A enfermeira Maria Amelia da Costa Rech, de 69 anos, teve a vida desacelerada em 2021, quando em meio a pandemia precisou ser afastada da linha de frente por ser do grupo de risco. 

A correria entre pacientes em uma unidade de saúde de Campo Grande foi substituída pela calmaria de casa, mas em uma semana ela reconheceu que não daria certo ficar parada. 

Um dos três filhos sugeriu que fizesse macramê, uma técnica de tecelagem milenar que ao longo do tempo viveu entre sucessos e esquecimentos e que voltou a ficar em alta durante a pandemia. 

As mãos de Amelia acostumadas a cuidar de pacientes voltaram-se para os fios usados no macramê e começaram a fazer os nós que, juntos, formam guirlandas, folhas, painéis, chaveiros, suporte para plantas e outros objetos de decoração. 

Um dos significados para o nome Amelia é “trabalhadora” ou “ativa” e, a cada nova peça e aprendizado, a mulher apaixonava-se mais pelo trabalho manual. 

Amelia é enfermeira aposentada há mais de dez anos, mas continuou na ativa até dois anos atrás porque gostava da rotina de trabalho.

Youtube ajudou

Com a ajuda de tutoriais do YouTube, ela aprendeu a fazer os trançados básicos, como o nó de laçada e o nó DNA, e começou a se aventurar experimentando as técnicas do macramê.

“O macramê te preenche o tempo, dá prazer e traz paz. Você tem condições de criar, de desenvolver, é apaixonante e quase sem custo praticamente porque você só usa a mão e o fio. Não tem agulha, é uma arte puramente manual, eu acho fantástico”, ela conta.

Foto: Henrique Arakaki | Midiamax

Puxando pela memória de infância, Amélia relembra que a mãe era habilidosa com o tricô e bordado, mas ela mesma nunca tinha experimentado nenhum tipo de artesanato até a chegada da pandemia. 

“Eu sabia que tinha alguma habilidade, mas com o macramê fiquei espantada porque criei tantas coisas, foi uma descoberta fantástica”, relata. 

Ela conta que hoje uma criação pode levar de 20 minutos, no caso de uma pulseira, a até três dias para painéis. 

Já sobre os preços, um chaveiro pode custar R$ 20, enquanto peças mais trabalhadas podem custar até R$ 400. O valor é estabelecido conforme a quantidade de horas necessárias para a confecção do produto e o preço que gastou com o cordão.

“Eu cobro um pouquinho de energia e da internet, coisas assim. Agora eu não cobro gasolina para comprar, nada disso. Então, minha precificação é uma coisa muito simples”, explica.

Feiras

Amelia ficou tão envolvida com a produção que até perdeu a conta de quantas peças confeccionou nesses dois anos. O filho vendo tantas criações sugeriu que a mãe comercializasse os produtos em feiras. 

Assim, Amelia e o marido Renato, que a ajuda com a organização e vendas, começaram a participar das mostras pelos bairros da Capital. A primeira foi a que é organizada pela Semed (Secretaria Municipal de Educação) e depois expandiu o roteiro para outras feiras, como a do Bosque da Paz, Praça do Peixe, “Mixturô” e Coopharadio.

“Comecei a fazer feiras e estou encantada porque é tão bom conhecer pessoas e as que passam ali muito poucos conhecem o macramê e como usar ou onde colocar a peça. Agora as pessoas falam ‘quero colocar na minha parede’”, ela comemora. 

Foto: Henrique Arakaki | Midiamax

A enfermeira aposentada viu nas feiras a oportunidade para voltar a ter contato com outras pessoas depois que precisou ficar isolada durante a pandemia. Com as feiras, Amelia pôde voltar a restabelecer ligações com terceiros que ficaram adormecidas depois que precisou se afastar dos atendimentos e dos pacientes. 

Entre risos, recorda-se da vez em que choveu durante uma feira do Bosque da Paz e ela e o marido chegaram ensopados em casa. O que poderia ser aborrecimento, para ela é uma lembrança feliz graças ao macramê. 

“Eu só trabalho quando eu estou bem porque as minhas peças têm que levar minha energia positiva e as pessoas me dão esse feedback. ‘Amélia, a tua peça me traz felicidade, alegria, ela tem uma harmonia, me dá paz’. Então, é isso que eu quero, que leve essa energia positiva pra dentro da casa das pessoas”, ela se orgulha. 

Para os interessados em conhecer o trabalho de Amelia com o macramê, o Instagram da loja é @donnaameliamacrame.