Na estrada, dentro de um caminhão. É assim que a família de Emanuelle Ywlly, de 30 anos, constrói sólidas bases. Formada em , ela largou tudo em para acompanhar o marido caminhoneiro, Maikon Queiroz, de 34 anos, nas viagens pelo Brasil. A pequena filha do casal, Maya, de 3 anos, não ficou para trás e vive as aventuras com os pais na cabine do caminhão. Juntos, os três divertem e emocionam a internet com a parceria e a cumplicidade familiar, especialmente porque produzem conteúdo enquanto viajam.

Manu abriu páginas na internet onde compartilha há alguns anos a vida de “Cristal”, nome dado às esposas de caminhoneiros. Ela dá conselhos para outras mulheres inseguras na relação cujo homem sempre está na estrada, relata suas vivências, mas, principalmente, luta pela valorização da profissão do marido. O amor também foi incentivo para a jovem deixar tudo em Campo Grande, embarcar com o esposo no caminhão e sair rodando o Brasil para onde o trabalho chamar.

Hoje, Manu bomba nas redes sociais, é seguida por diversas “Cristais” e até representante dessas mulheres. “Comecei a gravar conteúdo em 2018, porque procurava nas redes sociais quem estivesse passando pelo mesmo momento que eu, casada com caminhoneiro recentemente, sozinha em casa, ele na estrada, aguentando piadinha sobre traição… e não encontrei ninguém que falasse da vida de Cristal”, conta ela em conversa com o MidiaMAIS.

“Foi então que eu comecei dividindo os meus pensamentos e sentimentos e encontrei muita gente que se identificou comigo. Depois, comecei a viajar e decidi mostrar o outro lado, o lado da Cristal que viaja e passa os perrengues da estrada junto com o ‘Tubarão' (como são chamados os motoristas caminhoneiros na estrada). E também mostrar o lado bom, a realidade dos caminhoneiros, quebrar os preconceitos que a sociedade carrega a respeito desses profissionais”, relata.

Família cansou de despedidas e vive junto na estrada - (Fotos: Arquivo Pessoal)
Família cansou de despedidas e vive junto na estrada – (Fotos: Arquivo Pessoal)

De origem caminhoneira, Manu tem um carinho especial por esse ofício

Ela e Maikon se conheceram há nove anos, pelo Facebook, em Campo Grande. Apesar de morarem em bairros vizinhos na Capital, os pombinhos demoraram 4 meses para se verem pessoalmente. “Eu e meu esposo viemos de uma família de caminhoneiros. Meu sogro e tios do meu esposo são caminhoneiros, e da minha parte, meu avô materno e tios maternos também são caminhoneiros. Mas não foi isso que nos uniu. Na verdade, só paramos pra observar esse detalhes anos depois de casados”, conta.

Depois que se conheceram e engataram o namoro, ainda em 2015, Emanuelle e Maikon fizeram alguns combinados. “Quando conheci ele, ele já era caminhoneiro, mas estava trabalhando só dentro de Campo Grande. Como eu ainda estava fazendo e não podia viajar, nós combinamos que ele só iria para estrada depois que eu me formasse”, recorda.

“Me formei em Direito em dezembro de 2017 e em 2018 ele voltou pra estrada. De imediato, eu não fui viajar direto com ele porque eu tinha uma açaíteria e não podia fechar ela do nada. Fiquei um ano mais ou menos me planejando pra largar tudo e encarar a vida na estrada. Em 2018 foi a minha primeira viagem com ele, durou 2 semanas e foi a partir dessa viagem que eu realmente decidi que queria viver essa experiência na estrada”, diz Manu.

A partir de 2019, as viagens se tornaram frequentes, e daí nasceu a pequena Manu, hoje com 3 anos. “De 2020 até o final de 2022 eu passei praticamente dentro do caminhão com ele. Em 2023 eu dei uma pausa nas viagens pra ajudar a cuidar da minha vózinha, que aliás virou estrelinha agora em janeiro de 2024. E agora estou de volta no tapetão (é como chamamos as estradas) por tempo indeterminado”, revela.

Rotina é não ter rotina

Apesar de amar tudo que envolve a vida de caminhoneiro, ela conta que não dirige o veículo de grande porte. “Só carro pequeno mesmo. Embora ame e admite muito essa profissão, eu sou muito medrosa, acho que é por isso que eu admiro tanto os motoristas caminhoneiros, porque não é pra qualquer um não”, afirma.

E como é a vida na estrada? Segundo Emanuelle, a rotina é não ter rotina. “Não tem carga certa e nem rota fixa, meu marido vai onde está os melhores fretes, carrega tudo que dá pra carregar em um caminhão graneleiro, cargas a granel, paletizadas, em bags e por aí vai… Por não ter rotina e nem rota, ele passa muito tempo longe, já chegou a ficar 7 meses sem ir pra casa. Claro que nesses momentos eu estou junto, mas ele viajando sozinho já chegou a mais de 90 dias. A distância também foi um aliado para decidirmos viver juntos na estrada”, ressalta.

Família de caminhoneiros inspira pessoas - (Fotos: Arquivo Pessoal)
Família de caminhoneiros inspira pessoas – (Fotos: Arquivo Pessoal)

Na companhia da filha, o casal tem servido de inspiração para muitas “Cristais” e “Tubarões” pelo Brasil. Não à toa somam mais de 300 mil seguidores em todas as redes sociais. Mas a presença da pequena Maya, sempre no “tapetão” com os pais, faz Manu responder algumas dúvidas com frequência.

“Ela ama viajar com a gente. Quando ficamos muito tempo em casa, ela já fica pedindo pra ligar pro papai pra vir buscar ela pra viajar de caminhão. Muita gente comenta do risco, mas risco a gente corre em qualquer lugar, fora que tomamos todas as medidas de segurança no transporte e prefiro oferecer a ela momentos incríveis e oportunidades de conhecer o país, do que privar ela da convivência com o pai e dos lugares maravilhosos que conhecemos”, responde a mãe.

Com menos de 4 anos, Maya já conheceu o Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Brasília, São Paulo, Paraná, e Rio Grande do Sul. “E ao contrário do que muita gente pensa, não apenas passamos pela BR desses Estados, sempre procuramos dar uma paradinha e levar ela em uma praça, parque, shopping, ponto turístico, sorveteira, qualquer lugar que quebre aquela rotina de trabalho e deixe as viagens mais gostosas e leves pra ela, aliás pra nós três”, ressalta.

Outra coisa que muitos querem saber é se Maya vai ficar sempre viajando. Em relação a isso, a mãe esclarece que a pequena ficará na estrada “o tempo que der”. “A Maya acabou de fazer 3 anos. Temos 2024 pra aproveitar com ela. Quando chegar a hora de ir pra escola ela vai”, garante.

Manu afirma ser "Cristal com Orgulho" e ama viver na estrada - (Fotos: Arquivo Pessoal)
Manu afirma ser “Cristal com Orgulho” e ama viver na estrada – (Fotos: Arquivo Pessoal)

“Agem como se não precisassem”, diz Manu sobre a sociedade com os caminhoneiros

Apaixonados, Manu e Maikon não só amam como buscam a valorização da vida de caminhoneiro e detestam quando alguém faz pouco caso ou expõe preconceitos com a profissão. “As pessoas agem com os caminhoneiros como se não precisassem deles”, lamenta ela.

“Tento levar conscientização da importância do profissional caminhoneiro para nossa sociedade, afinal tudo que temos já passou por dentro de um caminhão ou pelas mãos de um caminhoneiro”, encerra a “Cristal”.

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