“É muito bom conversar com gente que é da gente”, resumiu a aposentada, de 72 anos, Air Jerônima dos Santos, moradora da Comunidade Tia Eva. Ela respondeu o Censo Demográfico deste ano, aplicado por uma recenseadora que também reside no bairro. A descente de quilombolas Tatiane Martins Penha, de 39 anos, foi a responsável por aplicar, pela primeira vez, o questionário desta edição na comunidade, que traz perguntas específicas sobre estes povos tradicionais.  

Tati, como é conhecida, trabalha como megarrista em um que tem com a irmã, na comunidade Tia Eva, na Rua Eva Maria de Jesus, nº 141, a principal do bairro. No local, atende fazendo penteados e tranças em moradores e pessoas de outras regiões de

Quando viu o concurso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), no entanto, resolveu se candidatar para “fazer algo diferente”, só que jamais imaginou que seria chamada para trabalhar na comunidade em que vive. Descendente de quilombolas, conta que ficou muito feliz com a notícia da convocação na semana passada, no dia 5 de setembro.

Rua onde recenseadora possui salão e também vai falar com moradores. (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
Rua onde recenseadora possui salão e também vai falar com moradores. (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

“O fato de eu ser daqui vai abrir as portas. Muitas pessoas ficam desconfiadas com golpes e isso é uma facilidade. Eu posso ir até mais tarde na casa das pessoas e tenho certeza que assim será mais fácil”, ela acredita.

Ela começou o trabalho como recenseadora na manhã desta terça-feira (13) e a primeira entrevistada foi a senhora Air. “Achei muito interessante ter ela como recenseadora porque ela sempre está por aqui”, contou a aposentada. 

Segundo o presidente da ADTiaEva (Associação dos Descendentes da Tia Eva), Ronaldo Jefferson da Silva, é esperado que 150 famílias sejam entrevistadas, chegando a cerca de 500 pessoas. Sylvia Oliveira, gerente técnica do , relembra que o último censo na comunidade foi feito em 2010 e apontava 320 pessoas no local. 

Tatiane Martins Penha começou a trabalhar nesta terça-feira como recenseadora do IBGE. (Foto: Marcos Ermínio/ Midiamax)

Nesta edição da maior pesquisa do país, foram realizadas setorizações para que possam ser obtidos dados específicos sobre as comunidades quilombolas pela primeira vez. tem 22 comunidades quilombolas e na Capital são 3, localizadas na Chácara Buriti, São João Batista e na Tia Eva. 

“Nós tivemos um dia de treinamento especial e procuramos sempre ter recenseadores que moram ou têm origem quilombola para facilitar a receptividade, pois são pessoas que já conhecem os costumes. Além das comunidades, nós também perguntamos se a pessoa se considera quilombola em áreas de interesse operacional, que são próximas a comunidades ou em locais que temos registros de descentes”, explica a gerente técnica do IBGE. 

Tati juntamente com outros recenseadores e a subsecretária, na comunidade Tia Eva. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax
Tati juntamente com outros recenseadores e a subsecretária, na comunidade Tia Eva. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax