Modelos internacionais, desfiles, estilistas e produções marcam novo momento da moda em MS
Conheça o mercado de moda sul-mato-grossense que está conquistando novos horizontes
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Mato Grosso do Sul tem moda? Por vezes longe dos holofotes da grande mídia, o que poucos sabem – ou estão começando a ver agora – é que existe uma grande movimentação do mercado fashion aqui. Um novo setor em ascensão? Muito pelo ao contrário. A moda no Estado tem se desenvolvido há muito tempo, mas agora está vivendo um borbulhar de produções, coleções, editoriais, modelos internacionais e projetos. Dos profissionais consagrados aos novos talentos, resultados marcam um novo olhar para a moda sul-mato-grossense.
É verdade que Campo Grande não está no mesmo nível de investimentos em moda como os grandes polos, mas o stylist, editor e produtor de moda Anderson Alves afirma que é uma realidade brasileira, com exceção do eixo central do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, onde o setor é intenso. Mesmo assim, a capital tem muito potencial de crescimento.
“Nós temos ótimos talentos, eu acho que moda pode avançar muito. Nós somos uma Capital, a gente tem como avançar. Nós não temos uma cultura forte na moda ainda, mas temos como avançar para um futuro muito mais promissor em relação à moda, a estilistas, marcas e produções”, comenta.
Encabeçado de vários projetos na cidade, Anderson sempre está à frente de editoriais de moda, desfiles – que foram suspensos por causa da pandemia – tem uma agência de modelos e recentemente fundou a Local Magazine, revista de Campo Grande segmentada em moda. Para ele, fomentar a moda com qualidade no Estado é essencial para que ela seja vista e reconhecida. “Tem que estar buscando sempre evoluir para poder ter esse crescimento”, afirmou o stylist.
Mercado de moda em MS
Para fazer um panorama de como funciona o mercado de moda em MS, o Midiamax foi atrás de estilistas de renome que consagraram os seus nomes ao longo dos anos. Anderson Bosh, de 48 anos, completa 32 anos de carreira desde a sua primeira confecção de figurino.
Foi no teatro que o trabalho do estilista começou e, então, ingressou no universo artístico com produções de peças e figurinos para teatro, circo, cinema, música e moda social. Um caminho de autodescoberta, uma vez que o desenho foi a sua primeira manifestação artística.
“A moda foi a maneira que encontrei de expressar minha sexualidade e pensamento artístico. Ainda muito cedo aos 9 anos de idade comecei a desenhar as minhas próprias roupas que minha mãe costurava. Eu desenhava roupas que identificassem minha sexualidade uma vez que eu um homem intersexo era constantemente confundido com uma menina. A moda me mostrou que eu podia falar e assim me apaixonei por ela.”
Questionado sobre o mercado de moda em MS, Anderson afirma que é um negócio rentável. Atualmente trabalhando na criação e conceito das roupas, ele conta com uma equipe de costureiras para a confecção de peças artísticas ou sociais. E seu ramo de atuação é Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Com vários criadores na capital sul-mato-grossense, ele diz que a moda pode chegar muito longe. “Isso é um sinal de o estado é um bom nicho sim de proposição, desenvolvimento e comercialização da moda”.
Outra referência importantíssima que temos aqui é o estilista e produtor de moda Luiz Gugliatto, 57 anos. Há 35 anos trabalhando com moda, sempre está trazendo novidades para Campo Grande. Recentemente, ele lançou a coleção Denim Lovers, a partir da reutilização criativa de jeans que conversam com as atuais necessidades do mercado.
“Trabalho com moda há 35 anos e reutilizar não é algo novo para mim. Nos anos 2000 eu fiz uma coleção onde aproveitei calças retas para transformá-las em pantalonas e jaquetas. Faz alguns anos que não aventurava em criar uma coleção, aí veio a pandemia que zerou meu ofício que atualmente era produção de figurinos, desfiles e campanhas publicitárias”, contou o produtor de moda.
O jeans é atemporal, mas Gugliatto deu ainda mais vida a ele. O resultado não poderia ser nada menos do que ousado, bonito, com recortes impecáveis e estilos que fogem do ‘basicão’ encontrados nas lojas. São trabalhos assim mostram como tem profissionais encabeçados em desenvolverem uma moda série em Mato Grosso do Sul.
Nós também conversamos com o personal stylist Edson Almeida, que está à frente do Almeida Store há 5 anos. E para quem acha que moda é um setor que atende apenas as mulheres, está enganado.
Foi no público masculino que Edson construiu uma base consolidada de clientes em Campo Grande, onde tem seu showroom. O sucesso dos seus serviços ultrapassaou o território sul-mato-grossense e o personal também atende pessoas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Porto Alegre.
“Para cada dez lojas femininas que você vê uma perto da outra, você vai encontrar uma ou duas masculinas. Então o meu público é bem específico. É um público que consome moda, que está antenado com o que está acontecendo fora, as principais tendências e se adequa cada um a seu estilo”, explicou.
Cuidar da imagem pessoal tem se tornado uma prioridade nos últimos anos e essa realidade não passou longe de Campo Grande. Em uma capital que pode colher bons frutos para o setor de moda. “A gente tem muita gente capacitada, muita gente talentosa, só precisa ser uma área mais explorada”, afirma Edson Almeida.
