Repente vira Patrimônio Nacional e MS tem sua própria marca nessa arte: Improviso Guaicuru

Repentista de MS, Ruberval Cunha fez um improviso guaicuru especialmente para a reportagem

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Ruberval criou modalidade de repente sul-mato-grossense
Ruberval criou modalidade de repente sul-mato-grossense

Ruberval Cunha, poeta repentista, ator performático, palestrante e contador de histórias tem 33 anos de experiência na área cultural, e há cerca de 28 atua com a ideia do repente. Representante dessa arte em Mato Grosso do Sul, o artista e funcionário público ficou muito feliz quando soube que o repente foi reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro.

O MidiaMAIS convidou o repentista para comentar a atuação e o engajamento dessa cultura em MS. “Podemos falar da participação de repentistas convidados em festas e eventos, como por exemplo a festa da Farinha, em Anastácio. Fora isso, eu costumo, quando consigo conciliar com meu tempo de trabalho como servidor público, fazer apresentações de repentes também em alguns locais, aberturas de eventos, participações online, mas com uma distinção: o meu tipo de repente, de improviso, é diferente do repente nordestino e da tropa gauchesca. Eu passei a adotar o nome de “improviso guaicuri”, que foi dado pelo amigo e escritor Rubênio Marcelo”, conta ele.

Ruberval explica que há diferenças entre os estilos, e tudo muda se estamos falando do repente tradicional cantado, como por exemplo o repente nordestino, ou se estamos falando da modalidade de repente que ele desenvolveu aqui em Mato Grosso do Sul.

“Se tratando desses eventos que são mais cantados, eles costumam ficar mais atidos a espaços em Instituições típicas que as vezes trazem esses repentistas para participar de algum evento específico. No meu caso, com o “improviso guaicuru”, eu já tenho uma gama maior de atuação. Então eu já fiz eventos de naturezas diversas. Que levou sua arte até a políticos de Brasília e pelo país, contemplando Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, como exemplos”, pontua.

Ele acredita que “falta um incentivo ainda maior” para a disseminação da arte em MS. “Mas, não podemos reclamar, porque eu acho que cada categoria vai conseguindo seu espaço mediante o envolvimento das pessoas. Graças a Deus, o retorno, em termos de críticas das pessoas, tem sido muito bom. Inclusive, com o retorno de algumas pessoas que são reconhecidas no cenário nacional. Pode melhorar? Sempre pode melhorar, tanto na esfera pública quanto privada. Mas a aceitação das pessoas com relação a isso é muito boa, é gratificante”, comenta.

Saber que o repente virou Patrimônio Cultural do País, segundo Ruberval, deixa todos envolvidos com o campo da cultura felizes. “Pode servir como uma mola propulsora, para que essa questão tenha visibilidade e também incentivo das pessoas, porque quando você tem algo neste nível de reconhecimento, você acaba tendo algo que também dá subsídios pra essa modalidade cultural. Eu fiquei extremamente feliz. Acredito que a literatura e os repentistas, como um todo, estão da mesma forma, se sentindo gratificados com esse reconhecimento”, afirma.

Improviso Guaicuru

Ruberval ressalta que existem várias modalidades, até mesmo no repente nordestino. “E o nosso repente, o que eu desenvolvi, é bastante diferente. Eu utilizo o discurso poético, o improviso – que é o repente propriamente dito – alguns elementos do teatro como figurino, maquiagem… e, de vez em quando, pra marcar essa nossa questão, sempre que eu posso, utilizo o berrante ou algum outro instrumento, mas não como um acompanhamento fixo. O meu repente não é cantado. Ele está mais próximo do discurso poético, ocupando os espaços cênicos e aquilo que nos cerca, com a co-participação do público”, explica, sobre o improviso guaicuru.

Normalmente, os repentes nordestinos têm os motes e os desafios. No caso do improviso, segundo Ruberval, ele oferece diversas palavras, tentando trabalhar um tema específico. Inspirado e cheio de talento, o repentista improvisou rapidamente, especialmente para a reportagem, sobre o reconhecimento como patrimônio.

“Um presente
O repente, agora, é Patrimônio Cultural Nacional
As palavras que voam ressoam em nós
dão voz a cada instante
O antes e o agora
A gente comemora
Sabendo que a palavra fluída ganha vida
Entre o hoje e o amanhã
As lembranças do reconhecimento do Iphan
Se acrescente
A cada dia um novo repente
Porque a vida em palavras
Voa livremente
Para fazer feliz a imagem da gente
O grito lançado no céu
É azul
O repente também voa nas palavras
Em Mato Grosso do Sul”

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