikTok.

Tiktok
Camille Vitória, 18 anos (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Camille Vitória, de 18 anos, concluiu os estudos e atualmente trabalha. No tempo livre, a jovem costuma pesquisar diferentes assuntos no TikTok, mas seu conteúdo preferido são as receitas culinárias.

“Vejo TikTok como um espaço de entretenimento, mas conheço pessoas que preferem pesquisar diretamente no TikTok porque lá existe muita variedade de conteúdo. Eu mesma uso mais o TikTok do que o YouTube, principalmente para receitas que é algo que gosto.”

No meio universitário, que abrange jovens a partir dos 17 anos, o TikTok não exerce uma influência tão predominante a ponto de substituir o Google. Contudo, quando se trata do YouTube, a situação muda.

Para a estudante de Letras da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Maria Eduarda, de 19 anos, o TikTok já substitui as funcionalidades do YouTube.

“Eu utilizo o TikTok principalmente para buscas específicas, como tutoriais, por exemplo: ‘como baixar tal jogo’. Não acredito que tenha substituído o Google, talvez o YouTube, já que hoje passo mais tempo no TikTok do que no YouTube”, comenta.

Para os universitários, Google segue indispensável

Gráficos TikTok
(Giovana Gabrielle, Midiamax)

A pesquisa da Adobe também revela que, em certos segmentos, o Google prevalece como a principal fonte de informação. Quando questionados sobre qual plataforma consideram mais útil na busca por informações, 91% dos entrevistados afirmaram ser o Google, enquanto apenas 17% mencionaram o TikTok.

Também estudante de Letras, Juliane, de 20 anos, acredita que, apesar do sucesso da plataforma, o TikTok não irá substituir as funcionalidades do Google, uma vez que este continua sendo uma fonte de informação mais segura e confiável.

“Quando preciso pesquisar algo, utilizo mais o Google. Para mim, o TikTok é uma plataforma de entretenimento mesmo, uso para ter ideias, estimular a criatividade. Para buscas mais fundamentadas, o Google ainda é extremamente necessário”, destaca.

Conflitos geracionais e estereótipos

TikTok
TikTok (Letícia Marquine, Midiamax)

Assim como qualquer novo meio digital de sucesso, a chegada do TikTok gerou desconfiança, especialmente entre pessoas anteriores à Geração Z. Para muitos, a rápida ascensão da plataforma e sua influência sobre os jovens levantam preocupações sobre privacidade, segurança online e o impacto nas relações sociais e no bem-estar mental dos usuários.

Para a jornalista Lyra Libero, a resistência por parte do público mais velho quanto ao uso do TikTok é algo inerente ao ciclo geracional.

“Tudo que os jovens inventam vira alvo de críticas. Esse conflito geracional nunca muda. Assim como criticam a Geração Z, uma hora essa geração irá criticar sua sucessora (Alpha), que também está vindo com tudo. São ciclos repetitivos no jogo da evolução”.

Mas será que esse uso prejudica o desenvolvimento humano? Lyra reconhece que a utilização em excesso e sem supervisão de qualquer meio digital pode acarretar prejuízos, no entanto, segundo ela, não é o TikTok em si que afetará o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

“Na minha visão, o TikTok em si não afeta o desenvolvimento. Toda geração antes da sua dirá que alguma tecnologia afeta o comportamento da pessoa. Meus avós falavam que ficar no computador e jogar videogame afetaria o desenvolvimento”, destaca.

A especialista reforça que o principal meio de evitar exposição a conteúdos impróprios e o excesso de telas é um maior controle por parte dos pais e responsáveis.

“É preciso controlar melhor o que as crianças assistem. Isso é um fato, mas não acho que o TikTok seja mais só para crianças; já saiu dessa fase. Além disso, a plataforma estuda mudar suas diretrizes. Os desenvolvedores não querem mais que menores de 18 anos gerem conteúdos. Estão tomando medidas para o amadurecimento do aplicativo”, explica.

EUA podem banir TikTok do país

TikTok
App do TikTok (Henrique Arakaki, Midiamax)

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sancionou no dia 24 de abril um projeto de lei que exige que o TikTok, pertencente à empresa chinesa ByteDance, tenha um novo proprietário no país.

Com a sanção do projeto, a ByteDance terá 270 dias para encontrar um comprador para as operações do TikTok no país. Esse prazo poderá ser renovado por mais 90 dias. Caso contrário, a rede social terá que deixar o mercado americano.

Após a assinatura de Biden, Shou Zi Chew, presidente-executivo do TikTok, afirmou que “os fatos e a Constituição estão do nosso lado”.

Vale lembrar que há quatro anos, em junho de 2020, o governo da Índia proibiu o uso do aplicativo devido a conflitos entre o país indiano e a China. Na época, o aplicativo contava com uma base de 200 milhões de usuários.

Em novembro de 2023, o Nepal também baniu o TikTok, enquanto o Paquistão implementou uma série de proibições temporárias desde 2020.

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