Daqui para o mundo
Já deu para perceber que todo mundo que mencionamos aqui, até agora, trabalha em Campo Grande, mas tem uma ampla rede de clientes Brasil a fora, né? Mas e aquelas pessoas que consagraram o seu nome na Capital e depois abriram as asas para conquistar o mundo?
É o caso da estilista Claudia Ferraz, mais conhecida pela sua marca Kakô. De Campo Grande, hoje ela trabalha em São Paulo como Diretora Criativa e Coordenadora de Estilo, carregando na bagagem 20 anos de experiência em varejo, atacado e desfile.
Kakô é uma marca de roupas liderada por Claudia. Ela conta com uma equipe composta por sua mãe, artista plástica que desenha as estampas, uma designer gráfica, duas modelistas, duas costureiras e especialistas em digital. Há 1 ano no mercado, o público se concentra entre mulheres de 30 a 80 anos que prezam por exclusividade, e moram em Campo Grande e São Paulo.
Nesse “vai e vem” entre as capitais, Claudia revela que os trabalhos são diferentes em ambos os lugares. Enquanto na capital paulista fica encarregada de trabalhos para grandes marcas conforme o ritmo da indústria, em Campo Grande só trabalha com sua marca. Às vezes, desenha para nomes locais.
“O mercado em Campo Grande é excelente, seja para varejo, lojas, quanto para marcas locais que saibam trabalhar bem seu produto e marketing”, comenta.
Na opinião de Claudia, os lojistas daqui precisam dar mais espaços às marcas regionais, enquanto os consumidores precisam fazer o mesmo, uma vez que é uma tendência de consumo – comprar o que é da sua região – para aumentar mais a visibilidade dos profissionais. Além disso, ela acredita que os empresários precisam capacitar os colaboradores para expandir o seu negócio.
“Sempre fui fã de Campo Grande, vanguarda da música eletrônica na minha geração, para quem tem bom gosto não existe moda e sim estilo e consciência do seu corpo e do momento que vivemos”, completa.
E não apenas Claudia que trilhou seu caminho em novos horizontes. Mato Grosso do Sul tem grandes profissionais que hoje, inclusive, trabalham no exterior. É o caso do editor de moda Lucio Fonseca, que já dirigiu editoriais de moda em revistas nacionais e internacionais, como Vogue, GQ, Glamour, L’Officiel e Harper’s Bazaar. Além disso, constantemente atende o mercado europeu e asiático.
Quer mais? Temos também o estilista Lucas Nascimento, natural de Bonito, que foi destaque do São Paulo Fashion Week como uma das maiores revelações do tricô. Atualmente, ele lidera sua própria marca na Inglaterra.
Modelos internacionais
E você sabia que Mato Grosso do Sul também tem modelos internacionais que hoje ocupam o olimpo da moda mundial? Kerolyn Soares Santana, de Naviraí, já desfilou para grandes nomes como: Prada, Versace, Max Mara, Missoni, Lanvin e Jil Sander, além de abrir os desfiles (honra para as melhores modelos) da Nina Ricci e da francesa Hermès.
- Thaysse Ricci: já figurou campanhas de Reinaldo Lourenço e mais de 15 desfiles no New York Fashion Week;
- Tony Dias: ficou entre os 50 melhores modelos masculinos do mundo, já fotografou com os principais fotógrafos de moda, como Mario Testino e Steven Klein. Também participou de campanhas da Givenchy e Yves Saint Laurent, por exemplo.
- Outros nomes para ficar de olho: Sidney Sampaio, Linda Helena, Priscila Uchôa e Ale Pinezzi.
Incentivo
Apesar de tudo isso, ainda existe uma falta de investimentos no setor de moda como cultura no Estado. O segmento, por vezes, é esquecido. No ano passado, foi criado o primeiro Colegiado de Design e Moda em Campo Grande, com intuito de ser a linha de frente em busca de incentivos para o setor na cidade.
O projeto foi liderado por Bosh e Gugliatto. “Tivemos que pegar um por um e colocar no grupo, fazendo uma tarefa de formiguinha. Conscientizando da importância e das possíveis conquistas. Hoje é uma realidade, temos representação e editais específicos de moda na capital e no estado”, afirmou Anderson.
Novos talentos
Já mostramos aqui um panorama completo dos profissionais consagrados de moda na Capital, os que saíram daqui para trabalhar em outros lugares e também modelos internacionais que carregam a história de MS no sangue. Mas afinal, nós temos novos talentos na moda? E a resposta é sim! Desde o início do ano, o Midiamax vem trazendo estilistas e coleções que estão encantando o público.
Nathany Gimenez, que cria peças para MC’s do Brasil; Wederck Himoto, que tem uma marca de acessórios que fazem referência às práticas de BDSM; Fábio Torino, que tem um trabalho muito bacana na confecção de saias maculinas. Esse ano, ainda conversamos com o Fábio Maurício sobre a sua coleção upcycling Lírio Selvagem e com Nair, que fez a coleção “Da Terra”. Assim vemos o quanto Mato Grosso do Sul, a terra do agro e da cultura sertaneja, está abrindo portas para novas manifestações culturais e de moda que se mostram fortes a cada dia.
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