Dia do Gaúcho celebra e difunde a cultura do povo que escolheu MS como lar

Marcado por desfiles em todo o país e extensas programações culturais que enaltecem as tradições sulistas, o Dia do Gaúcho é celebrado no dia 20 de setembro

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(Arquivo Pessoal)

Seja na gastronomia, música ou estilo de vida, não podemos negar a influência que a cultura gaúcha exerce em nosso Estado, antes mesmo até da separação entre MT e MS. Tanto, que até o primeiro governador de Mato Grosso do Sul, Harry Amorim da Costa, era gaúcho.

Marcado por desfiles em todo o país e extensas programações culturais que enaltecem as tradições sulistas, o Dia do Gaúcho é celebrado no dia 20 de setembro, recordando a Revolução Farroupilha, que começou em 1835.

O que aconteceu no dia 20 de setembro?

Em 1835, a data foi marcada pelo início da Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. O movimento lutava contra o poder imperial do Brasil e era organizado pela elite gaúcha que estava insatisfeita com a política fiscal do governo brasileiro da época.

Ou seja, o Dia do Gaúcho é uma homenagem a um dos episódios históricos mais importantes para a comunidade gaúcha.

Migração gaúcha para o MS

A origem da ocupação do sul de Mato Grosso, segundo o professor e historiador Eronildo Barbosa, começou no ano de 1895, após a Revolução Federalista, que demonstrou a divisão entre dois grupos: os maragatos (federalistas) e os pica-paus (republicanos).

Estes dois grupos tinham posições políticas divergentes. Enquanto um defendia a descentralização do poder, o outro, o fortalecimento do presidente da República.

Em 1895, quando a revolução chegou ao fim com a vitória dos republicanos, uma disputa municipal intensa começou e muitas famílias, que eram amigas, começaram a brigar. Como o clima nas cidades já não era amistoso mais, muitos decidiram procurar outras regiões para morar, entre elas, o até então estado de Mato Grosso.

Os desafios da mudança

Naquela época, o sul do estado era ocupado pela Matta Larangeira e, embora as terras fossem do estado, eles criavam suas próprias políticas, tinham as próprias polícias, seus interesses comerciais e impediam a chegada de qualquer outro grupo ao território.

Com este contexto, é claro que os gaúchos não foram recebidos de forma muito amistosa. Após seis meses percorrendo o Rio Grande do Sul, Uruguai, a Argentina e o Paraguai, eles tiveram que encarar uma disputa territorial para conseguir terras para produzir e trabalhar. No início da migração, a região de Dourados foi a que mais recebeu as famílias gaúchas.

Catástrofe climática traz novos gaúchos para o centro-oeste

Na década de 60, uma nevasca intensa atingiu o sul do país. A cidade inteira ficou coberta de neve e foi necessário enviar socorro com mantimentos jogados por aviões para ajudar os moradores que estavam completamente isolados.

Os termômetros chegaram a marcar -9°C e as estradas ficaram completamente bloqueadas. Com isso, o prejuízo econômico foi muito grande.

Como os gaúchos tinham capacidade de investimento e as terras no sul de Mato Grosso eram baratas, após a nevasca, muitas famílias decidiram se mudar para cá.

E como muitos tinham condições de investir, eles começaram a ocupar terras importantes do estado, já não mais na fronteira, como Coxim, São Gabriel do Oeste e Chapadão do Sul.

O impacto da migração na cultura sul-mato-grossense

A vinda dos gaúchos para o estado impactou diretamente a cultura de Mato Grosso do Sul.

Eles tinham uma estrutura financeira e econômica muito desenvolvida. Seus trabalhos eram modernos e já trabalhavam em cooperativas e então, em 1962, decidiram montar o primeiro CTG de MS, como forma de manter suas raízes culturais preservadas.

É graças aos gaúchos que a cultura do chimarrão e do churrasco foi tão difundida em todo o estado.

E como é a vida de um gaúcho em solo sul-mato-grossense?

Com o chimarrão em mãos, João Ermelino de Mello, sua esposa Carmen Beatriz Kraemer e a filha mais velha do casal, Cibele Kraemer de Mello, deixaram a região de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e vieram direto a São Gabriel do Oeste, em Mato Grosso do Sul, no ano de 1978.

Aqui o casal teve mais duas filhas. Em 1979, nascia Aline Kraemer de Mello e em 1985, quando já estavam há dois anos em Campo Grande, tiveram a terceira filha, Laura Kraemer de Mello.

Chegando na capital, a família se integrou ao CTG Tropeiros da Querência e nas comemorações de 100 anos de Campo Grande, inauguraram o busto do primeiro governador de Mato Grosso do Sul, Harry Amorim da Costa, que também era gaúcho. É, no local onde está o busto, inclusive, que o candeeiro farroupilha é acendido no início da Semana Farroupilha. Segundo João Ermelino, o acendimento representa a transmissão do conhecimento aos jovens.

João Ermelino na inauguração do busto do 1º governador de MS. (Arquivo Pessoal)

E como foi a recepção dos sul-mato-grossenses?

Sobre como foram recebidos no estado, João Ermelino conta que foi ótimo e os moradores deixaram eles muito a vontade. “Como gaúchos, não vivemos sem uma vida social ativa. Nos comunicávamos facilmente, fazendo novos amigos. Quando não temos um evento, inventamos um motivo para convidar amigos e fazer um churrasco ou uma roda de chimarrão”, conta ele.

Já sobre o dia a dia entre o gaúcho e o sul-mato-grossense, ele explica: “Às vezes não entendia algumas palavras e também não éramos entendidos no que falávamos. Ainda hoje acontece, principalmente com a alimentação”, explica.

“Uma das minhas netas, de 5 anos, a Catarina, foi passar o dia com uma coleguinha de colégio e na hora da merenda (RS) ou quebra torto (MS), a mãe da coleguinha perguntou o que ela comeria. Prontamente Catarina respondeu: ‘pon com chimia de uva e nata’, que significa pão com geleia de uva e nata. O convívio com os avós de origem alemã (Khol e Kraemer), mantém o sotaque”, conta João.

“No geral temos muitas coisas em comum com os sul-mato-grossenses, como a lida campeira. Só na agricultura que difere bastante”, finaliza.

Comemoração no CTG Tropeiros da Querência. (Arquivo Pessoal)

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